Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Marco Stefanini: não podemos criar expectativa exagerada com IA

Grupo Stefanini aposta em IA como ferramenta “transversal” para produtos e serviços, e vê negócios ganhando escala no próximo ano.

Marco Stefanini, fundador e CEO do Grupo Stefanini (Imagem: Divulgação)

Fundador e CEO Global do Grupo Stefanini, Marco Stefanini é um entusiasta do potencial da Inteligência Artificial (IA). Na sua leitura, a tecnologia terá um poder transformador e de geração de negócio similar ao fenômeno da transformação digital de anos atrás – e em ritmo mais acelerado.

Em entrevista ao IT Forum, no entanto, o executivo alertou para o perigo de se “prometer demais” em relação à tecnologia, em especial neste momento de adoção inicial. “É uma solução nova e muito boa. Isso traz uma expectativa exagerada, que depois cai, estabiliza e amadurece. A internet passou pelo mesmo processo. Então, precisamos tomar cuidado com isso”, disse. O ideal, ele pontua, é evitar a “desilusão” em relação à tecnologia.

Em julho, o Grupo Stefanini anunciou a inauguração de seu primeiro Centro de Excelência (CoE) em IA. O espaço é localizado em Southfield, nos Estados Unidos, onde fica a sede norte-americana da companhia, e terá o objetivo de liderar a frente de IA da companhia. Com centenas de projetos de IA em produção junto aos clientes, o plano é escalar para começar a ver os resultados a partir do próximo ano.

IT Forum: Neste mês de julho o Grupo Stefanini anunciou seu primeiro Centro de Excelência em Inteligência Artificial, nos Estados Unidos. Como a empresa está expandindo sua estratégia de IA?

Marco Stefanini: “Primeiro, um pouco de histórico: há cerca de 12 anos, começamos a fazer investimentos significativos para realizar nossa própria transformação digital. Ao mesmo tempo em que nos propusemos a ajudar os clientes a fazerem sua transformação, também fizemos a nossa. Incorporamos uma série de soluções, como serviços de nuvem e agile development, e realizamos aquisições de empresas digitais de nicho ligadas ao negócio. Foram quase 40 empresas adquiridas, a maioria pequenas, para ganharmos diferentes capacidades relacionadas ao negócio. Uma das características da transformação digital é a liderança pelo negócio, e não mais pela tecnologia. Abrimos várias frentes, e a IA foi uma delas.

Quando o ChatGPT chegou, ele quebrou dois paradigmas, e elevou o nível. Primeiro, ele é um motor muito mais potente, proporcionando soluções muito mais avançadas usando IA. Segundo, ele popularizou a IA, pressionando as empresas pela própria liderança. Nesse novo cenário, temos uma vantagem estratégica enorme, porque já trabalhamos nisso há 12 anos. Portanto, arrancamos muito rápido em soluções de negócio, soluções digitais e soluções ligadas à TI.”

ITF: Você falou sobre a importância das aquisições para a estruturação da estratégia da Stefanini em IA. O grupo planeja investir R$ 1 bilhão até 2026 em aquisições em diversas áreas. A IA também é parte dessas estratégias?

Marco Stefanini: “Nosso plano é duplo. Temos um forte componente de aquisição para trazer novas capacidades, ainda que nosso crescimento orgânico seja, percentualmente, maior do que o crescimento por aquisições – essa é a primeira parte. A segunda parte é que temos um plano agressivo de aquisições focado em soluções digitais de negócio. A área de marketing é um dos nossos alvos. Cibersegurança, nuvem e soluções financeiras são outras áreas de interesse – em breve, devemos anunciar mais uma aquisição com a Topaz, nossa empresa carro-chefe na área digital financeira. As aquisições seguirão essa linha.

Como a IA entra nisso? Já temos o conhecimento necessário, então buscamos empresas de negócios com soluções onde possamos aplicar IA para acelerá-las. Para nós, a IA é um grande acelerador de transformação digital. Como já temos capacidade interna, não precisamos adquirir uma empresa de IA, mas precisamos fazer uma série de aquisições para exponencializar nosso conhecimento e potencial em IA. Indiretamente, estamos investindo em todos os negócios que se aceleram com IA. Entendemos a IA como algo transversal entre soluções, não um negócio em si. A unidade de negócio de IA nunca será muito grande; seu papel é apoiar as demais unidades do negócio.”

