Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Just do it! Uma história fantástica de empreendedorismo

O Blog do Empreendedor, no Estadão, contou nesta quinta a resumida história de Phil Knight, o fundador da Nike. É, de fato, muito inspiradora e interessante, pois nos permite compreender alguns itens cruciais do empreendedorismo, com frequência ignorados. São eles:

- para empreender, não é preciso ter grande soma de capital inicial; vários empreendedores de sucesso partiram praticamente do nada, em garagens (Vale do Silício), com pouco mais de mil dólares ou até menos, o que derruba aquela típica imagem do sistema capitalista como instrumento de proteção do status quo de quem já possui muito dinheiro;

- a liberdade econômica é fundamental, incluindo o livre comércio; Knight só foi capaz de criar a Nike porque trouxe com facilidade os produtos importados do Japão no começo, ou seja, em um ambiente com protecionismo comercial e forte nacionalismo, ele não teria prosperado;

- a burocracia é um grande entrave ao empreendedorismo; se Knight tivesse se deparado com uma enorme quantidade de papelada burocrática para abrir sua empresa, contratar seus funcionários e praticar seu comércio, a Nike não teria nascido ou chegado ao seu tamanho atual; a facilidade em se fazer negócios e a flexibilidade trabalhista ajudam o empreendedor;

- o empreendedorismo e o capitalismo não são, de forma alguma, incompatíveis ou antagônicos ao altruísmo; ao contrário: é seu sucesso que permite a filantropia, como vimos no caso de Knight, que doou mais de US$ 100 milhões para a instituição que o inspirou a ousar e arriscar em prol de seus sonhos.

Segue abaixo um artigo meu sobre empreendedorismo com base em livro de Israel Kirzner:

O Empreendedor Alerta

“A economia de mercado tem sido denominada democracia dos consumidores, por determinar através de uma votação diária quais são suas preferências.” (Mises)

A teoria ortodoxa de mercado e do sistema de preços costuma enfatizar a análise de equilíbrio, assumindo as curvas de oferta e demanda como dadas. Insatisfeito com esta postura, que apresenta graves deficiências, o professor de economia da New York University, Israel M. Kirzner, escreveu um excelente livro defendendo a substituição dessa visão de equilíbrio por uma que encara o mercado como um processo, seguindo a perspectiva austríaca.

Em Competition & Entrepreneurship, Kirzner apresenta uma teoria de preços que ajuda na compreensão de como as decisões individuais ocorrem e mudam, automaticamente alterando as demais decisões no mercado. A eficiência dessa teoria não depende de uma alocação “ótima” dos recursos em equilíbrio, mas sim do sucesso das forças de mercado para gerar correções espontâneas nos padrões de alocação durante as fases de desequilíbrio. Entender o processo do mercado exige uma noção de competição inseparável daquela exercida pelo empreendedor.

A ignorância acerca das decisões que os outros estão para tomar costuma levar à escolha de planos inadequados por parte dos tomadores de decisões. No processo de mercado desencadeado após suas escolhas, novas informações são adquiridas sobre os planos dos outros agentes, o que gera uma revisão nas decisões antes tomadas. As decisões feitas em um período de tempo geram alterações sistemáticas nas decisões correspondentes para o período seguinte. Essas séries de mudanças interligadas nas decisões constituem o processo do mercado.

Este processo é inerentemente competitivo. Em cada momento, há a descoberta de novas informações antes não disponíveis, gerando novas oportunidades. No esforço de ficarem à frente dos competidores, os participantes são forçados a buscar uma interação cada vez mais hábil dentro de seus limites. A confiança na habilidade do mercado de aprender com a experiência e gerar um fluxo contínuo de informação que permite o processo de aperfeiçoamento depende da presença do empreendedor.

Segundo Kirzner, a função do empreendedor será justamente aproveitar as oportunidades criadas pela ignorância existente no processo do mercado. Se houvesse onisciência não haveria necessidade de empreendedores. Será a figura do empreendedor que perceberá as oportunidades existentes de lucro. Este empreendedor não precisa ser um proprietário dos recursos para produção. Ele simplesmente saberá onde comprar os recursos por um preço que será vantajoso produzir e vender um determinado produto. Seu valor vem da descoberta dessa oportunidade existente e não explorada ainda.

