Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Cristina Kirchner2A política econômica brasileira está cada vez mais parecida com a argentina: o Estado não consegue poupar, o empresariado não quer investir, o Governo massageia os números oficiais, a pressão inflacionária se acumula aqui (e explode lá), e — o mais grave de todos os pecados — o poder central é incapaz de fazer um mea culpa.

É hora do nosso segmento especial: “Como partidos populistas aqui e lá fazem exatamente o contrário do que dizem acreditar e levam um país à bancarrota no processo.”

No capítulo de hoje, o triste fim de uma alegoria populista do lado de lá da fronteira. (Agradecimentos ao colega Ariel Palácios, que narrou esta pérola no Estadão.)

Em 2011, o empresário argentino Alex Gordon — com um tino comercial quase tão grande quanto sua propensão ao peleguismo — resolveu prestar uma homenagem das mais lindas ao governo de seu país.

Corria o tempo da reeleição da presidente Cristina Kirchner, e a herança maldita do kirchnerismo ainda não havia explodido em praça pública. Era apenas uma bomba-relógio embrulhada no pavilhão nacional.

A ideia de Gordon era batata, ou melhor, era hambúrguer: montar uma rede de fast food nacionalista. Assim nasceu a “Nac e Pop”, onde o hambúrguer, o cachorro quente e a batata frita foram todos pensados para atrair kirchneristas — o que é curioso, porque esse pessoal acredita em ‘almoço grátis’. “Nac e Pop”, explica-se, é a abreviação de “Nacional e Popular”, o slogan do kirchnerismo.

Pense em todos os clichês que os populistas usam para chegar ao Poder:

Gordon falava em “revalorização nacional”;

Dizia que sua rede ia “enfrentar” as concorrentes estrangeiras com preços mais baixos;

Prometia hambúrgueres feitos “100% com carne de verdade”;

Não vendia refrigerantes de empresas multinacionais e oferecia apenas bebidas argentinas.

Cada unidade da “Nac e Pop” era decorada com fotos de Evita Perón, Maradona, e Che Guevara, entre outros ícones argentinos ou socialistas.

Este era o sonho.

Agora, o desfecho da história.

A “Nac e Pop” quebrou. Terá sido porque o poder de compra de sua clientela foi comido pela inflação de Cristina Kirchner? Ou porque suas metas de faturamento eram tão fictícias quanto o superávit primário brasileiro? Será que tudo era uma tentativa de lavagem de dinheiro youssefiana? A carne era Friboi? Será que a PJ quebrou mas Gordon continua bem na física? Ou será que os ‘preços mais baixos que a concorrência’ eram tão insustentáveis quanto gasolina subsidiada?

Escolha o motivo-clichê que quiser, governos populistas sempre farão jus a ele.

Gordon, que prometia “tratamento igualitário” aos empregados, não paga salários, contas nem encargos sociais há três meses, e está desaparecido.

Na segunda-feira, parte dos 170 funcionários da “Nac e Pop” protestavam na frente das filiais, exigindo a presença de Gordon, de acordo com o relato de Ariel Palácios.

No Brasil e na Argentina, “salvar os pobres”, “lutar pela soberania nacional”, e “valorizar o que é nosso” são ideias poderosas que frequentemente conseguem vitórias eleitorais. A baixa escolaridade e a desigualdade de renda fazem muitos cidadãos reféns da ideia de um “pai dos pobres” ou de uma “mãe do PAC.”

Mas nestes países, a experiência mostra que, para entender a realidade, você tem que ler o livro de cabeça para baixo.

Assim, quando defendem que “o petróleo é nosso,” é porque ele é dos políticos — você é apenas o crédulo, o pato, a massa de manobra.

Quando dizem que “o pré-sal é estratégico”, é porque já bolaram estratagemas para saquear o cofre.

E quando urram que “a Petrobras é um patrimônio dos brasileiros,” você já sabe qual patrimônio vai crescer no final da história.

É nessa retórica do avesso que o conto do hambúrguer e o do petróleo se encontram, e onde o fracasso espetacular de uma alegoria populista pode servir de aviso e lição.

Por Geraldo Samor

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Comentário de Romildo de Paula Leite em 26 setembro 2014 às 16:30

   Mas nestes países, a experiência mostra que, para entender a realidade, você tem que ler o livro de cabeça para baixo.

Comentário de Romildo de Paula Leite em 26 setembro 2014 às 16:28

   A baixa escolaridade e a desigualdade de renda fazem muitos cidadãos reféns da ideia de um “pai dos pobres” ou de uma “mãe do PAC.”

Comentário de Romildo de Paula Leite em 26 setembro 2014 às 10:33

  E quando urram que “a Petrobras é um patrimônio dos brasileiros,” você já sabe qual patrimônio vai crescer no final da história.

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