Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

"O mercado Têxtil Europeu tornou-se um mercado de todos. Isso criou concorrência desleal"

Fonte:|netconsumo.com|

A indústria têxtil não foi respeitada no momento devido pelo poder central, era considerada uma indústria da gente do Norte, com salários baixos. Já perguntei a um Presidente da República se conhece alguma indústria que por ter salários altos triunfe, principalmente quando é exposta à concorrência da China. Se calhar, por termos salários baixos dentro da realidade que é a Europa, temos uma arma que nos vai permitir triunfar num futuro próximo, porque o esmagamento do mercado ocidental pela China não vai durar para sempre. Já temos industriais a dizer que alguns clientes europeus estão a regressar. Como era de esperar, são os mais exigentes em qualidade - não só de fabrico, mas quanto a entregas a tempo, design, moda, conselhos e assistência. Portugal e mais um ou dois países da Europa têm a melhor indústria têxtil do mundo.

Porque temos vergonha disso?
Tacanhez. Faz parte da tradição da intelligentsia central portuguesa ter vergonha de ter os melhores têxteis, a melhor indústria de calçado e de moldes. Esquecem--se que foi através do têxtil que se desenvolveu o trabalho em cadeia, que Adam Smith concebeu as suas teorias e fábricas, que se progrediu para a indústria automóvel em termos de método de fabrico. Não é por haver muita tecnologia que se triunfa na indústria, tendo pela frente China, Índia, Bangladesh e agora o Paquistão, que nos querem enfiar pela boca abaixo para satisfazer os interesses políticos de alguns dos colegas da União Europeia. Se é a tecnologia que nos ia salvar, porque é que o Silicon Valley da Califórnia se transferiu para a Índia? Quando se abre a porta à concorrência desleal de economias que não estão ao nível da nossa, arriscamo-nos a este tipo de situações. Devíamos ter pensado nisso antes.

Faltou mão-de-ferro à UE ?
Não temos verdadeiros estadistas. Qualquer pessoa com algum conhecimento da história da humanidade e de economia previa os efeitos do que se passou. A não ser que haja outra coisa, como interesses da grande distribuição e importadores, que se sobrepõem aos da indústria e que, para fazer fortunas, estão a provocar a liquidação da indústria de um continente - e nenhum país pode sobreviver sem indústria. Estiveram muito mal os governantes europeus. Cederam, foram fracos.

O grande desgaste deu-se a partir de 2005, com a liberalização total do comércio mundial?
A Europa de alguma forma desiludiu. De repente deixou de ser um mercado comum europeu para ser um mercado de todos. Temos estado sujeitos a um desgaste muito grande principalmente desde 2005, ano de adesão da China à Europa e não me engano quando digo adesão. A China beneficia em Portugal de todas as prerrogativas de um país europeu, sem os custos. Quando se importam produtos têxteis da China paga-se 7% de direitos aduaneiros; se enviarmos para lá alguma coisa pagamos 35%. Quem fez um acordo destes e porquê? Não é só no têxtil, todas as indústrias ligeiras estão a ter problemas.

Qual é o caminho a seguir?
Os diagnósticos estão feitos, faltam os remédios. Estamos em condições melhores de começar a recuperação antes de outros países. Em Portugal, o Estado podia ajudar, por exemplo, se o IRC das fábricas que têm lucros e os reinvestem na melhoria das capacidades de produção e distribuição só fosse cobrado quando houvesse distribuição de dividendos. As fábricas e os bancos estão descapitalizados. Temos de pensar que substituir as importações é tão bom como exportar. Portugal importa 70% dos alimentos que consome - antes da adesão à UE, importávamos 25% a 30%. É mais barato importar, mas pode ser que os portugueses tenham de optar por cenouras mais pequenas, portuguesas. Temos de meter na cabeça que o que é português deve ter prioridade, ou o que for realmente de origem europeia. Porque qualquer país, desde que a indústria em questão esteja devidamente certificada, pode aplicar a marca CE. Comprar produtos portugueses é salvar empregos. E isto tem de ser dito com coragem.

A indústria têxtil portuguesa acabará por se salvar?
Vai sobreviver, mas nunca mais teremos aquelas encomendas de milhões de peças, essas vão direitinhas para os países de mão-de--obra barata. Durante um tempo vamos continuar a ver empresas a fechar. Os clientes vão comprar menos. Em Portugal faremos as séries mais curtas, que exigem mais organização, tecnologia e a mesma qualidade que faz do nosso têxtil o melhor do mundo.

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