Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Masculinização x feminilização o vaivém da moda feminina em busca de identidade visual

A Grande Guerra, posteriormente chamada de Primeira Guerra Mundial (1914-1918), traz um contexto social que proporciona o início da emancipação feminina. A realidade bélica obriga a mulher a trabalhar em funções até então reconhecidamente masculinas. Ela percebe não só sua capacidade produtiva como também a possibilidade do autossustento. Terminado o conflito, a mulher não volta à sua posição anterior de submissa e dependente da figura masculina e resolve adotar uma postura inovadora de independência. Lógico que todo esse novo comportamento vai refletir no universo da moda e, assim, a década seguinte virá com identidade de moda e comportamento bem inovadores.

Os anos 1920, como reflexo dessa emancipação, trazem uma significativa androginia para a moda feminina em verdadeiras apropriações da realidade masculina. Trata-se, então, de um aspecto de masculinização que determina o novo ar dos tempos para a moda das mulheres. Os vestidos encurtam-se até a altura dos joelhos; a cintura desloca-se para o quadril e geralmente com um cinto aparente; as naturais linhas curvas do corpo da mulher – seios e quadris – são achatadas em verdadeiros diálogos visuais com o corpo dos homens; o cabelo bem curtinho é o novo gosto para os cortes normalmente adornados com um chapéu (chamado cloche, sino em francês) semelhante a um gorro e, assim, essa década adquire uma identidade de nítidas influências masculinizantes.

O decênio seguinte, ou seja, os anos 1930, resgata a feminilidade para a moda das mulheres de então. As divas do cinema norte-americano ditam moda em vestidos longos ou no comprimento mi-molet (altura no meio das panturrilhas); a cintura volta para a cintura; os chapéus ganham abas maiores, usados sobre cabelos ondulados e muitas vezes platinados; os acessórios ganham grande importância para enfeitar os vestidos em cortes enviesados, que valorizam e delineiam a natureza curvilínea feminina. Como se não bastasse toda essa refeminilização, os decotes nas costas também acentuam e sensualizam o corpo da mulher.

Tudo isso é eclipsado com a insurreição da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse período, a mulher se remasculiniza em função da nova realidade bélica. Os uniformes e calçados dos soldados influenciam as novas propostas da moda feminina e, além disso, toda uma contenção e racionamento de tecidos criam uma identidade de roupas esmirradas bem práticas e funcionais, à semelhança das roupas dos homens. Duas peças – saia e casaco ou saia e blusa – são usadas comumente até mesmo para possibilitar arranjos distintos, dando a aparência de roupas novas. O abotoamento frontal, típico das roupas dos homens, é a nova realidade para a moda feminina; tecidos masculinizados; cores sóbrias; vestidos chemisiers; cabelos presos em redes, turbantes ou chapéus de pequenas abas complementam a moda usada com sapatos de plataforma ou mesmo abotinados, sem falar também na volta do cinto aparente que, repetindo, é marcadamente característica da moda masculina. Dessa forma, a primeira metade dos anos 1940 traz uma nova masculinização para a moda feminina.

Terminado o armistício, Christian Dior, ao fundar sua maison de alta-costura, incentivado pelo industrial têxtil francês Marcel Boussac, resgata a feminilidade para a moda das mulheres ao lançar suas propostas denominadas de “Linha Corola” ou “Linha Oito” e rebatizadas pela jornalista da revista Harper’s Bazaar norte-americana Carmel Snow de “New Look”. Dior inspira-se na moda feminina do fim do século 19, revalorizando a cintura marcada; propondo saias rodadas abaixo dos joelhos; ombros suavemente delineados; sapatos de salto alto e bico fino; além de chapéus mais delicados que complementam e valorizam a silhueta feminina. Toda essa proposta, lançada em fevereiro de 1947, passa a ser o novo gosto para a moda feminina de então e que não só resgata a feminilidade perdida durante os anos de guerra como também delineia o que virá a ser a grande identidade de moda dos anos 1950.

Sendo assim, esse intervalo de tempo entre os anos 1920 e 1950 reveza aspectos de masculinização e feminilização para as mulheres, que sempre se adaptam às realidades contextuais e definem o espírito de cada época para a moda.

 

João Braga é estilista, escritor e professor de história da moda das faculdades Faap e Santa Marcelina e da Casa do Saber.

Foto: Fernando Silveira/Faap/Divulgação

http://www.costuraperfeita.com.br/edicao/23/materia/voce-sabia.html

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