Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Mesmo Após Três Políticas Industriais, Brasil Vive Desindustrialização

Governo deve anunciar na próxima terça-feira o que provavelmente será mais um pacote de desoneração tributária ao setor, que vem perdendo força e competitividade

Anne Warth e Francisco Carlos de Assis, da Agência Estado

SÃO PAULO - Mesmo com três políticas industriais já anunciadas desde que o Brasil se redemocratizou, a indústria de transformação ainda depende de medidas pontuais vindas do governo para tentar ter igualdade de condições na competição com seus concorrentes estrangeiros. Entre os protagonistas das políticas industriais, isso gera grande dose de insatisfação, pois, apesar dos esforços, a indústria brasileira passa por um inequívoco processo de desindustrialização.

Tanto é que agora, pela primeira vez desde o primeiro mandato de Lula, governo e empresários estão do mesmo lado e concordam que o País está perdendo sua força industrial. A questão ficou mais proeminente com os recentes dados do IBGE sobre produção industrial. No ano passado, a indústria avançou meros 0,3% sobre 2010. No primeiro mês de 2012, houve recuo de 2,1% sobre dezembro. De que têm servido então as políticas industriais, todas anunciadas com grande pompa pelos respectivos governos?

Brasília deve anunciar na próxima terça-feira, dia 3, o que provavelmente será mais um pacote de desoneração tributária ao setor. Uma das mais aguardadas é a desoneração da folha de pagamento, já incluída para alguns setores no Plano Brasil Maior, a terceira política industrial lançada desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

De 2003 até agora, foram lançadas três políticas industriais. Uma sob o comando do então ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), Luís Fernando Furlan; outra encabeçada por seu sucessor, Miguel Jorge, ambos do governo Lula; e o Plano Brasil Maior, já no governo Dilma, esta última voltada para setores intensivos de mão de obra, como software, confecção, calçados e móveis.

Frustração com as políticas industriais

Furlan e Jorge admitem uma certa frustração, porque as políticas industriais - na verdade políticas de Estado elaboradas para alçar o Brasil à condição efetiva de exportador de produtos de maior conteúdo tecnológico e reverter pesados déficits comerciais em áreas estratégicas, como semicondutores, farmacêuticos, comunicações entre outros - jamais atingiram resultados esperados.

Já para o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, se o pacote da próxima semana não romper a prática do "mais do mesmo", a política industrial de Dilma, o Plano Brasil Maior, corre o risco de naufragar mais uma vez. O ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda Julio Gomes de Almeida, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) é ainda mais pessimista. Para ele, as medidas servirão apenas para dar sobrevida à indústria e não para reverter o cenário atual de perda participação no PIB.

Atual membro do Conselho da BRF Brasil Foods, o ex-ministro Furlan avalia que o processo de desindustrialização é concreto e que, em alguns setores, a dificuldade da produção nacional de competir é tamanha que já não há como se recuperar. "Há setores no Brasil que têm competitividade, mas sofrem com a questão tributária, custos financeiros, deficiências da burocracia e de logística", afirma. "Não há falta de diagnósticos no Brasil. O que temos é falta de 'fazimento', de entregar as coisas completas".

Agenda política X agenda econômica

De acordo com Furlan, políticas industriais no Brasil não dão certo porque as medidas nunca são permanentes e porque a agenda estratégica de governo acaba sempre sendo superada pelo urgente. "Também porque no setor público a agenda política é mais importante do que a agenda econômica, de produção e de investimentos", critica o ex-ministro. "Ministros ou pessoas do alto escalão muitas vezes tem um projeto próprio nem sempre convergente com o conjunto ou com o ideário do chefe geral ou do presidente", afirma Furlan.

Também ex-titular do MDIC, Miguel Jorge revela frustração com os resultados do plano industrial lançado durante sua atuação na pasta, em 2008. "Fiquei frustrado, pois várias das ações planejadas não foram executadas. Foi um ano de trabalho para desenvolver o esqueleto do plano e acabou só 50% sendo implantado", afirma. "A devolução dos créditos tributários aos exportadores, por exemplo, foi lançada em maio de 2008 e até hoje não foi implementada, ainda que tenha sido decidida pelo presidente Lula."

