Fonte:|valor online|
Farhan Bokhari e James Lamont, Financial Times
Fornecedores de tapetes da região de Xinjiang, no norte da China, ficaram chocados no mês passado quando suas mercadorias foram devolvidas por membros do governo do Paquistão na fronteira montanhosa que separa os dois países.
Com o governo chinês se movimentando para impor seu controle sobre a região predominantemente muçulmana, a proibição da entrada dos tapetes pelo Paquistão foi uma consequência dos esforços para impedir que os separatistas muçulmanos Uighur fujam de Xinjiang. É pouco provável que o ocorrido venha a ser registrado como queixa junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), sediada em Genebra, na Suíça, mas a medida ofereceu aos tecelões da Ásia central alguma proteção contra as altamente competitivas tecelagens chinesas.
"Não tínhamos ideia de que nossa decisão de bloquear os chineses iria ser também bem recebida pelos compradores de tapetes de alto nível", diz um membro do governo paquistanês envolvido no monitoramento dos comerciantes chineses. "Eles estão felizes pelos chineses não estarem vindo."
Um desses comerciantes é Imran Aman. Ele evita negociar tapetes chineses sob a alegação de que eles solapam um mercado em que os preços são altos. Aman lembra-se de como uma cliente sua, que gastou vários milhares de dólares no que pensou que fossem tapetes de seda iranianos, ficou chocada quando ele disse a ela que havia comprado falsificações chinesas.
Aman, proprietário da loja Kashan Carpets em Islamabad, diz: "Mas aí, era tarde demais para ela. Ela pagou muito mais do que os tapetes valiam. Os chineses estão agora copiando todo tipo de tapete caro".
Aman anseia por manter a lealdade de seus clientes. Muitos não conseguem identificar as qualidade de um tapete persa genuíno e mesmo assim se dispõem a pagar milhares de dólares por uma peça. Portanto, ele não deixa as variações chinesas entrarem em sua loja. Mas ele está entre um número pequeno e em encolhimento de vendedores de tapetes num país conhecido por muitos compradores estrangeiros como o centro comercial das peças fabricadas no Paquistão, Irã, Turcomenistão e Afeganistão.
Para o comprador não treinado, saber a diferença entre um tapete feito na China e um autêntico tapete iraniano ou um renomado tapete Hereke turco, é sempre difícil. Um sinal certo é o preço. Uma cópia chinesa de um tapete de seda iraniano pode ser vendido entre um terço e metade do preço de uma peça autêntica, segundo afirmam comerciantes.
O comerciante Aman cita o exemplo da Turquia, onde um tapete chinês - uma cópia de um tapete Hereke turco - foi colocado à venda. Embora o preço original da cópia chinesa fosse de apenas US$ 1 mil, ele acabou sendo vendido na Turquia por mais de US$ 6 mil.
"Os chineses podem não ter seus desenhos originais. Mas eles adquiriram tamanha habilidade em copiar os desenhos dos outros, que podem produzir falsificações perfeitas", afirma Aman.
Há várias descrições de quando os fabricantes de tapetes chineses começaram a copiar os tapetes de seda iranianos em grande escala. Alguns acreditam que a prática se tornou comum na década de 1990 em parte de Xinjiang. Mas um dos maiores produtores de tapetes persas feitos à mão, Henan Yilong, está baseado na China central.
"Os chineses descobriram que é muito lucrativo copiar os tapetes iranianos e turcos porque os compradores ficam obcecados por esses produtos, e nem todo mundo sabe diferenciar uma cópia chinesa de um tapete top de linha", diz um diplomata ocidental que coleciona tapetes iranianos.
Nem todo mundo está convencido de que os chinesas conseguirão manter sua vantagem competitiva. Alguns compradores de tapetes já prevêem a queda dos "fabricantes imitadores".
Latif Shah, um comerciante de tapetes afegão de Karachi, cidade portuária no sul do Paquistão, acredita que "o sucesso comercial dos chineses vai forçá-los a produzir mais e mais tapetes. Quando você entra na produção em massa desse produto, você perde qualidade".
Shah diz que um número crescente de lojas de tapetes está agora começando a manter abertamente seus estoques de tapetes chineses separados da mercadoria proveniente do Oriente Médio, numa tentativa de tranquilizar os clientes que gastam bastante.
"Tenho clientes que gastam mais de US$ 20 mil por ano com tapetes. Eles não só sabem distinguir um iraniano original de uma cópia chinesa, como também estão entre os meus melhores clientes. Não gostaria de perdê-los." (Tradução de Mario Zamariam)
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