O ex-presidente Lula, provando que sempre é possível descer mais mesmo quando se está lá embaixo, acusou o candidato Aécio Neves de “filhinho de papai” em um comício em Minas Gerais, ao lado do governador eleito Fernando Pimentel.
Mas cabe perguntar: quem é o verdadeiro “filhinho de papai”? Aquele que governou o estado de Minas por dois mandatos e saiu com aprovação de 90%, e depois se tornou senador, ou um monitor de zoológico que ficou milionário da noite para o dia graças à influência do “papi poderoso”?
Resgato o caso da Gamecorp diretamente de meu livro Privatize Já, pois recordar é viver:
Adam Smith tinha percebido isso, quando escreveu: “As pessoas do mesmo ramo raramente se reúnem, mesmo para o lazer e a confraternização, sem que a conversa acabe numa conspiração contra o público ou em alguma manobra para aumentar os preços”. O perigo quando o capitalismo se transforma em capitalismo de compadres, protegidos pelo estado, não pode ser desprezado.
Um caso escandaloso ilustra bem isso. Fábio Luís Lula da Silva, mais conhecido como Lulinha, é formado em biologia e recebia um parco salário até 2002. Menos de um ano após da posse de seu pai na Presidência da República, ele se tornou sócio de uma empresa especializada em jogos. Os filhos do político Jacó Bittar, um dos fundadores do PT, também participavam do negócio.
Em janeiro de 2005, a Telemar (Oi) fez um aporte de mais de R$ 5 milhões na empresa, já denominada Gamecorp. A operação que marcou a sociedade entre elas foi extremamente complexa. Em 2006, a Telemar injetou outros R$ 10 milhões na Gamecorp, como antecipação de compra de comerciais na TV, pois a empresa tinha um contrato de aluguel com a Rede Bandeirantes para programação diária na grade da emissora.
A suspeita era que a Telemar estaria ajudando o filho do então presidente Lula na esperança de ser atendida em sua demanda pela compra da concorrente Brasil Telecom. Para que esta transação pudesse ir adiante, seria preciso alterar a Lei Geral das Telecomunicações, que impedia tal fusão. Lulinha seria, portanto, um lobista.
Curiosamente, no final de 2008 a lei foi efetivamente mudada por decreto presidencial, e a Telemar finalmente conseguiu se unir à Brasil Telecom, recriando uma gigante de telecomunicações. Vale frisar que autoridades do governo e do PT sempre demonstraram interesse nessa união, que resgataria boa parte da antiga Telebrás, sob controle nacional e próximo do governo.
Quando o governo detém poder demais, parece natural que grandes empresas circulem como moscas diante do mel, fazendo de tudo para capturar os favores dos governantes. Os laços criados pelas medidas arbitrárias e protecionistas costumam se transformar rapidamente em “veículos de favoritismo, conluio e proteção não justificada”, como lembra Lazzarini.
Portanto, deixo a pergunta ao leitor: quem é o verdadeiro “filhinho de papai” nessa história?
Rodrigo Constantino
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