Jorge afirma que a experiência no governo mostrou que a falta de coordenação entre os ministérios e de entendimento sobre a importância de uma política industrial é uma das principais causas do fracasso dessas ações. "A área da Fazenda, principalmente a Receita, é a quem tem mais resistência a desonerações. Não se faz política industrial apenas com ideias", diz. "Falta coragem para tomar decisões que afetam muitos interesses, inclusive os da burocracia. Temos de nos modernizar em termos de Estado, e acho que a presidente Dilma tem todas as condições de começar um processo muito forte nesse sentido."

Desindustrialização em curso

O presidente da Fiesp discorda com o formato das políticas industriais, que elegem setores a serem beneficiados e defende que elas teriam que abranger linearmente todos os setores da indústria da transformação. Para ele, há um processo de desindustrialização em curso. "Os dados comprovam isso", diz Skaf. Em 1985, a indústria da transformação representava 27% do PIB. Hoje, é 14,6%. No ano passado, a indústria como um todo cresceu 1,6%, enquanto a indústria de transformação registrou expansão de apenas 0,1%.

O ex-secretário Júlio Gomes de Almeida destaca que, diferentemente das versões anteriores, o Plano Brasil Maior, de Dilma, mostra que o governo agora tem uma preocupação em articular a política industrial com a política macroeconômica. "Antes, vimos muitas vezes a política macroeconômica ir para um lado e a política industrial para outro, tentando amenizar o problema dos juros altos e do câmbio valorizado. Era um convite ao fracasso", afirma. "Já o Brasil Maior vem em um contexto em que o governo procura baixar os juros e tem a orientação de fazer intervenções no câmbio quando a cotação alcança certo nível. Isso dá mais sustentação ao plano."

Fonte:|http://economia.estadao.com.br/noticias/economia,mesmo-apos-tres-po...

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 2 abril 2012 às 10:33

       1) Se os economistas do govêrno sabem quias os diagnósicos para melhorar  porque não resolvem essa situção da indústria brasileira.

        2) Se levam um ano para desenvolver o esqueleto do plano que acabou  só 50%  implantado, a devolução dos créditos tributários aos exportadores foi lançada en maio de 2008 e até hoje não foi implementada.

         3) Se para desenvolver um plano levam um ano, devem trabalhar poucos minutos p/dia essa equipe de" burrocratas. (derivado de burros)

          4) Se antes, vimos muitas vezes a política macroeconômica ir para um lado e a política industrial ir para outro , porque não param com esses  planos que não dá em nada.

           5) Se continuarem planejando dese jeito a indústria de transformação brasileira deixará  de existir em pouco tempo .

            6) Se esses economistas concorresem ao Prêmio Nobel certamente ganhariam.

              Abraços Romildo.

Comentário de Bruno Monteiro em 1 abril 2012 às 22:27

A presidenta tenta moralizar claramente o pais nisso por ser mulher vemos uma alteracao de comportamento surpreendente contra a acomodacao e a corrupcao.

