Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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O blog teve ontem 231.646 visitas. É a sua segunda maior marca num único dia. Só perde para 20 de outubro de 2010, às vésperas da eleição presidencial, quando atingiu 235.788. Parte considerável veio ontem em busca dos dois primeiros textos que escrevi sobre Oscar Niemeyer, que ecoavam, de resto, um post que fará seis anos no dia no próximo dia 15. Aqueles em que afirmo (e reafirmo agora) que ele era metade gênio e metade idiota. Em 2006, ninguém chiou. É que, no Brasil, a morte tem o condão de mudar as biografias. Isso nada tem a ver com nosso passado católico, senhores sociólogos! Isso tem a ver com a nossa indigência intelectual. Milhares de pessoas, é evidente, concordaram comigo. Vejam os comentários. Também publiquei discordâncias e só cortei as ofensas. Para me ofender, já existem os blogs dos Reinaldo-dependentes…

Se eu tivesse escrito que Jesus Cristo era metade santo e metade idiota, a reação não teria sido tão violenta. Isso só evidencia uma coisa: trata-se de uma corrente organizada, estimulada, em parte, por alguns notórios ladrões de dinheiro público, que vivem de rapinar estatais – vagabundos, enfim! Ainda me lembro da indignação que tomou conta de alguns “modernos” no Brasil quando a performance de um sedizente artista plástico, com apoio de dinheiro público, foi alvo do protesto de cristãos. Diante da plateia, o rapaz tirava um terço que ou havia introduzido em si mesmo ou nele haviam introduzido, entenderam? Cristãos reagiram mal. Indigentes intelectuais os mais variados acusaram uma tentativa de censura. As pessoas que se manifestavam contra a “performance” eram tachadas de atrasadas, carolas, reprimidas… Isso pode. Mas chamar o lado comunista de Niemeyer de idiota…

Escrevi ontem sobre o que chamei “Irmandade Petralha”, os patrulheiros que pretendem ser donos do pensamento. Esses cretinos nem sequer leram os textos. Atribuíram-me coisas que não escrevi e que não penso. Eu teria dito que Niemeyer não era de nada, que não teria importância nenhuma para a arquitetura e que seria mero chupim de dinheiro público. Atração por grana estatal, essa ele tinha. Mas sustento que fez uma grande obra mesmo assim. E é claro que essa não é uma avaliação acima da contestação. O tipo de arquitetura que fazia está em declínio do mundo, basta estudar um pouquinho. Mas isso não quer dizer que os que o contestam sejam melhores do que ele. Faço essa observação apenas para lembrar que, a exemplo de qualquer autor – suas obras são autorais –, também ele está sujeito à apreciação critica negativa.

Meu texto original, longe de patrulhar o legado de Niemeyer para a arquitetura, fazia justamente o contrário: procurava separar sua ideologia de sua obra. E fui até generoso com ele. Chamei o seu lado comuna de “a metade idiota”. Poderia tê-lo classificado de justificador do homicídio em massa, que é o que lhe confere a sua condição de comunista renitente! Atenção! Ele nunca deixou de ser… stalinista! Nem Krushev, que não matava tanto,  servia a Niemeyer!

Reproduzo, em vermelho, trecho de uma entrevista sua publicada no Caderno 3 do Diário do Nordeste, de 9 de dezembro de 2007. Prestem atenção:
Sem um líder da estatura de Stalin, prega Niemeyer, o mundo poderia ter tido outro destino, subjugado por Hitler. Apesar do regime de terror, o massacre de milhões de pessoas que se opunham ao governo, a eliminação de dois terços do Comitê Central do Partido Comunista Soviético, entre outros crimes. O arquiteto perdoa o ditador, morto em 1953. Aposta que a opinião pública mudará de ideia quando descobrir que Stálin foi vítima de uma “campanha odiosa”, movida pelas “forças reacionárias”:
“Stálin era fantástico. A Alemanha acabou por fazer dele uma imagem de que era um monstro, um bandido. Ele não mandou matar os militares soviéticos na guerra. Eles foram julgados, tinham lutado pelos alemães. Era preciso. Estava defendendo a revolução, que é mais importante. Os homens passam, a revolução está aí.”
O elogio não significa que Niemeyer seja um stalinista — ele nem chega a ser um militante comunista clássico. Serve, porém, para revelar um traço de sua personalidade política. Para além da ideologia, ele admira os políticos de personalidade forte. Empreendedores e ousados, como ele. No panteão do arquiteto, Stalin convive com o democrata Juscelino Kubitschek. Luís Carlos Prestes, Gustavo Capanema (ministro da Educação e Saúde Pública no Estado Novo), Darcy Ribeiro, Leonel Brizola, Houari Boumedienne (líder da revolução argelina), Fidel Castro e Hugo Chávez também fazem os olhos do arquiteto brilharem.

