Fonte:|corecon-rj.blogspot.com|
Desde o início dos anos 1990, um dos principais debates entre os economistas dizia respeito ao destino das indústrias tradicionais diante da abertura comercial e da competição chinesa. Além da indústria têxtil e de calçados, a indústria do vestuário causava preocupações maiores, e muitos a julgavam condenada ao definhamento.
De fato, as dificuldades vieram, exigindo um enorme esforço das empresas do país para suportar a competição internacional. Mas os dados mostram que, nesta década, o emprego, a produção e as vendas do setor têm crescido sistematicamente. Se é verdade que houve um grande incremento das importações, cabe registrar que elas são apenas 8% do que é consumido no país, mesmo com a valorização da moeda nos últimos anos.
O que teria contrariado os diagnósticos mais pessimistas? A resposta é moda. Moda como estratégia de negócio e competição. Isto se traduz em capacidade de inovar em design e construir marcas fortes, rompendo com as práticas anteriores de pura imitação das marcas estrangeiras ou do conforto de fabricar produtos básicos em larga escala.
A estratégia de inovar e diferenciar produto, antes esparsa em algumas empresas, tornou-se padrão de mercado com o crescimento das marcas brasileiras projetadas pela São Paulo Fashion Week, hoje a quinta maior semana de moda do mundo. O sucesso das marcas pioneiras incentivou um número cada vez maior de empresas nos vários níveis de preço e tipos de mercado a seguirem o mesmo caminho.
Isto explica, em boa medida, a sobrevivência de um setor fortemente pressionado pela globalização. O desenvolvimento de um design inovador e de produtos adaptados ao consumidor brasileiro parece ter sido mais eficiente na defesa do mercado nacional do que qualquer outra medida protecionista. O Brasil é, hoje, um caso raro em que, no mercado doméstico, as marcas locais se sobrepõem em prestígio e força comercial às marcas globais.
Os números impressionam. São mais de dois milhões de empregos na indústria, considerados os setores de vestuário, calçados e têxteis. Mais de um milhão no comércio especializado. E um número ainda não quantificado em diversos serviços como consultorias, fotógrafos, agências de modelos, publicidade, mídia especializada e empresas de eventos. Só a SPFW mobiliza, a cada edição, 5 mil empregos, milhares de jornalistas do Brasil e do exterior e 100 mil convidados, o que faz dela um dos maiores eventos de São Paulo, ao lado da Fórmula-1.
Além disso, mais recentemente, foi o próprio Brasil que "entrou na moda". Isso porque o Brasil consolidou a imagem de país que combina maturidade econômica e competitividade a uma democracia estável. A reação positiva frente à mais grave crise econômica das últimas décadas reforçou a percepção do Brasil como nação do presente. Uma nação que abarca com tolerância e pacífica convivência uma grande diversidade cultural e étnica. Estas características têm ajudado nossas marcas também.
Das sandálias Hawaianas aos estilistas de prestígio internacional, passando pelos tecidos de alta qualidade, vestuário arrojado e calçados de design, a moda encontrou seu caminho graças à iniciativa de um grupo inovador de empresas industriais e de eventos. É preciso reconhecer, valorizar e sustentar essa saudável resistência. Ela é fruto do esforço de lideranças empresariais, de milhões de trabalhadores e da participação ativa da mídia.
Há, entretanto, desafios pela frente. Para as empresas, a convicção de que é preciso construir marcas e mercados além das fronteiras nacionais. O reconhecimento internacional da nossa moda ainda não se transformou, salvo raras exceções, em sucesso de vendas no exterior.
As políticas públicas de desenvolvimento também têm um papel a cumprir. Além de coibir as práticas desleais de comércio, é necessário construir programas que incentivem a qualificação das empresas e de seus trabalhadores para produzir moda com padrão mundial, pois a força da Marca Brasil depende também do crescimento das marcas do Brasil no mundo.
ANTÔNIO PALOCCI é deputado federal (PT-SP) e foi ministro da Fazenda.
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