Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Última rainha da França, ela é uma das figuras mais polêmicas da História. Durante mais de dois séculos, desde que foi executada em 1793 na guilhotina durante a Revolução Francesa, Maria Antonieta foi predominantemente retratada como uma monarca fútil, despreparada para reinar, pivô de escândalos, promotora de festas orgiásticas, manipuladora de um rei fraco - seu marido Luis 16 - e símbolo do que de pior havia na monarquia francesa. Insensível à crise econômica que assolava o país, ela só teria piorado a situação com suas gastanças e ostentações que provocaram a ira popular. Maria Antonieta era uma vilã.


Gravura em livro de 1862 retrata Maria Antonieta e o rei Luis 16, ambos à direita, conversando com o Marquês de La Fayette
© iStockphoto.com /ConstanceMcGuire
Gravura em livro de 1862 retrata Maria Antonieta e o rei Luis 16, ambos à direita, conversando com o Marquês de La Fayette

Mas essa visão da jovem austríaca que, por motivações políticas, se casou aos 14 anos com o futuro regente francês começou a mudar no começo do século 21 a partir principalmente do trabalho de duas historiadoras. O da francesa Evelyne Lever resultou na biografia "Maria Antonieta - A última rainha da França" e o da inglesa Antonia Fraser na obra "Maria Antonieta", cujo texto foi transformado em roteiro do filme homônimo dirigido por Sofia Coppola. Dessas biografias emergiu uma nova visão da jovem rainha, que angustiada pelo tédio, solidão e hipocrisia tornou-se uma mulher inquieta, lançadora de modas, provocativa e uma espécie de protótipo do que são algumas celebridades contemporâneas como Madonna e Lady Gaga.

Essas biografias ajudam a entender melhor o que foi a vida dessa polêmica rainha, cujo casamento com o rei da França, o gorducho Luis 16, levou sete anos para se "consumar", possivelmente em função do desconforto que o monarca sentia com o próprio corpo obeso e da opção pela abstinência sexual feita por ambos. Além disso, o excesso de tempo livre e os exageros da vida na corte em Paris e Versalhes contribuíram para hábitos que ajudaram a construir a péssima imagem que Maria Antonieta carregou por séculos. A sua má fama deve-se também à eficaz propaganda dos revolucionários que derrubaram a monarquia durante a Revolução Francesa e viram na rainha o símbolo perfeito para mostrar a degradação que o antigo regime representava.

A fama que carregou de ninfomaníaca também tampouco corresponde ao que foi sua vida amorosa. A incompatibilidade entre ela e o rei não resultou numa coleção de amantes e traições, como foi popularizado em muitas versões sobre sua vida. Um relato feito pelo Príncipe de Ligne mostra que Maria Antonieta tinha “a qualidade encantadora da obtusidade que mantinha à distância todos os amantes”. Além disso, ela se encantava pelos galanteios e flertes com homens bem mais velhos, que normalmente sabiam dançar e cantar - dotes que faltavam a Luis 16 - e que geralmente animavam suas festas e eram companhias divertidas para ela.

No entanto, a admiração e a proximidade que tinha com esses nobres foi mal interpretada e os encorajou a cortejá-la crentes de que a rainha nutria por eles algo mais do que amizade. Quando se declaravam, Maria Antonieta os rejeitava prontamente. Mas isso não impediu que surgissem várias narrativas que a difamassem e criassem uma imagem de promiscuidade sexual que não corresponde aos fatos históricos. Na próxima página, conheça como foi a vida dessa jovem rainha que escandalizou a França e a Europa do século 18.

Maria Antonieta: uma rainha jovem e alienada

Marie-Antoinette-Josèphe-Jeanne d’Autriche-Lorraine nasceu em 2 de novembro de 1755, em Viena, na Áustria. Ela foi a décima primeira filha de Maria Teresa de Habsburgo e de Francisco Estêvão de Lorena, imperatriz e imperador do Sacro Império Romano-Germânico e fundadores da dinastia dos Habsburgo-Lorena.

