Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Minha Bolsa Será Daquele Crocodilo Ali, Olha.....

Bolsa da Hermès com diamantes: Quando o assunto é moda, tudo é possível

A experiência de anos no mundo da moda me ensinou a nunca usar a frase: "Você não pode estar falando sério".

Aprendi, por exemplo, que dizer a Patrick Thomas, presidente-executivo da Hermès, "você não está sendo sério ao esperar que alguém compre essa bolsa dourada coberta de diamantes por £ 1,5 milhão". Isso provocará uma expressão de prazer e a resposta perplexa: "Sim, é claro. Por que não?". Aprendi também que observar como todas as modelos na passarela de um desfile são reimaginadas como aves e transformadas com peças moldadas na cabeça, e como o estilista não pode estar sendo sério ao esperar que qualquer mulher use aquilo, significa apenas ser mais do que provável que a cantora Rihanna vá aparecer com esse visual semanas depois.

Portanto, uma série de novas iniciativas de moda que estão "aterrissando" em minha mesa não deveriam estar provocando a menor surpresa. E, em grande parte, elas não estão - nem mesmo a capa para laptop de US$ 11 milhões de uma pequena companhia de Roterdã.

Mas três delas me deixaram boquiaberta, ainda que eu tenha conseguido dissimular isso.

A primeira é apresentada como a personalização definitiva. Após o sucesso de um programa "in-store" (em estoque) que permite aos consumidores escolher entre uma variedade de peles preciosas para criar suas bolsas exclusivas Selleria ou Peekaboo, a Fendi está oferecendo o que deverá ser o padrão platina dessa tendência: começar a partir não do início do processo de fabricação, e sim do processo de remoção da pele.

Esse processo foi facilitado pela compra em outubro da Heng Long pela controladora da Fendi, a LMVH. A Heng Long, uma companhia de Cingapura especializada em peles (e talvez inspirada pela experiência Journées Particulières no mesmo mês, quando a LVMH permitiu a entrada do público em seus escritórios), criou um pacote para que os consumidores viajassem até Cingapura, seguissem para a sede da Heng Long e para sua fazenda de criação de crocodilos para escolher o réptil com que sua Peekaboo será feita. Eles, então, podem acompanhar o desenvolvimento do crocodilo até a idade adulta, a retirada da pele e seu processamento através de um aplicativo especial para iPad, de modo que eles estarão intimamente familiarizados com o processo em todos os seus passos.

É o equivalente da moda ao "know your food" (conheça o que você come) e vai repercutir entre os entendedores interessados em um mergulho artesanal profundo (embora eu não esteja certa sobre o que o pessoal da Peta vai achar disso). É verdade que se trata de um processo muito longo: no momento, as bolsas feitas sob medida levam de quatro a seis meses para serem entregues e esse tempo de espera vai mais que triplicar. Mas você sabe o que eles dizem sobre a expectativa.

A comida é parte da mais nova visão de Karl Lagerfeld para a Chanel na temporada primavera-verão. Depois do avião que ele construiu para seu desfile de alta costura em janeiro, e da caverna cristalina que ele ergueu no Grand Palais, para os desfiles da coleção outono-inverno, em março, seus planos para os desfiles de julho derivam do sucesso da Chanel da Índia.

O hábito de leitura voraz do "Kaiser" o levou ao capítulo do livro "A Fantástica Fabrica de Chocolate", de Roald Dahl, em que o vovô Joe conta a Charlie a história do príncipe indiano que pede a Willy Wonka que construa para ele um palácio de Chocolate; Wonka, é claro, diz ao príncipe que não é uma boa ideia, mas o príncipe insiste. O palácio é construído, seu senhorio diz que ele é maravilhoso demais para ser comido, mas aí vem um dia muito quente (afinal de contas, estamos na Índia). Mesmo que você não tenha lido o livro, pode imaginar o resto.

Aparentemente, Lagerfeld encomendou a construção de um Taj Mahal de chocolate no Grande Palais (isso me lembra de um iceberg que ele transportou da Suécia para lá em março de 2010). Após o desfile, a plateia será convidada a pegar pedaços do castelo e levar para casa. Parece delicioso, mas como o evento será realizado sob um domo de vidro e em pleno verão, o paralelo literário poderá se mostrar agourento. Ou será essa a intenção de Lagerfeld?

O item final de minha lista de iniciativas surpreendentes me ensinou a nunca assumir que conheço tudo sobre o que é a mente de um estilista. A saber: o próximo grande segredo (OK, agora não é mais um grande segredo) em termos de colaboração da H&M, depois da popular linha Marni deste mês, e que será anunciado em setembro, será com.... espere só para ver.... Tom Ford!

Os mais afiados observadores da moda ficarão realmente chocados com essa iniciativa. O homem que é tão obcecado na proteção de suas criações a ponto de não divulgar nenhuma fotografia até que as roupas cheguem às lojas está fazendo uma parceria com uma grande empresa de vestuário? O homem para quem tudo é "cortado à mão" e "mergulhado em ouro", e de outra forma inatingível, está entrando no mundo da linha de montagem? Isso é suficiente para fazer a gente pensar se a iniciativa com a H&M não seria uma mudança de posição, mas Ford diz que não. Assim como acontece com sua linha mais sofisticada, suas obras vendidas a preços menores serão limitadas e só poderão ser vistas no momento em que chegarem à H&M.

Quanto ao motivo da colaboração, parece que a comoção causada quando Jennifer Lawrence vestiu uma criação de Ford com decote traseiro na pré-estreia do filme "Jogos Vorazes" levou o estilista a começar a pensar em como chegar às clientes do futuro, e esse foi o resultado. Você não conseguiria imaginar isso. Exceto, confesso, que os três exemplos citados acima fossem inventados por mim para a coluna "Primeiro de Abril" do começo do mês. Se você não conseguiu perceber que era tudo mentira, então eu acho que isso prova que tenho razão. Quando o assunto é moda, até mesmo a ideia mais estapafúrdia pode ser possível.

Fonte:|http://www.valor.com.br/cultura/2620264/minha-bolsa-sera-daquele-cr...

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