Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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em espaço para ampliarem suas reservas no Brasil, as múltis do petróleo estão dirigindo investimentos para novas fronteiras exploratórias espalhadas pelo mundo. Só uma rápida volta aos leilões pode mudar esse cenário

Quando a descoberta do pré-sal foi anunciada, em 2007, as companhias de petróleo em peso tomaram o rumo do Brasil, atraídas pela propalada existência de “uma Arábia Saudita" aguardando para ser explorada no fundo do mar. Cinco anos depois, a situação mudou, e não foi para melhor. Enquanto novas e importantes fontes de combustível são descobertas ao redor do mundo, o pré-sal ainda engatinha. a produção brasileira estagnou e as empresas petrolíferas estrangeiras, desanimadas, estão minguando seus investimentos no país ou mesmo indo embora. Em reação a esse movimento - e à pressão das empresas reunidas no Rio de Janeiro há duas semanas para uma feira do setor - , o governo anunciou que as rodadas de licitação de novos poços, na prática suspensas desde 2008, devem ser retomadas. Pelo cronograma divulgado, em maio serão licitados blocos em terra e mar e, em novembro, finalmente, ocorrerão os primeiros leilões do pré-sal. A notícia foi recebida com um pé atrás - para se concretizar, a distribuição dos blocos depende de espinhosas movimentações políticas, sobretudo quanto à distribuição de royalties, exatamente o que vem emperrando a exploração das reservas de petróleo no mar profundo desde o começo.

Cientes do tamanho da dificuldade, nos últimos meses sete petroleiras com amação no Brasil venderam pane de seus negócios aqui e decidiram aplicar os recursos destinados a novos investimentos em países como Canadá, Estados Unidos, Angola e Nigéria — todos com descobertas feitas depois do pré-sal, mas já em plena operação (veja o quadro abaixo). O desenvolvimento dessas novas fronteiras de exploração de fontes de combustível fora do Brasil recebeu só no ano passado 174 bilhões de dólares do setor privado, mais do que todo o orçamento da Petrobras para o pré-sal até 2016. “O mundo vive um boom de investimentos em petróleo, mas o dinheiro novo não está vindo para o Brasil. E não vem por um motivo simples: não há novas oportunidades aqui”, diz Jorge Camargo, ex-presidente no país da Statoil, empresa que no ano passado se desfez de 40% de sua parcela no campo Peregrino, na Bacia de Campos.

O movimento das multinacionais obedece à lógica mais elementar do capitalismo. Petroleiras precisam renovar suas reservas continuamente para garantir sobrevivência e lucros, já que os poços se esgotam. Como o Brasil praticamente travou todas as tentativas de rodadas de venda de blocos desde o anúncio do pré-sal, só estão atuando na área as empresas que tiveram a sorte de conseguir um quinhão da exploração dessa riqueza antes e hoje são sócias da Petrobras. A própria Petrobras tem contribuído para o desânimo geral dos investidores, com decisões que afetam negativamente seus resultados e estão provocando a ira dos sócios minoritários. Nesse contexto, as multinacionais que não têm onde perfurar estão optando por ir embora. A última a abandonar a exploração no Brasil foi o gigante americano Exxon Mobil, a maior companhia de petróleo do mundo, que em abril anunciou ter desistido do Azulão, bloco no pré-sal que não se provou viável. A Exxon está investindo 185 bilhões de dólares em novas áreas ao redor do mundo nos próximos cinco anos — nenhuma delas no Brasil. Sua maior aposta se encontra nos Estados Unidos, país que vive uma revolução energética graças ao avanço da tecnologia para retirar o gás preso dentro de rochas no subsolo. A produção americana do gás de xisto triplicou nos últimos quatro anos, o que tornou o país autossuficiente em gás e ajudou a reduzir em 27% a importação de derivados do petróleo nesse período. Desde 2011, o setor privado como um todo investiu 234 bilhões de dólares nos Estados Unidos, e 600000 empregos foram criados desde 2010. "Para os americanos, o gás de xisto pode ser uma das formas de sair da crise. E nós. que tínhamos tudo para estar vivendo uma prosperidade inédita, estamos sentados sobre nossas reservas", lamenta Adriano Pires, consultor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.

O desânimo das empresas estrangeiras ficou patente em julho passado, quando a americana Anadarko desistiu de repassar sua operação no Brasil por falta de interessados. Mais sorte teve a espanhola Repsol, que vendeu 40% de seus campos à chinesa Sinopec ainda em 2010, no auge do entusiasmo mundial com o Brasil. A Shell também vendeu uma participação no pré-sal à novata Barra Energia e agora concentra os maiores quinhões de seus novos investimentos em exploração nos Estados Unidos, no óleo pesado que emerge das areias do Canadá e do Alasca e ainda na África, onde as condições geológicas são semelhantes às do pré-sal. Só neste ano, o gigante inglês investirá 30 bilhões de dólares em novos negócios. Embora uma parte venha para os blocos que a empresa já tem em exploração no Brasil, a maior fatia vai para as novas fronteiras petrolíferas. Se a recém-anunciada volta às licitações resultar em negócios concretos, o Brasil poderá retornar ao time dos detentores de reservas efetivamente promissoras. Se não, poderá chegar a 2015 sem nenhum poço sendo perfurado, mesmo com o subsolo repleto de óleo. "Todo mês recebemos duas ou três consultas de empresas de fora querendo se instalar aqui. Se houver onde investir, elas virão", garante João Carlos de Luca, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP).

 

“Política é nociva à Petrobras”

Um grupo de investidores está especialmente apreensivo: os fundos estrangeiros que são acionistas minoritários da Petrobras. Preocupados com os maus resultados da estatal, eles protestaram formalmente à sua presidente, Graça Foster, e ao ministro Guido Mantega. Eles reclamam da eleição do empresário Josué Gomes da Silva, da Coteminas, para representá-los no conselho. “Foi um jogo de cartas marcadas", disse a VEJA Karina Litvack, diretora do F&C de Londres, administradora de ativos de 160 bilhões de dólares.

Os fundos não foram consultados sobre a eleição de Josué da Silva?Teoricamente, tivemos a oportunidade de votar. Mas o processo foi cheio de falhas. Uma vez indicado, ele foi automaticamente empossado por ter o apoio do bloco formado por Previ, Funcef e BNDES - que não deveriam ser classificados como minoritários, já que seus interesses são alinhados com os do governo. Os interesses dos verdadeiramente minoritários não estão representados.

Vocês tentaram resolver a questão antes de ela vir a público? Procuramos o ministro Mantega, que é presidente do conselho, em várias ocasiões. Em vão.

Quais são os problemas de gestão da Petrobras?

Confiamos nos administradores da empresa, mas é preciso livrá-la de interferências políticas. Esperamos que nossos representantes pressionem a gestão atuai a reconsiderar os investimentos em refinarias, já que não existe um sistema formal para calcular o preço a ser cobrado por produtos como gasolina e diesel. Desde agosto de 2009, a Petrobras já perdeu 48% de seu valor, ou 164 bilhões de dólares. E isso num período em que as ações das petroleiras aumentaram, em média, 46%. É uma destruição de valor que nos preocupa, ruim diante do enorme desafio do pré-sal. É urgente mudar de rumos.

Fonte:Veja

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