ITF: Ano passado foi um ano exploratório para a IA generativa. Neste ano, estamos vendo algumas empresas com casos de sucesso em produção em áreas como atendimento ao cliente e programação, mas ainda sem grandes retornos. Como a Stefanini vê isso?

Marco Stefanini: “Aconteceu a mesma coisa com a transformação digital. O mercado corporativo, em geral, é mais lento na absorção de novas tecnologias. Isso ocorre porque são empresas grandes, com estruturas segmentadas, e essas tecnologias, sendo transversais, são difíceis de absorver. Então, sempre há um delay relativamente grande. Certamente, esse delay será menor com a IA do que foi com a transformação digital.

No ano passado, o cenário foi mais de curiosidade. Em teoria, este ano seria de implementação. Mas, na minha opinião, o ano para obter resultados será o próximo. Percebemos, na maioria das empresas, que se comenta sobre o uso de IA, mas ainda não de maneira massiva, de uma forma que realmente dê retorno. Acho que esse resultado deve vir só no próximo ano, devido à curva de aprendizagem. Normalmente, as empresas começam a usar IA em atividades periféricas. Um bom exemplo é o Copilot, da Microsoft, que é para o usuário final. É uma ótima estratégia para as pessoas perderem o receio e adquirirem intimidade com a IA, mas não é ali que veremos o retorno.

A IA criou uma expectativa muito grande, e acho isso perigoso. Não queremos desiludir o mercado. É uma solução nova e muito boa. Isso traz uma expectativa exagerada, que depois cai, estabiliza e amadurece. A internet passou pelo mesmo processo. Então, precisamos tomar cuidado com isso.”

ITF: Nas últimas semanas, firmas como Goldman Sachs, Sequoia e Barclays divulgaram relatórios questionando a capacidade da indústria em reaver os pesados investimentos feitos em IA generativa. Como você vê esse pessimismo de parte do mercado?

Marco Stefanini: “É exatamente isso. É uma solução disruptiva, mas é preciso tomar cuidado para não prometer demais ou gerar especulação excessiva. Infelizmente, a indústria de tecnologia é muito boa nisso e acaba criando um marketing exagerado que queima a largada. As empresas com visão, e eu acho que a Stefanini é uma delas, continuarão persistindo e terão bons resultados a partir do ano que vem. Há uma série de aprendizados e correções ao longo do caminho: onde aplicar, como aplicar e como medir.

A área industrial é um exemplo. Sempre foi uma área muito atrasada na transformação digital, mas temos quase 100 casos de uso de IA, tanto generativa quanto não-generativa, para automação. Em Service Desk, já temos IA generativa aplicada em produção em pelo menos 10 clientes, incluindo uma grande empresa de luxo e uma das duas maiores empresas de pagamentos do mundo. Na área de marketing, temos várias soluções com resultados concretos, inclusive com um dos maiores bancos brasileiros. Na área de desenvolvimento de sistemas, o segundo maior banco do México está realizando uma série de migrações em produção com o que chamamos de application modernization.

Estamos aplicando a IA em várias frentes com resultados concretos. E temos algumas métricas. Uma delas é a qualidade. A segunda é o time to market, que às vezes é mais importante que o custo. A terceira é a capacidade de realizar tarefas, especialmente na área de dados, que antes não eram viáveis, nem economicamente nem em termos de tempo, devido ao grande esforço necessário. Há uma série de ganhos, mas é crucial saber onde aplicá-los.”

ITF: O Grupo Stefanini espera fechar esse ano com um faturamento de R$ 8,4 bilhões. A IA já vai ser representativa nesse resultado?

Marco Stefanini: “Será uma dinâmica parecida com a que tivemos na transformação digital. Teremos que investir em uma parte educativa, envolvendo os altos executivos da liderança para que se engajem também. Isso leva tempo e não traz resultados rápidos, como muitos imaginam. Isso demora um tempo para se conseguir aplicar massivamente e obter retorno. Na transformação digital, por exemplo, para obter os primeiros resultados significativos, o mercado corporativo demorou de cinco a sete anos. Isso no B2B. Com a IA, o processo poderá ser mais rápido, mas ainda leva tempo, e estamos apenas no segundo ano. Em termos de números, ainda não é tão significativo, mas isso começará a mudar a partir do ano que vem. Isso já era esperado.”

https://itforum.com.br/noticias/marco-stefanini-expectativa-exagera...

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