Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Ao final da década de 80, aparentemente o Japão era incapaz de fazer algo errado aos olhos dos economistas. Eles viam claras vantagens na competitividade do Japão em relação ao Atlântico Norte em vários setores industriais de alta tecnologia e produção em massa de bens comercializáveis. Também viam uma economia que, desde a reconstrução iniciada após a Segunda Guerra Mundial, havia superado o crescimento das economias europeias. E viam um país que crescia bem mais que os do Atlântico Norte.

A aposta mais segura no fim dos anos 80 parecia ser a do avanço na mecanização, informatização e robotização. Pressões econômicas e políticas levariam mais setores japoneses a passar por uma transformação rumo aos modos de organização de alta produtividade e uso intensivo de máquinas que a indústria voltada à exportação já havia passado (e que setores como a agricultura e distribuição já haviam vivido ou estavam vivendo na região do Atlântico Norte).

A ética de trabalho japonesa persistiria, dizia a lógica, e o alto índice de poupança e baixo crescimento populacional do país lhe dariam uma vantagem substancial em intensidade de capital além de todas as vantagens econômicas gerais que pudesse desenvolver em termos de produtividade total dos fatores.

De acordo com todas as evidências, a queda dos Estados Unidos para fora da trajetória histórica de crescimento da economia deixou os americanos hoje (e também em um futuro indefinido) 7% mais pobres do que se previa em 2007.

À medida que o Japão igualasse e, talvez, superasse o Atlântico Norte em termos de intensidade de capital, experiência industrial e padrão de vida, a Baía de Tóquio receberia um volume cada vez maior de atividades econômicas mundiais mais bem remuneradas - pesquisa e desenvolvimento de indústrias de alta tecnologia, moda para consumidores de alto padrão, altas finanças e controle empresarial.

Seria improvável que o Japão, com cerca de 30% da população dos Estados Unidos, pudesse vir a se tornar a superpotência econômica mais proeminente do mundo. Mas o Japão encurtaria a diferença de 30% (ajustada pela paridade do poder de compra) entre seu Produto Interno Bruto (PIB) per capita e o dos EUA. A noção predominante era a de que, por volta de 2015, o PIB per capita do Japão teria mais probabilidade de ser 10% maior do que os dos EUA.

Nada disso ocorreu. A economia do Japão hoje é cerca de 40% menor do que os especialistas, confiantemente, previam. Aquele PIB per capita equivalente a 70% do americano alcançado na ocasião mostrou ser o ponto mais alto. O nível de produtividade relativa da economia em geral caiu desde então, com 20 anos de mal-estar econômico eliminando as pressões de modernização da agricultura, distribuição e outros serviços.

A indústria japonesa voltada à exportação manteve suas vantagens, mas não atraiu outras atividades de alto padrão - moda, finanças ou controle empresarial - em qualquer grau expressivo. Ao contrário, desde o fim dos anos 80, o alto índice de poupança pessoal japonesa, em vez de ser fonte de força no lado da oferta, vem sendo fonte de fraqueza no lado da demanda, financiando o investimento no exterior e a dívida do governo, em vez de estimular a onda de investimentos domésticos que intensificaria a intensidade de capital e a produtividade do trabalho.

O Japão não é um país pobre hoje. Sua estrutura econômica e nível de prosperidade, no entanto, o tornam mais parecido à Itália do que a seus pares no leste do Círculo do Pacífico - os Estados litorâneos de Washington, Oregon e Califórnia.

Há sete anos, antes da crise financeira mundial, o consenso esmagador entre os economistas era o de que, avaliando seu histórico, não estava no radar uma convergência dos níveis de produtividade do Japão com os da costa dos EUA no Pacífico. A cultura japonesa produzia enormes bloqueios ao emprego de metade da população - as mulheres. E a política japonesa enraizava os interesses rurais e das pequenas empresas de tal forma que impedia a difusão da produção industrial voltada à exportação.

O Japão, argumentava-se, era muito diferente, em muitas maneiras, para que o Atlântico Norte servisse de modelo de desenvolvimento econômico. E as firmas industriais exportadoras, que foram estimuladas e defendidas pelo Ministério da Indústria e Comércio Exterior, não eram a base em torno à qual o resto da economia japonesa se cristalizaria, mas um setor isolado e protegido por muralhas.

Portanto, o índice de crescimento potencial anual da economia japonesa desacelerou-se em cerca de dois pontos percentuais adicionais no início da década de 90, com o enfraquecimento do modelo de desenvolvimento pós-Segunda Guerra Mundial. Em grande parte foi um infeliz acaso o fato de essa desaceleração de crescimento ter coincidido com o estouro da bolha de ativos e uma depressão cíclica - uma que fez a produção japonesa encolher em cerca de 10% em poucos anos, seguida de uma recuperação lenta para um novo, e menor, índice de crescimento potencial.

Avaliando os últimos sete anos, contudo, isso precisa ser repensado. De acordo com todas as evidências, a queda dos EUA para fora da trajetória histórica de crescimento da economia deixou os americanos hoje (e também em um futuro indefinido) 7% mais pobres do que se previa em 2007. E isso presume que haja apenas um único choque negativo permanente, sem desacelerações adicionais no índice de crescimento potencial de produção.

Há motivos, no entanto, para temer que tal declínio adicional se materialize: um crescimento mais baixo significa menos pressões competitivas para melhorar a eficiência; uma tolerância mais baixa ao risco significa um apetite menor por inovação e experimentação; e taxas de juros nominais permanentemente próximas a zero significam que a poupança da sociedade não pode ser usada de forma eficiente.

Se o estouro de uma bolha, que foi bem administrado em uma economia americana de baixa inflação, foi suficiente para derrubar permanentemente o crescimento econômico potencial em cerca de 10% no período de dez anos, é possível descartar que um estouro de bolha mal administrado pudesse, ao longo uma geração, deixar a economia do Japão 40% menos rica?

Algo é certo: os economistas não ousam mais presumir que uma tendência é uma tendência e um ciclo é um ciclo; nem que suas interações são suficientemente pequenas para serem negligenciadas em uma primeira análise. Essa abordagem deixou muitos dos próprios economistas vivendo em países consideravelmente mais pobres do que previam. (Tradução de Sabino Ahumada).

J. Bradford DeLong foi subsecretário-adjunto do Tesouro dos EUA e é professor de economia da University of California, em Berkeley, e pesquisador associado do Gabinete Nacional de Análises Econômicas dos EUA. Copyright: Project Syndicate, 2014.

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