Gravura em livro de 1862 retrata Maria Antonieta e o rei Luis 16, ambos à direita, conversando com o Marquês de La Fayette
Reprodução
Cartaz de "Maria Antonieta", filme de Sofia Coppola, baseado em biografia escrita por Antonia Fraser
Ela não teve muito tempo de aproveitar sua infância já que aos 14 anos chegou a França como a prometida futura esposa do neto do rei francês Luis 15. Maria Antonieta era ainda uma menina magra, de pele muito clara e com poucos atrativos, se bem que já mostrava alguns dos atributos de beleza que a fariam ser tão desejada na corte. Luis, o neto do rei, era um ano mais velho do que ela e cheio de qualidades nada inspiradoras, como sua timidez, seu jeito desajeitado e os primeiros sinais da obesidade que o tornariam uma figura caricata. O casamento deles foi planejado para selar a união entre França e Áustria, mais especificamente entre duas dinastias: a francesa dos Bourbon e a austríaca dos Habsburgo.

Maria Antonieta e Luis casaram-se em 1770 e quatro anos depois ascenderam ao trono francês. Apesar de casados, a falta de interesse sexual de ambos durou até 1777, quando ela engravidou do primeiro dos quatro filhos (dois meninos e duas meninas) que o casal teria. Essa demora de sete anos para a "consumação" do casamento, que é atribuída a questões como a vergonha que Luis 16 tinha do próprio corpo ou a uma preguiça sexual de ambos, foi determinante para os boatos que criaram uma imagem perversa de Maria Antonieta. Rumores de casos extraconjugais, de festas orgiásticas, de lesbianismo e outros tornaram-se populares, muitos deles criados e alimentados por rivais políticos. Alguns panfletos de teor pornográfico que circularam na época retratavam a jovem rainha como uma ninfomaníaca.

Para a historiadora francesa Evelyne Lever, Maria Antonieta era imatura, impetuosa e não estava preparada para o papel de uma rainha. Além disso, as festas e recepções encenadas deram-lhe a falsa impressão de aprovação popular, quando na verdade ela estava se distanciando dos reais problemas econômicos e sociais franceses e isolando-se num mundo fantasioso, cercada por um grupo de cortesãos extravagantes, e no qual buscava apenas se divertir. As pressões e chantagens emocionais que sua mãe, a imperatriz austríaca Maria Tereza, fazia sobre ela, mesmo à distância, também contribuíram para prejudicar seus atos numa corte cheia de intrigas e distante do mundo novo criado pela ideias iluministas.
O mais evidente sinal da vida fantasiosa que Maria Antonieta levou em boa parte do tempo como rainha foram suas encenações de peças teatrais em que assumia personagens que a levavam a viver uma outra vida. Ainda assim, nos momentos mais críticos do reinado de seu marido, foi ela quem  mostrou-se corajosa, de personalidade forte e leal, como veremos na próxima página.

Lady Gaga do século 18

Uma das facetas mais impressionantes de Maria Antonieta foi sua atitude inquietante em relação à moda de sua época. Ela alterava frequentemente seu visual, que podia incluir desde vestidos luxuosos e penteados com cerca de um metro de altura até peças que compunham uma silhueta andrógina, usadas por ela em seus passeios a cavalo. Isso a tornava popular na mesma medida em que gerava antipatias das damas da corte francesa. Elas temiam que a aproximação que Maria Antonieta fazia muitas vezes de seus trajes com o dos camponeses e a população em geral derrubasse a moda como um dos símbolos da separação entre as classes sociais. Além de inovar nas roupas e penteados, Maria Antonieta também agia como uma estrela pop dos dias atuais, com aparições estratégicas e plantando informações que provocavam calorosos debates públicos. Essas atitudes "midiáticas" muitas vezes colocaram em discussão o papel da mulher na sociedade e da sexualidade feminina. Provocativa, Maria Antonieta foi uma espécie de Madonna ou Lady Gaga do século 18.

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