O grenal, fla x flu e o jornal nacional robotizados

[Sam de Mattos]

O GRENAL, FLA x FLU E O JORNAL NACIONAL ROBOTIZADOS

 

Imaginem voces un Fla x Flu ou GRENAL sendo apresentado por uma câmara robotizada, assistidas por varias outras com um programa que lesse os números dos jogadores, e/ou que tivesse os seus estilos devidamente registrados e identificados e com regras do futebol programadas em seus  hardware!

Imaginem essa voz de “lata”. Metálica descrevendo o jogo?

Agora imaginem o desuso da caligrafia, do escrever, todos os textos sendo escritos por meio do teclado... E é para lá que vamos.

Por exemplo: Eu cometo alguns erros tipográficos. Sou dos tais que algumas vezes por lapso escrevo vezes com “s” sorriso com “z”, ou viagem com “j”. Nesse caso a digitalização com correção  me economiza horas de pesquisa nos “Pai dos Burros” e também me desmotiva a estudar melhor a léxica e a gramatica.

Deixando o debate acima em suspenso, vamos à palavra teclada: Nas cartas eu sabia o nível de escolaridade, ou falta de proficiência da palavra escrita de alguém pelo formato das letrinhas de um. Podia discernir um pouco mais a fundo sobre a caligrafia espraiada do vaidoso, pelos traços do “t” (dizem que para baixo e meio “deprê” e cruzando para cima denota otimismo), pelos bordados das letras ou escrita enigmática de um medico, sem tempo para consultar o dicionário e com escolaridade gramatical duvidosa. Nesse ponto o teclado é mais socializado.

Assim, gramaticalmente, ou mais especificamente, caligraficamente, como o robô descrevendo um FLA-FLU, vai se acostumando a essa palavra digitalizada, sem arte, sem cara, sem personalidade e politicamente correta. Ai é a socialização nos roubando a individualidade.

Sem polemizar os pros e os contras, vou concluindo com o seguinte pensamento: Suponhamos que um programa de computador emule a nossa escrita de modo aceitável:  por melhor que seja, esse programa forçosamente terá que “scanear” e estudar as nossa caligrafia em primeiro lugar. Dai, ainda que venha existir esse programa, primeiramente nos TEREMOS QUE TER a nossa caligrafia.

Claro que por esse teclado voces têm alguma ideia sobre o escritor. Ah, mas vendo voces a minha escrita rápida, nervosa, com longos traços cortando os “t”, os “s” terminando as palavras com uma perninha pronta a juntar-se com a próxima letra, ou analisando a variação periódica dessa caligrafia meio neurótica, voces ate podiam sentir o meu estado de espirito num determinado dia.

Mas os dias dessas sutilezas, salvo por expletivos usados e o tom do texto, estão fadados a desaparecer; mesmo assim espero que os locutores permaneçam por ai um pouco mais, anunciando os jogos de futebol e nos trazendo o jornal pela TV.