A Bosch quase dispensa introduções. Junto a outras gigantes alemãs, está na linha de frente da transformação digital da indústria, da produção agrícola e da vida cotidiana de milhares de pessoas que usufruem das tecnologias criadas pela empresa.
Operando desde 1954 no Brasil, onde emprega mais de 8 mil pessoas, como boa desenvolvedora, a Bosch é também grande usuária da inovação que ajuda a construir. É que, como explica o presidente da Bosch América Latina, Besaliel Botelho, a tecnologia aplicada ao processo produtivo e à gestão dos negócios é um trunfo na busca pela produtividade.
Diante dos desafios impostos pelo ambiente brasileiro - o famoso custo Brasil - o azeitamento dos processos produtivos se tornou um equalizador das dificuldades enfrentadas da porta da fábrica para fora. "A Bosch trabalhou fortemente a sua produtividade porque, sem isso, não teria sobrevivido à crise. Buscamos superar os reveses recentes do país com o aumento da produtividade. Acho que fomos bem-sucedidos", afima Botelho.
CRÉDITOS
Texto: Ariadne Sakkis
Fotos: José Paulo Lacerda e
Miguel Ângelo
Direção de Arte: Daniel Pedrosa
Vídeo: Gilberto Sousa,
Bárbara Bomfim, Diego Campos e
Sirlei Pires
Edição: Aerton Guimarães
e Evam Sena
Da Agência CNI de Notícias
A tecnologia foi fundamental. A empresa utilizou sensoreamento, digitalização e coleta de dados das máquinas em tempo real para otimizar processos. Os resultados podem ser resumidos em dois dados: a empresa reduziu em 40% seus custos de manutenção e ganhou até 10% de eficiência nas máquinas.
A questão estaria resolvida se a Bosch operasse sozinha. Mas, só no Brasil, ela ancora uma cadeia complexa e diversificada com mais de 2,5 mil fornecedores. “O que adianta eu ter uma linha de produção super eficiente e produtiva se não consigo receber as peças dos meus fornecedores com a qualidade e a velocidade? Preciso trabalhar com a base de fornecedores conectada ao meu processo produtivo", frisa o presidente da Bosch.
A necessidade de harmonização é tamanha que a empresa selecionou alguns fornecedores para ajudar na modernização das fábricas com medidas simples e de baixo custo, em um processo chamado retrofit, em que máquinas antigas passam por modernização tecnológica, como instalação de sensores.
A demanda não é só da subsidiária alemã. Entre 2000 e 2016, a produtividade do trabalho na indústria cresceu 8,8% no país, segundo a Confederação Nacional da Indústria (CNI). Para se ter ideia do espaço a percorrer, no mesmo período, a Coreia do Sul registrou aumento de 118,4% nesse quesito.
Mesmo países em desenvolvimento, como México e Argentina, obtiveram resultados significativamente melhores que o Brasil, com 29,3% e 27,7%, respectivamente. E o alerta vale em dobro na corrida tecnológica.
Brasil e principais parceiros comerciais
"É claro que lidamos com um ambiente externo em que há muito a ser feito. Precisamos reduzir nossos custos sistêmicos, o governo deve desenhar políticas específicas para a indústria. Mas não adianta fazermos tudo isso se as empresas não fizerem a parte delas", avalia Renato da Fonseca, gerente-executivo de Pesquisa e Competitividade da CNI.
De acordo com o Mapa Estratégico da Indústria 2018-2022, documento elaborado pela CNI e que aponta caminhos para o desenvolvimento do Brasil, há quatro eixos diretamente relacionados à produtividade e inovação: gestão empresarial, inovação, qualificação profissional e internacionalização.
Sob o aspecto da gestão, iniciativas recentes da CNI, como o Indústria+Produtiva, e também o Brasil Mais Produtivo, executado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) em parceria com o governo federal, demonstram como é possível ganhar muita eficiência em pouco tempo e com pouco investimento.
