Processadores de algodão do país, que previam inicialmente importar de 80 mil a 100 mil toneladas da pluma neste ano-safra, preparam-se para elevar esse volume para entre 150 mil e 200 mil toneladas por causa da quebra da produção nacional, provocada pelo clima adverso no desenvolvimento da planta.
Com 80% das lavouras colhidas, a estimativa - em decorrência das perdas - é de uma produção de 1,1 milhão de toneladas na safra 2009/10 ante a previsão inicial de 1,28 milhão, diz Haroldo Cunha, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa).
Com consumo interno de 1 milhão de toneladas e exportações de 300 mil toneladas, o déficit da pluma será de 200 mil toneladas, segundo estimativas da Safras & Mercado.
O problema é que a oferta de algodão no mercado internacional, que já vinha apertada, está mais crítica com problemas climáticos em importantes regiões, como Paquistão, cuja safra deve recuar 15% para 1,9 milhão de toneladas. A demanda mundial, puxada pela China, também se recupera mais rapidamente do que se esperava, diz Andrew MacDonald, consultor da Abrapa e da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).
Essa combinação vem causando alta nos preços fora e dentro do Brasil. Em Nova York, o algodão acumula valorização de 6,4% em agosto, mesmo com a queda de 16 pontos no pregão de ontem, quando o contrato com vencimento em dezembro fechou a 83,86 centavos de dólar por libra-peso. Em Mato Grosso, maior produtor nacional, a alta no mês é de 7,8% em Campo Verde, segundo o indicador do Instituto Mato-grossense de Economia Agrícola (Imea).
O indicador Cepea/Esalq aponta alta em agosto de 11,47% com a libra-peso valendo 181,88 centavos de real. "O mercado está muito agressivo e com tendência de continuar subindo. A indústria têxtil está próxima de perder a rentabilidade com os preços nesses patamares", diz MacDonald.
Parte da solução está nas mãos do governo, que avalia permitir a importação de 150 mil toneladas da pluma sem o imposto de 10%. A benesse seria concedida para o período entre dezembro deste ano e maio de 2011, quando se espera que a situação da oferta seja mais crítica, diz MacDonald. Pelas regras atuais, a importação só é permitida sem a taxação quando o produto final é exportado. O Nordeste é isento do imposto.
Os incentivos, no entanto, devem parar por aí. Cunha, da Abrapa, não acredita que o governo fará leilões de prêmio de equalização (Pepro) para garantir subsídios diretos a 800 mil toneladas vendidas entre os anos de 2008 e 2009 a patamares abaixo do preço mínimo oficial. Em torno de 65% da safra que está sendo colhida foi vendida antecipadamente a valores entre 62 e 65 centavos de dólar, 20% abaixo dos níveis atuais.
"É possível que alguns produtores retenham algum estoque à espera dos preços mais altos que estão por vir. Mas serão volumes mínimos", afirma Cunha. A próxima safra do Brasil, estimada em 1,5 milhão de toneladas, já está 40% vendida antecipadamente.
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