Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Fonte:|.estadao.com.br|

Flávia Guerra - O Estado de S.Paulo

Entra temporada, sai temporada e os mesmos clichês se reproduzem. "A moda é mesmo cíclica?" Ou: "Qual é a identidade do estilo brasileiro?" Pode ser chavão, mas essas questões voltam à tona na São Paulo Fashion Week Verão 2011, que começa quarta e vai até o dia 14. O caráter cíclico estará presente inclusive na ambientação do evento. Uma imensa roda-gigante "enfeitará" o Pavilhão da Bienal, que tem como tema: Anima, ou a Alma do Brasileiro. Ou seja, uma "moda nacional" estaria em pleno work in progress.

Em progresso? Sim, seja qual for a acepção desse termo, as cenas que corriam em paralelo a menos de uma semana do início do evento comprovavam. Enquanto Fernanda Yamamoto conferia os últimos detalhes das peças que vão compor seu primeiro desfile no evento (dia 14), João Pimenta (dia 12) fazia os ajustes finais e Adriana Degreas (que estreia dia 12) preparava a prova de roupas, que será hoje. Eram três estreantes em seus ensaios de orquestra.

Enquanto isso, a coleção do veterano Oskar Metsavaht, da Osklen (quinta) estava literalmente crua, à espera do teste de corantes naturais que diretor de criação e equipe realizam, também hoje, no laboratório de um biólogo em São Paulo. "É simples. Se não der certo, não desfilo. Acho que temos de ter a liberdade de acertar e errar e, mais que tudo, de experimentar", defendeu o estilista, que para o verão 2011 se inspirou no mar. "São nuances de azul que quero na coleção. Busco a moda sustentável. Aposto no algodão, cujo maior produtor do mundo é o Brasil. Em vez de usar corantes sintéticos, queremos experimentar o anil."

Conceito. Experimentação é a palavra de ordem que Paulo Borges, diretor e criador da SPFW, emprega quando é também questionado sobre o papel de sua famosa semana. "Não se pode pensar apenas no mercado: a SPFW tem de ser a plataforma de valorização do design e da pesquisa de moda. Enquanto o Fashion Rio traduz o life style e a beach wear nacionais, São Paulo é mais calcada no estudo do design", comenta ele, que, criador e atual diretor dos dois eventos fashion mais importantes do País.

Não por acaso, Borges e equipe formataram as semanas carioca e paulista. Mais que competir, ter definido o caráter de cada evento acabou contribuindo para firmar a "marca Brasil". "Acho que o Paulo está certíssimo. Ele criou a SPFW e já prevê um futuro em que as duas semanas caminhem consolidadas e com identidades específicas. Já desfilei no Rio e estou feliz de estar em São Paulo", comentou Adriana Degreas.

De novata Degreas não tem nada. À frente da grife que leva seu nome, a estilista é sinônimo de praia sofisticada e promete levar à Bienal um "bain couture".

Mas a praia não estava reservada ao Rio? "Sim e não. É exatamente essa limitação que não podemos ter. Se minha beach wear, que propõe uma praia sofisticada, tem mais a ver com o design de São Paulo, quero desfilar na SPFW. E a própria Osklen, que é baseada no Rio, desfila aqui."

A busca do frescor e liberdade trouxeram Fernanda, Adriana e Pimenta ao line up paulistano. Cada um com histórico próprio, agregam à semana paulistana um elemento a mais neste tal "DNA da moda brasileira".

Para eles. Pimenta - que vem da Casa de Criadores - traz uma importante investigação da moda masculina. Dono de um estilo que imprime ao homem a ousadia de vestir uma moda menos quadrada, foi buscar nas raízes do Brasil seu tema de estreia. "Comecei a pensar nas origens do nosso estilo. E percebi que foi a partir da chegada da Família Real portuguesa ao Rio, no século 19, que se passou a pensar em estilo brasileiro e a mania de querer ser europeu. Queria brincar com isso num tempo em que podemos ser "só" brasileiros", conta Pimenta.

O resultado dessa pesquisa fashion arqueológica vai se traduzir em peças e golas barrocas, renda veneziana (sim, para homens!) e volumes diversos. "Por que, por exemplo, homem não pode usar calça mais alta e acinturada? Minha coleção tem muitos bodies e "homens de maiô". Vai ser ou amar ou odiar", contou. "Sinto que há muito que avançar na moda masculina. Ao contrário da feminina, em que praticamente tudo já foi inventado em termos de forma."

Fernanda Yamamoto - egressa do Rio Moda Hype - concorda. Consciente de que é pela busca de novos materiais que passa a brasilidade fashion, ela propõe uma "técnica muito antiga, que chega repaginada". "Inovar nas formas é quase impossível. O futuro é mesmo trazer novas técnicas e modos de produzir moda com meu olhar. Meu tema é a própria São Paulo, onde nasci e cresci. Mas trago uma São Paulo delicada, em cores suaves. Isso já diz muito sobre meu trabalho."

É dela o título de "uma das mais arrojadas estilistas da atualidade". Não só por sua pesquisa como designer, mas pela criação de sua loja, que completa seis meses. Detectando a falta de espaço e valorização para novos talentos, ela criou uma espécie de coletivo na Vila Madalena. "A loja é um bebê que está aprendendo a andar. Por mais conceito que traga, tem que vender e se pagar. E ainda não é fácil."

Fernanda e Pimenta, que se conheceram durante a sessão de fotos para o Estado, admitem que estão sentindo o peso de entrar para um evento do porte da SPFW. Prestes a completar 30 anos, a SPFW já recebeu mais de 1,8 milhão de pessoas. "Combinamos de cada um assistir ao desfile do outro. Esta é só a formatura. Ainda temos muito que progredir." A moda brasileira também.



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