O seu bem-estar financeiro, assim como o de qualquer pessoa, depende basicamente de duas variáveis: quanto você ganha e quanto você gasta.
No longo prazo, se você deseja ficar rico um dia, seu foco deve ser no primeiro ponto. Por meio do crescimento na carreira, ou empreendendo, você deve ter como objetivo aumentar a entrada de recursos.
Enquanto isso, no curto prazo, para conseguir não apenas fechar as contas do mês, mas ter certa tranquilidade ao colocar a cabeça no travesseiro, o gerenciamento deve se concentrar no segundo componente da equação.
Assim como a água do Cantareira, seu dinheiro acaba
Mas como avaliar se o seu dinheiro é bem gasto?
Minha observação - nada científica - consegue notar ao menos três tipos de comportamento de compra na população de classe média, que está diretamente relacionado com o número de perguntas que a pessoa se faz antes de decidir sobre uma despesa.
O primeiro grupo reúne as pessoas que, presume-se, façam um único questionamento antes de decidir gastar, que é umbilicalmente ligado ao desejo de compra: "eu quero?"
(A presunção de que existe essa primeira pergunta é apenas isso, uma presunção, já que a tentação e o prazer da compra em si às vezes é tão grande que podem até suprimir essa etapa inicial).
Uma boa estimativa para o tamanho desse primeiro grupo foi feita pela Serasa na semana passada, ao divulgar que 57 milhões de brasileiros estão inadimplentes hoje, ante 55 milhões em agosto de 2013 e 52 milhões no mesmo mês de 2012.
Esse grupo, que representa 40% da população em idade adulta do país, provavelmente não chegou à segunda pergunta necessária em um processo de compra, que é: "eu tenho como pagar?"
É importante destacar que a palavra "como" nessa frase equivale a "condições financeiras", e não a meio de pagamento, seja dinheiro, cartão de débito ou cartão de crédito disponível na carteira.
Boa parte das pessoas integra o segundo grupo, que considera que essas duas questões são suficientes para uma compra responsável e de qualidade. Ora, se eu quero algo e posso pagar, o assunto está resolvido.
Se suas "condições financeiras" tendem ao infinito, ou seu saldo bancário tem mais de 8 dígitos (antes da vírgula), você pode seguir esse receituário que não deve ter maiores problemas.
Já se você é um pouco menos abastado, tem grandes chances de fazer mau negócio se parar na segunda pergunta.
Pode até não ficar devendo na praça - embora corra esse risco, caso viva sempre no limite e surja um imprevisto.
Mas provavelmente estará usando mal seu dinheiro, que poderia ser investido para o futuro, ou mesmo gasto de forma mais eficiente no presente.
É importante deixar claro que a ideia aqui não é sugerir que você deixe de comer pizza nos fins de semana hoje para comê-las no caixão no futuro.
Não me parece tampouco que atrairia muita gente acrescentar como terceira pergunta: "eu preciso?" Quase ninguém precisa de uma casa na praia, de um iate ou de um helicóptero, mas nem por isso essas compras são necessariamente ruins.
A questão é de sustentabilidade. De evitar desperdícios e usar bem recursos finitos. Afinal, assim como a água do Cantareira, o seu dinheiro também acaba. E se você precisa usar o volume morto da sua conta, os juros ficam acima de 150% ao ano.
Vejamos então um exemplo. Com as contas do mês quitadas, uma pessoa que tem R$ 5 mil na conta e vê na vitrine uma roupa de R$ 500, um relógio de R$ 1 mil e uma bolsa de R$ 2 mil pode comprar os três itens à vista sem entrar no vermelho.
Mas será que o dinheiro será bem gasto? Depende.
Dentro do tema "querer" é importante saber: 1) se são só esses produtos que a pessoa quer comprar - e portanto ficará satisfeita - ou se a lista de vontades é enorme e ainda haverá uma porção compras por fazer, o que leva ao ponto 2) qual a posição desses três itens no ranking de desejos?
Para entrar no terceiro grupo dos compradores a pessoa deve procurar responder às seguintes questões.
1 - Eu vou usar? Quantas vezes? Você conhece alguém que compra um sapato ou uma roupa, guarda, e só descobre que nunca usou o produto quando resolve fazer uma faxina nos armários anos depois? Ou que tem um sítio para o qual nunca vai? O mesmo vale para serviços. Quantas pessoas pagam clube ou academia sem frequentar ou TV a cabo com mil canais sem nunca ter tempo para assistir?
2 - Quando eu vou usar? Se sua necessidade não é imediata, você pode esperar uma promoção, pesquisar na concorrência, ou mesmo aguardar uma viagem já planejada ao exterior para comprar mais barato.
3 - O que explica o preço? A característica que torna um produto caro deve ter algum valor (ou utilidade para você), mesmo que seja o nome na etiqueta. Por exemplo, faz todo sentido pagar caro por um colchão de última geração que você usará todo dia (ou mesmo por um relógio ou bolsa da marca de que você gosta muito). Mas de que adianta comprar um casaco ou uma bota que custam caro porque têm uma tecnologia ótima para a neve se você não vai usá-los no Brasil? Da mesma forma, um vinho caro pode ser uma ótima compra para um enólogo, mas talvez você não capture todo o valor do produto.
4- Eu já tenho algo semelhante que atenda à mesma necessidade? É verdade que os apartamentos novos têm motivado a população a ser mais desprendida pela falta de espaço, mas é comum as pessoas terem tanta coisa que muitas vezes só percebem que tinham algo igual ou equivalente no armário quando chegam em casa com o pacote.
5 - Existe melhor uso alternativo para o dinheiro neste momento? É bastante provável que a soma dos valores da lista de seus desejos de compra supere o montante que você tem na conta ou de que pode dispor mensalmente para pagamentos parcelados. Então priorize aquilo que te deixa mais satisfeito e feliz, e corte os gastos com menor impacto no seu bem-estar. Quando fazemos uma lista dos nossos gastos há coisas ali que consomem boa parte do orçamento e você nem aprecia tanto ou faz questão de ter.
Fernando Torres é repórter de S.A.
E-mail: fernando.torres@valor.com.br
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