Sera que ela tem gas pra implementar uma mudanca na burocracia??Logicamente nao e so ela e os governadores desse imenso pais? e a Receita Federal esta disposta a ser um orgao mais humilde...no sentido de prestar contas ao pais de seus gastos.... Eu to regularizando um imovel aqui em Sao Paulo que e o estado mais rico da federacao , por estar numa antiga area indigena se paga um laudemio municipio de BARUERI  o processo  de regularizacao leva...minimo de 90dd...Isso e aceitavel num mundo onde a economia e digital na era da internet??Logico que nao...Se nosso pais anda lento e a providencia e pequena e que nos falta lideranca e coesao...Pergunta a um jovem hoje se ele prefere abrir uma empresa e ir produzir ou ser fiscal da receita...a resposta e logica ser da receita federal...Nossa presidenta por favor tenha a clareza de implementar no Brasil um estado onde Brasilia valha menos e a lideranca local mais...realmenteas coisas nao funcionam atraves de Brasilia ja tive varias experiencias....Logico como acompanhante a historia economica do Brasil entendo que os estados quebraram na epoca do plano real...vide privatizacao de bancos estaduais ( Banespa e outros ) e a federalizacao foi a saida....mas essa federalizacao nao funcionou ...nao temos bancos estaduais e nao temos mais incentivos tambem, a receita de impostos centralizada em Brasilia e um desastre e gera incompetencia e atraso ... ha  enorme a falta de coordenacao entre a agricultura e a industria.... no Brasil a questao do algodao chega a ser uma piada, ha de ter  governo ou alguem responsavel por unir cadeias produtivas epor unir os elos...criando a regulacao...vivemos na epoca onde a disussao nao e se o estado e grande ou pequeno mas se ele e eficiente...se apoia o setor produtivo ou nao...Funcionario publico que protela e demora tem de ser demitido...fiscal que nao entrega resultado mas so com bola   deve ir pra cadeia...a regra tem de ser menor e mais clara para as pessoas se formalizarem ainda vivemos no pais da meia nota do sem nota porque as coisas nao sao feitas as claras...mas gente isso e a muito tempo e hora de mudar...a burocracia e que gera a corrupcao essa questao e maior que cambio do que tudo e um habito baseado na morosidade na protelacao....Tenho um processo de radar em andamento no governo visando aumentar meus limites de importacao e exportacao...sou um pequeno empresario...simplismente o fiscal nao acredita nos meus numeros, sou tratado como um bandido sonegador mesmo sem ser, e nao conseguimos falar com um fiscal da receita federal ele simplismente nao recebe so atende pela internet...ai aparecem todos tipos de ofertas de negocios...nosso pais e uma piada a quem tenta trabalhar serio , isso vai mudar ou quando uma crise apertar ou quando aparecer um louco e mudar na marra. Nossa nocao de governo e conseguir um empreguinho , ou entao importante notar que o cara da iniciativa privada vai pro governo pra depois virar consultor e resolver as coisas de outra forma...esse e o Brasil...um pais rico mas cheio de malandragens e espertezas...pena que malandragem e esperteza nao gera desenvolvimento e sim atraso.

Queria viver num pais que eu fosse ao dentista e o cara nao precisasse fazer preco com nota ou sem nota. Quando voce vai aos EUA la ha a conta de impostos em produtos no mercado em todo lugar, se sabe quanto se paga de imposto...porque la a carga e de 20% e aqui quase 40%...

Ai vamos a CHINA, porque la o pais e comunista entao nao e questao de estado ser grande ou pequeno...mas de incentivo e de valor...o que leva ao chines ser disciplinado e trabalhador??Sera que e a ditadura??

Nao somos menos competentes do que o chines recuso o rotulo...mas certamente la ha mais orientacao talves pela cultura milenar, eles nao sao futeis como nos, eles poupam 40% do PIB...nao aqui mal chegamos em 20%. Chego a me perguntar sem hipocrisia sera que precisamos de ditadura entao pra nos desenvolver?? Porque a questao democracia X economia ruim nao se sustenta nao vejo como...Tai os EUA pra demonstrar isso.

Entao vemos que o desafio e muito maior, para ter industria temos que criar ambiente pra industria...e governo nao e uma palavra eterea que nao existe...assim como mercado...governo somos nos mesmos e mercado sozinho nao resolve determinadas questoes.

Japao so e Japao porque o pais tem unidade e comando unico( muito mais facil num pais pequeno)....

Brasil e mais complexo precisa de um grupo que se entenda e trabalhe no mesmo sentido e nao em eternas guerras politicas pelo poder.

Brasil precisa simplificar ou decifra ou vai ser devoradao ,  NOSSO INTERESSE TEM DE SER MAIOR QUE A PRESSAO DE FORA...

Ha 2 condicoes para se ter industria, ou se baixa a carga tributaria e se premia o empreendor que da emprego via subsidio premio para exportar etc..alias enormemente praticado na INDIA e CHINA e colocado na pratica...

Ou se estatiza tudo e se trabalha como na China sem preocupacao com lucro mas sim em gerar emprego...essa alternativa e lamentavel e produz uma serie de distorcoes...

O Brasil deveria seguir o primeiro caminho , de clareza etica, podemos sim ser melhor que os EUA mas precisamos nos mesmos acreditar e implementar nosso plano.

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