Em uma situação de equilíbrio de mercado não há espaço para a atividade empreendedora, neste sentido, pois não há ignorância ou falta de coordenação entre os agentes. É a ineficiência existente na realidade que permite uma realocação dos recursos por parte desses empreendedores, tornando o resultado mais eficiente. O empreendedor fica alerta para a possibilidade de usos mais eficientes dos recursos, não apenas para as demandas e ofertas existentes, como também para mudanças nelas. Ele deve saber onde as oportunidades inexploradas estão.

Na busca pelo lucro, a ação empreendedora irá reduzir a discrepância entre os preços pagos pelos agentes do mercado. Sua função é similar a de um arbitrador. O empreendedor é aquele alerta às informações que o mercado gera continuamente, fazendo ajustes que resultam da ignorância existente no mercado.

A competição está presente sempre que não há impedimento arbitrário para novos entrantes. Enquanto os outros forem livres para oferecer oportunidades mais atrativas aos consumidores, ninguém está isento da necessidade de competir. Portanto, toda barreira arbitrária à entrada de novos participantes é uma restrição na competitividade do processo de mercado. Um monopólio, nesse sentido, não ocorre necessariamente quando existe somente um único produtor de determinado produto, mas sim quando o acesso aos recursos desse mercado é restrito por algum controle arbitrário. É totalmente factível que apenas uma empresa ofereça certo produto sem que esteja desfrutando de uma posição monopolista, pela definição ortodoxa, já que ela sofre do mesmo jeito as pressões competitivas através da livre possibilidade de novos entrantes.

No processo competitivo do mercado, os empreendedores tomam decisões tanto sobre o preço como sobre a qualidade dos produtos. Para Kirzner, portanto, não há distinção entre os custos de produção e de venda de um produto. O empreendedor decide sobre tais variáveis buscando antecipar aquilo que o consumidor irá demandar. Neste processo, faz parte da função do empreendedor fazer com que o consumidor tome conhecimento da existência do produto. O esforço de venda é a tentativa do empreendedor de alertar os consumidores quanto às oportunidades de compra. Sua tarefa não está completa ao levar a informação sobre o produto para os potenciais consumidores: ele deve também se certificar de que os consumidores notaram e absorveram a informação.

Eis a relevância da propaganda, que é parte do mesmo esforço empreendedor. Os críticos da propaganda, vista como um desperdício de recursos pago pelos consumidores, ignoram que ela é parte fundamental do processo competitivo que torna o mercado mais eficiente. Os valores são subjetivos e o conhecimento é imperfeito, fazendo com que a propaganda do produto seja parte crucial do papel do empreendedor. Somente com isso a soberania do consumidor é mantida, já que ele pode decidir sobre suas compras depois que os produtores colocaram as oportunidades diante dele.

Afinal, o processo competitivo consiste numa seleção por tentativa e erro das oportunidades apresentadas aos consumidores, e sem a propaganda os empreendedores ficariam impedidos de oferecer uma vasta gama de opções, através das quais eles podem descobrir o padrão da demanda dos consumidores. Quem condena a propaganda está, então, adotando uma postura arrogante de onisciência, como se pudesse conhecer a priori a demanda dos consumidores.

Mises certa vez disse: “Não é porque existem destilarias que as pessoas bebem uísque; é porque as pessoas bebem uísque que existem destilarias”. No livre mercado, os consumidores são os verdadeiros patrões. São eles que decidem o que será produzido no fundo. Mas para que o funcionamento desse processo contínuo seja eficiente, é necessário contar com a presença dos empreendedores. São eles que, alertas a todas as oportunidades que a ignorância dos agentes e a assimetria de informação criam, fazem com que as preferências dos consumidores sejam realmente atendidas. O maior aliado dos consumidores é o empreendedor, alerta a todas as oportunidades de lucro no mercado competitivo.

Rodrigo Constantino

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