Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Fonte:|Valor online|

Uma operação financeira extremamente rentável, mas, ao mesmo tempo, uma "catástrofe" em termos de estratégia empresarial. É dessa forma que analistas e bancos na França veem a possibilidade da venda das operações do Carrefour no Brasil e na China, que estaria sendo exigida pelos dois principais acionistas do segundo maior grupo varejista do mundo, com faturamento de mais de € 108 bilhões no ano passado.

A americana Colony Capital e o bilionário francês Bernard Arnault, dono do maior grupo de luxo do mundo, o LVMH, detém 13,5% do capital do Carrefour. Segundo o jornal "Le Monde", eles estariam exercendo pressões para que o Carrefour venda suas filiais em países emergentes, onde a taxa de crescimento das vendas do Carrefour é a mais elevada e com o futuro mais promissor. O Brasil, onde as vendas cresceram 14,3% no primeiro semestre deste ano, representa a terceira maior receita do Carrefour no mundo, após França e Espanha. Na sede da empresa, em Levallois-Perret, nos arredores de Paris, a ordem é de "não comentar no momento" o assunto, informou o Carrefour ao Valor.

Os dois sócios do Carrefour (ler sobre a Colony Capital nesta página), que entraram no capital da empresa em março de 2007, querem elevar o preço das ações do grupo varejista, que perderam cerca de 30% desde então, e recuperar, dessa forma, os milhões de euros que viraram pó. A iniciativa de vender operações em mercados com crescimento na casa dos dois digítos, enquanto na maior parte dos países europeus as vendas e os lucros estagnam ou caem, é algo que corresponde perfeitamente ao estilo empresarial de Arnault, conhecido por buscar sempre a melhor rentabilidade. Esse também é o motor de seu interesse pela atividade que o permitiu construir um império em apenas duas décadas. "O que é luxuoso na indústria do luxo são as margens", costuma dizer, com ironia, Arnault.

Formado em uma renomada escola de engenharia, a École Polytechnique, Arnault, 60 anos, maior fortuna da França e 15ª mundial, segundo a "Forbes", não é um industrial tradicional, que criou uma companhia ligada à sua área e a desenvolveu durante décadas a fio. Considerado um "conquistador" de empresas, seus métodos se assemelham a de um financista, ávido por bons resultados nas bolsas. Nos anos 19 80, especializou-se na compra e reestruturação de empresas quebradas, às vezes com métodos brutais, para vendê-las depois. Foi dessa forma que, com apenas 40 anos, tornou-se o principal acionista do LVMH (dono de uma carteira de 60 marcas prestigiosas, entre elas Louis Vuitton, Dior, Givenchy, Moët Chandon e Veuve Clicquot), que faturou mais de € 17 bilhões em 2008.

Estudioso durante a juventude (alguns diziam que ele tinha ares de seminarista), Arnault, originário do norte da França, começou trabalhando na empresa de seu pai, do setor da construção. A atividade, de porte médio, era próspera, mas sem grande projeção. Aos 27 anos, ele quis voar com as próprias asas e foi para o Canadá abrir uma filial, que não deu certo. Ao voltar para França, convenceu o pai a vender a companhia (o que representou o início da fortuna familiar) e também a criar uma nova empresa, de construção e venda de casas de veraneio, que registrou forte expansão em poucos anos.

No início dos anos 1980, presidente dessa nova companhia, ele partiu para a conquista do mercado americano, mas sua filial no país não teve sucesso e ele retornou à França. Foi em 1984 que começou a grande reviravolta, que o fez ser chamado de "predador" por alguns. Arnault, à procura de empresas para comprar, descobre o falido grupo Boussac, do setor têxtil. Havia outros interessados, inclusive Pierre Berger, presidente da grife Yves Saint Laurent, mas Arnault conseguiu o apoio do governo francês e levou o negócio. Em seis anos, revendeu 30 fábricas e demitiu 8 mil pessoas.

Todos os ativos do grupo Boussac foram vendidos, com exceção da prestigiosa grife Christian Dior e da loja de departamentos Le Bon Marché. Ele modernizou a Dior, ainda uma empresa de ares artesanais, e a utilizou para avançar sobre o grupo LVMH. "Seu primeiro grande sucesso lhe deu confiança. Ele tomou gosto pelo jogo dos negócios e quis ir ainda mais longe", dizem as ex-jornalistas do "Le Figaro" Nadège Forestier e Nazanine Ravaï, autoras do livro "Bernard Arnault ou o Gosto pelo Poder".

Em 1989, ele entrou no capital do LVMH, resultado da fusão entre Moët Henessy (vinhos e destilados) e Louis Vuitton. Arnault aproveita uma brecha provocada pelos desentendimentos entre os presidentes dos dois grupos franceses e se torna acionista majoritário e também presidente da companhia. "Daí vem o medo que ele inspira no grupo de luxo", escrevem as autoras do livro, que afirmam que Arnault "é criticado pelos funcionários por sua brutalidade e agressividade e também por sua frieza". Não é à toa que pouquíssimos têm coragem de convidá-lo para almoçar por medo de ouvir a resposta que se tornou lendária: "temos algo para falar?"

Casado pela segunda vez com uma pianista canadense e pai de cinco filhos, Arnault também é conhecido por ser um grande colecionador de artes plásticas (a Fundação LVMH de arte contemporânea deve ser inaugurada em Paris em 2010) e um exímio pianista, desde os 15 anos de idade. Mas segundo as autoras de "Bernard Arnault ou o Gosto pelo Poder", o empresário gosta mesmo é de mandar. "Sempre quis dirigir uma empresa. Nunca me vi fazendo outra coisa", diz ele no livro. Resta saber se seus métodos implacáveis serão utilizados para convencer o Carrefour a sair do Brasil.

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