Caprichando na pose de parente de todos os mais de mil mortos, Sérgio Cabral só não caiu no choro ao ouvir o que dizia Dilma Rousseff naquele 27 de janeiro de 2011 porque acabara de chegar de Paris ─ e ainda convalescia das alegres noitadas divididas com a Turma do Guardanapo. Se não fosse a lembrança da farra, o governador começaria a debulhar-se em lágrimas ao saber que, para abrigar os 15 mil flagelados da Região Serrana, a presidente ordenara a imediata construção de 6 mil casas ─ nem mais, nem menos. E sucumbiria ao pranto convulsivo com a segunda grande notícia que Dilma tirou do bolso do terninho.
Já no verão seguinte, prometeu a supergerente de país, a pior das tempestades ficaria com cara de garoa graças às medidas de prevenção de enchentes que encomendara na véspera ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra. Em novembro, Bezerra reapareceu na zona conflagrada não para comemorar a conclusão de algum conjunto habitacional, muito menos para mostrar alguma encosta redesenhada para resistir a aguaceiros. Estava lá para inaugurar outra promessa de Dilma Rousseff: quando as chuvas viessem, encontrariam prontos para o combate “6 mil agentes da Defesa Civil treinados para agir nas áreas de risco”.
Em 19 de janeiro de 2012, Dilma revelou que esse exército fantasma sustentaria a estratégia definida pela força-tarefa comandada por Fernando Bezerra, Gleisi Hoffmann (chefe da Casa Civil), Aloizio Mercadante (então colecionando trapalhadas no Ministério da Ciência e Tecnologia), Alexandre Padilha (Saúde), Paulo Passos (ainda ministro Transportes) e Enzo Peri (comandante do Exército e ministro interino da Defesa). “Isso não é força-tarefa”, resumiu o jornalista Celso Arnaldo Araújo. “É farsa-tarefa”. Não merece outro nome o grupo escalado de enquadrar enchentes, inundações, deslizamentos e afins valendo-se do inesgotável estoque de malandragens, tapeações e fantasias eleitoreiras.
O post reproduzido na seção Vale Reprise resume a Ópera dos Vigaristas. Nenhuma casa foi construída. Nenhuma medida preventiva deu as caras na Região Serrana além da patética rede de sirenes. A presidente e os ministros não cumpriram o combinado. Os governadores preferiram concentrar-se em atividades mais lucrativas. Nenhum projeto relevante saiu do papel. As verbas não desceram do palanque. Só alguns prefeitos gatunos viram a cor de dinheiro ─ que imediatamente embolsaram. Nada foi feito para reduzir o medo dos moradores das áreas em perigo.
No penúltimo verão do governo Dilma, os canastrões no palco resolveram debochar da plateia que tudo engole sem engasgos. A presidente agora acusa os mortos de terem optado pelo suicídio. Se as vítimas não descobrirem que há limites para a desfaçatez até no Brasil Maravilha, a presidente mais inepta da história vai querer prender os sobreviventes. Todos cometeram o mesmo crime: morar no lugar errado.
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