Peter Gyde, diretor-geral: "2012 vai ser um ano crítico para a navegação, globalmente, e o Brasil não é uma exceção"
A dinamarquesa Maersk Line, maior empresa de navegação do mundo no transporte de contêineres, está aumentando os fretes marítimos entre o Brasil e diferentes destinos como Europa, Ásia, Oriente Médio e Estados Unidos. Os aumentos se inserem em política de recomposição tarifária que busca tornar o negócio rentável depois de um 2011 em que a empresa registrou prejuízo de US$ 602 milhões em suas operações globais. Os reajustes nos fretes variam de acordo com a rota e os clientes mas, em média, ficam em cerca de 30%.
A situação de dificuldade não é exclusiva da Maersk, mas se estende a outras grandes linhas de contêineres em um cenário que combina excesso de capacidade em relação à demanda e alta de custos. Só o combustível dos navios, o bunker, que representa mais de 40% dos gastos das empresas de navegação, triplicou de preço nos últimos dois anos. "2012 vai ser um ano crítico para a navegação, globalmente, e o Brasil não é uma exceção", diz Peter Gyde, diretor-geral da Maersk Line no país.
A Maersk é a terceira do ranking na navegação de longo curso no Brasil, entre operações de exportação e importação, com cerca de 11% de participação de mercado, em média, em 2011, atrás de MSC e Hamburg Süd. No ano passado, a Maersk transportou 447.373 TEUs no país, sendo 50% na exportação e a outra metade na importação. No mundo, a Maersk transportou 16,2 milhões de TEUs no ano passado, o que lhe garantiu participação de mercado de quase 16%. Gyde diz que a empresa quer crescer no Brasil em linha com o mercado.
As novas tarifas da Maersk começaram a ser implementadas em março em algumas rotas. O frete de exportação para carga seca na linha Brasil-Europa aumentou US$ 300 por contêiner a partir de 1º de março. A partir deste mês, outros aumentos vão entrar em vigor, um deles na rota Ásia-Brasil, para cargas de importação, com alta de US$ 600 por TEU. A Maersk não fala de preços de fretes, mas estimativas de mercado indicam que uma carga do Brasil para Ásia fica em cerca de US$ 1,8 mil por TEU.
Roberto Prudente, diretor de vendas da Maersk para o Brasil, diz que os clientes têm as estatísticas e entendem que os valores cobrados nos fretes são reduzidos se for analisada a série histórica. Gyde acrescenta que o crescimento nos volumes de contêineres no Brasil vem desacelerando. Em 2011, o mercado total de contêineres no país, na navegação de longo curso, entre exportações e importações, cresceu 7%, em média, abaixo dos 20% de 2010 (ver tabela acima). E a perspectiva para 2012 é de um crescimento de 5% sobre o ano anterior.
A Maersk vê um crescimento menor nos volumes de importação e uma recuperação, embora em bases pequenas, na exportação. Em janeiro, o mercado total de contêineres no Brasil, entre exportação e importação, ficou em 316.870 TEUs, com alta de cerca de 4% sobre idêntico mês do ano anterior. Em janeiro de 2011, o crescimento havia sido de 7% sobre janeiro de 2010.
"O crescimento histórico no comércio de contêineres tem sido de três vezes o PIB [Produto Interno Bruto], mas agora está tendendo para duas vezes o PIB", afirma Gyde. A situação é ainda mais crítica quando se combina essa demanda menos vigorosa com uma oferta de capacidade que tem crescido nos navios. Os dois fatores exercem pressão sobre os fretes. E o aumento de custos, resultante da alta do petróleo, reduz a geração de caixa. O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida) da Maersk Line ficou em US$ 1 bilhão em 2011 ante US$ 4,5 bilhões, no ano anterior.
"O que estamos vendo é um excesso de capacidade na Costa Leste da América do Sul, em geral, e no Brasil, em particular", diz Gyde. Segundo ele, novas empresas de navegação de pequeno porte, sobretudo da Ásia, estão entrando em nichos no Brasil e, dessa forma, contribuindo para aumentar a oferta e a pressão sobre o mercado. Como resposta, os grandes armadores vêm fechando parcerias operacionais que consistem em dividir espaço nos navios e, por consequência, reduzir a capacidade disponível.
Gyde estima que já houve um corte de 10% na capacidade na maioria das rotas que serve a Costa Leste da América do Sul. A Maersk, que há dois anos não tinha associações com outros armadores, acertou parcerias nas operações que incluem o Brasil. Fechou acordo com as empresas Hanjin, Cosco e UASC na rota para a Europa. Também assinou parcerias para a Ásia, com os armadores CMA-CGM, CSAV, CSCL e HSUD, e para a América do Norte, com a CMA-CGM.
A redução na capacidade ofertada abre espaço para aumentar os preços dos fretes. Estima-se que hoje cerca de 6% dos navios de contêineres, o equivalente a 913 mil TEUs, esteja parada nos portos. No começo deste ano o percentual era de 3,9%. Em janeiro de 2010, o percentual da frota global parada chegou a 11,7%
Por Valor Econômico - SP - Francisco Góes | Do Rio |
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