As demissões em massa que afligem trabalhadores da indústria de tecnologia desde o ano passado ainda parecem longe do fim. Só neste começo de 2023, mais de 100 empresas do segmento anunciaram a demissão de 26 mil trabalhadores globalmente, segundo o layoffs.fyi, que monitora desligamentos que têm ocorrido no setor desde meados de 2022.
As más notícias começaram logo nos primeiros dias do ano: no dia 04 de janeiro, a Salesforce, gigante de CRM, disse que 10% da força de trabalho da companhia seria cortada em um novo plano de reestruturação. No dia seguinte, a Amazon afirmou que promoveria 18 mil cortes, a maior rodada de demissões da história da empresa. Nesta quarta-feira (18), foi a vez da Microsoft: 10 mil trabalhadores da companhia serão demitidos até o final do terceiro trimestre fiscal deste ano.
“Estamos vivendo tempos de mudanças significativas e, quando me encontro com clientes e parceiros, algumas coisas ficam claras. Primeiro, enquanto vimos os clientes acelerarem seus gastos digitais durante a pandemia, agora os vemos otimizando seus gastos digitais para fazer mais com menos. Também estamos vendo organizações em todos os setores e geografias agindo com cautela, pois algumas partes do mundo já estão em recessão e outras estão prevendo uma”, escreveu Satya Nadella, CEO da Microsoft, em uma postagem no blog oficial da Microsoft anunciando as demissões.
A onda de cortes também tem afetado empresas no ecossistema brasileiro de tecnologia. Por aqui, o setor de startups parece um dos mais atingidos. Desde o ano passado o segmento viu uma drástica redução de investimentos e tem promovido cortes para equilibrar as contas. O IT Forum contabilizou cerca de 900 demissões em diversas companhias somente ...
“A sensação que eu tenho é que o mercado vai continuar se ajustando, já que nem todas as empresas se ajustaram em 2022. Até então, tínhamos várias empresas capitalizadas e que ainda não tinham certeza se iam conseguir novas rodadas. Aquelas que não conseguiram, provavelmente vão continuar fazendo ajustes”, disse Gustavo Gierun, sócio da Distrito, durante a apresentação do relatório Inside Venture Capital, nesta semana.
Apesar das demissões em massa não darem sinais de que estão chegando ao fim, trabalhadores do setor de TI não vivem a mesma situação delicada. Isso porque os cortes anunciados por empresas de tecnologia ao longo dos últimos meses pouparam, em grande parte, esses trabalhadores – em sua maioria, são os funcionários de setores não-técnicos que vêm sofrendo com os cortes. Nos Estados Unidos, por exemplo, o movimento é o inverso na TI: neste ano, salários de vagas em tecnologia podem aumentar 8%, segundo pesquisa da consultoria Janco Associates.
Isso não significa, no entanto, que esses profissionais não devam estar atentos aos rumos do mercado. Consultores ouvidos pelo IT Forum deixaram bem claro: ainda que os talentos em TI continuarão em alta demanda ao longo de 2023, o novo momento exige cuidado para aqueles que querem continuar desenvolvendo uma carreira de sucesso.
“O mercado já passou e vai continuar passando por uma profissionalização maior. Ele está mais exigente”, disse Lucas Oggiam, diretor do PageGroup, em entrevista ao IT Forum. “Há três ou quatro anos, estávamos em uma fase de ‘vamos apagar os incêndios que nós temos’ – mesmo quem sabia só um pouco era contratado. Mas a gente vê – no último ano e meio, dois anos – um cenário muito mais exigente, que busca a melhor pessoa”.
Esse fenômeno ganhou força especialmente durante os anos mais críticos da pandemia da Covid-19. Em um contexto de alta demanda por digitalização e pouco talento disponível, ganharam espaço no período os chamados ‘business technologists’: profissionais de linhas de negócio, com grande conhecimento sobre sua área de atuação, mas que também estudaram e desenvolveram habilidades de TI para suprir as necessidades de transformação digital de suas empresas. “Os salários destes profissionais são os que mais cresceram”, contou ao IT Forum Kaustav Dey, diretor sênior do Gartner.
Segundo o consultor, ‘tecnologistas de negócios’ são hoje os profissionais mais valorizados pelo mercado e podem se tornar uma ameaça para aqueles profissionais de TI que apostam somente em suas habilidades técnicas. Em paralelo, o avanço de ferramentas de automação com inteligência artificial e ferramentas de low-code e no-code, que permitem que profissionais sem muitos conhecimentos técnicos criem suas próprias soluções e aplicações, também reforçam essa tendência.
“O que aconteceu agora é uma mudança global na forma como você busca por talentos. Os profissionais que estão operando em funções ‘básicas’ de TI não estarão tão seguros como costumavam estar. Se um profissional tem habilidades que podem ser treinadas em três ou seis meses, ninguém vai querer pagar dezenas de milhares de dólares por ele”, completou Dey.
“A mensagem básica aqui é a seguinte: você não pode ser complacente. Qualquer habilidade que você tenha hoje não vai mantê-lo seguro além dos próximos cinco anos. O que acontece agora é que a vida útil de habilidades reduziu drasticamente”, alertou o analista do Gartner. Na prática, o conselho é bem simples para profissionais de TI: mantenha-se atualizado.
O tipo de atualização, é claro, depende da trajetória buscada por cada profissional e pelas suas ambições. Trazendo esse contexto para a realidade brasileira, no entanto, há uma sugestão bastante simples que pode ajudar muitos a alavancarem suas carreiras em TI. “Se esse profissional falar inglês, a vida dele vai ser muito mais fácil”, indicou Oggiam, diretor da consultoria de RH PageGroup.
Dados de uma pesquisa realizada em 2021 pela agência de recrutamento Catho apontaram que a média de aumento salarial é de 83% para aqueles que exercem a língua inglesa frente a profissionais sem fluência no idioma. O mesmo estudo apontou que menos de 3% da população brasileira domina o idioma. “As fronteiras das vagas de tecnologia já foram muito diminuídas e vão continuar diminuindo nos próximos anos”, acrescentou o diretor da PageGroup.
A atualização profissional também não passa apenas pela aquisição de novas habilidades, indicou Oggiam. Investir no desenvolvimento pessoal também é um passo importante para enfrentar os novos desafios do mercado de trabalho do futuro. Além disso, trabalhar nas chamadas ‘soft skills’ – habilidades de comunicação e relacionamento interpessoal – e ser flexível para considerar propostas de emprego diferentes do que o que se busca também serão fatores importantes nos próximos meses.
“O mercado deve passar por uma fase de atualização do que ele espera das pessoas. Algumas empresas que estão hoje desesperadas por pessoas remotas, amanhã poderão pedir que o funcionário venha trabalhar no escritório. A flexibilidade do que você quer e o que é melhor para você tem que ser muito consciente”, disse.
Por fim, o consultor também recomenda construir pontes para avançar no mercado de trabalho – investindo no tradicional ‘networking’. “Para o processo de evolução de carreira, seja em tecnologia ou qualquer outro, valorize e construa um networking de sucesso”, pontuou. “Fazer isso de forma genuína é algo que demora. Então, faça agora para quando você estiver precisando atingir o resultado”, finalizou.
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