Os programas utilizaram técnicas de gestão da manufatura enxuta - aquelas criadas pela Toyota na década de 1950, obcecadas pela redução do desperdício, melhoria contínua e organização linear do processo produtivo. As empresas participantes do projeto-piloto da CNI, em 2015, tiveram um ganho médio de 42% em produtividade em apenas 3 meses, sem aquisição de novos equipamentos.
Em 2016, a iniciativa ganhou escala com o Brasil Mais Produtivo, e atendeu 2,8 mil empresas em todo o país. O aumento de produtividade médio subiu para 52%, quase 6 vezes o que o Brasil evoluiu em 16 anos.
Alguns fatores ajudam a explicar por que há tanto campo para explorar na gestão das empresas brasileiras. Para Fernanda de Negri, pesquisadora do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o foco no mercado doméstico e a baixa exposição ao mercado internacional - mais competitivo e exigente que o brasileiro -, não estimulam as empresas a buscarem, por um lado, modelos de gestão mais eficientes e, por outro, inovação.
“O grau de abertura da economia influencia muito e é um ponto crítico para analisar o desempenho da gestão e da inovação no Brasil. Além disso, quanto mais fechado, menos você acessa tecnologias de ponta. E, no longo prazo, é a tecnologia o fator determinante para a competitividade dos países”, afirma de Negri.
Assim, as empresas brasileiras precisam de mais apoio para conseguir superar os desafios internos para ter condições de disputar mercados externos. Foi nesse sentido que a CNI, com recursos do programa AL Invest, da Comissão Europeia, desenvolveu o programa Rota Global.
Por meio dele, com o apoio da Rede Brasileira de Centros Internacionais de Negócios (Rede CIN) e das federações de indústrias, quase 500 empresas no Brasil, na Argentina e na Espanha passaram por um diagnóstico de maturidade internacional e receberam consultoria voltada para planejamento e gestão estratégica de comércio exterior.
Esses serviços têm como objetivo capacitar os empresários a driblar as dificuldades e aproveitar as oportunidades globais. Além de ampliar o número de empresas exportadoras, o programa teve impactos internos nas empresas, como exemplifica o caso de sucesso da fábrica de calçados Calce Perfeito, de Brasília. Assista ao vídeo para saber mais:
O Mapa Estratégico da Indústria estabelece como objetivo ampliar a taxa de inovação de 36,4% para 45% no país. Mas também é necessário tornar os esforços em inovação mais efetivos. No Índice Global de Inovação, principal ranking mundial do gênero, o Brasil aparece na 99ª posição entre 127 economias no quesito eficiência da inovação, que avalia a capacidade de um país converter os esforços em inovação e em novos produtos no mercado.
“Avançamos muito. Iniciativas como a Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) ajudaram a colocar a inovação como uma necessidade de país. Sabemos que ela é condição essencial para o desenvolvimento sustentável. Por isso, precisamos que ela esteja no centro da estratégia das empresas e também das políticas de desenvolvimento”, afirma a diretora de Inovação da CNI e superintendente nacional do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), Gianna Sagazio.
Na era da digitalização, movida pelo avanço tecnológico sem precedentes, a inovação tem peso crescente na competitividade das empresas e, consequentemente, nas economias. A Bosch investiu na ampliação do portfólio.
"Apostamos na inovação de produto, colocamos novos produtos no mercado. Mas também inovamos no processo, usando mais tecnologia de ponta na produção. São fatores importantes para a nossa capacidade competitiva", explica o presidente da empresa.
A promessa é que as tecnologias associadas à Indústria 4.0 sejam tanto uma oportunidade de mercado quanto de ganho de competitividade. "O desafio para a indústria brasileira é fazer as duas coisas ao mesmo tempo: melhorar seus processos e se digitalizar porque o mundo caminha nesse sentido. Nesse aspecto, o Sistema Indústria tem um papel importante em ajudar as empresas a entender as tendências e o que faz sentido para a indústria brasileira", afirma Renato da Fonseca. "A má notícia é que temos muito a fazer. A boa notícia é que mesmo os pequenos avanços trarão resultados", resume Fernanda de Negri, do Ipea.
CAPÍTULO 11
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