Os efeitos da maior greve dos funcionários públicos federais em quase uma década agravaram-se nesta semana, mas a disposição da presidente Dilma Rousseff permanece a mesma: não ceder. São ao menos 300000 servidores parados (de um total de 780000), pelas contas dos sindicatos. É como se quatro em cada dez funcionários públicos estivessem de braços cruzados no Brasil. A paralisação começou nas universidades federais, há mais de três meses, e se alastrou por quase trinta órgãos governamentais.
Há dois movimentos a impulsionar essa onda. O primeiro é a antiga desconexão de sindicatos com a realidade. A queda da taxa dos juros nos últimos meses reduziu o gasto do governo com a dívida pública e abriu uma folga no caixa estimada em 1,5% do PIB. Esse dinheiro será precioso para enfrentar os efeitos da crise econômica internacional. Mas os grevistas têm outros planos. Farejando a verba extra, pretendem engordar seus salários.
Os anseios, pelo menos sob um aspecto, se justificam: o governo Lula tratou o funcionalismo a pão de ló, com aumentos lineares em 2006 e 2008. O salário inicial dos auditores da Receita, por exemplo, saltou de 5000 para 13600 reais entre 2003 e 2010, um aumento 55% acima da inflação.
Nas agências reguladoras, a maior remuneração de técnicos passou de 8000 para 17000 reais, um ganho real de 36%. Aos servidores, não agrada o fato de que a festa tenha acabado. O segundo movimento a alimentar a greve foi a falta de coordenação do próprio governo federal, que permitiu que as paralisações se espalhassem ao encurralar grevistas sem lhes dar a chance de uma saída negociada. Só nos últimos dias Dilma decidiu escalar o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para conversar com os rebelados.
A presidente resolveu negociar, mas não ceder. Não descarta nem mesmo a hipótese de ir à TV mostrar as contas do governo para emparedar os grevistas. O Palácio do Planalto aposta que as greves se enfraquecerão a partir do fim do mês, quando a proposta de orçamento do ano que vem vai para o Congresso – pondo fim ao prazo legal para aumentos salariais. A proposta segue a mesma: reajuste baseado na inflação, por volta de 5%.
O governo admite que algumas carreiras podem ter aumentos maiores, como a dos professores e dos policiais federais. Para além das questões pontuais, existe um problema de fundo a ser resolvido. A Constituição de 1988 garantiu o direito de greve aos funcionários públicos, mas estipulou que uma outra lei deveria regular essas paralisações, definindo questões como quantos servidores devem continuar a trabalhar para manter os serviços e quando haverá desconto dos dias parados. Ocorre que essa lei complementar nunca saiu. O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) apresentou um projeto sobre o tema em 2011, mas o texto está parado. É uma boa hora para desengavetá-lo.
fonte:Veja
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