Como? “Stálin não mandou matar?” “Eles foram julgados?” Notem que o jornalista tenta limpar a barra do delirante…

Os que foram me atacar na televisão e no rádio por conta do texto que escrevi podem não ser apenas canalhas. Há uma boa chance de que sejam burros também. A opinião acima não é só “idiota”, não! É nojenta mesmo! Stálin matou ou mandou para os campos de concentração – em “comunistês”, se diz “de trabalhos forçados” – milhares de “artistas” como… Niemeyer. Para ele, tudo necessário: “A revolução era mais importante”! Entre matar e justificar a morte, a diferença é apenas penal, não moral.

“Ah, lá vai o Reinaldo cuidar dessas coisas do passado…” Errado! Niermeyer apoiava – apoio mesmo – alguns assassinos do presente. E não pensem que o terrorismo lhe era um limite ou um constrangimento.

As Farc
Não me ocupei do arquiteto só agora. No arquivo, há muitos textos sobre ele. No dia 16 de março de 2008, escrevi outro post, intitulado “Niemeyer e um artigo abjeto”. Começava assim o meu post:

“Se eu chamar Oscar Niemeyer de múmia moral, acusarão a minha agressividade com o velhinho. Afinal, está no seu pé biográfico: 100 anos. E ele é uma das nossas ‘figuras respeitáveis’, não é?, embora a experiência não o impeça de escrever sandices, que justificam o terror, a tortura, os campos de concentração, os assassinatos. Não desistirei jamais da pergunta: a mídia brasileira abrigaria textos defendendo o fascismo armado? Por que os facinorosos da esquerda e seus prosélitos têm essa licença?”

Por que escrevi o que vai acima? Num artigo publicado na Folha, o arquiteto atacava o governo constitucional e democrático da Colômbia e cantava as glórias dos narcoterroristas das Farc, com quem revela ter colaborado. Segue um trecho:
“Lembro-me do emissário desse grupo que, muitos anos atrás, me procurou em meu escritório de Copacabana, pedindo-me que desenhasse um cartaz contra o Plano Colômbia, que, organizado pelo governo norte-americano, visava intervir nas Farc, ferindo a soberania do país.
Recordo a maneira emocionada como aquele emissário me falava do assunto, da revolta que exibia ao comentar a violência com que o governo colombiano tentava destruí-los. Em poucos dias, desenhei o cartaz que ele havia me pedido -um protesto contra aquele plano odioso. Uma colaboração política que muito me agradou, ao saber ter sido aquele cartaz utilizado até na Europa.

Viram com que poesia ele trata um grupo que sequestra, mata, trafica drogas, estupra, rapta crianças e mantém campos de concentração da selva colombiana? Quem ler o artigo vai perceber que Niemeyer não gosta mesmo é da democracia. E citava em socorro de sua tese a antepenúltima múmia comunista do planeta: Eric Hobsbawm. Por isso afirmei que a metade genial convivia com a metade idiota. Mas já começo a mudar de ideia. Metade é muita coisa.

“Idoso de esquerda tem problema”
Leiam esta declaração:

“Quem é mais de direita vai ficando mais de centro. Quem é mais de esquerda vai ficando social-democrata. As coisas vão se confluindo de acordo com a quantidade de cabelos brancos que você vai tendo e de acordo com a responsabilidade que você tem. Não tem outro jeito. Se você conhecer uma pessoa idosa esquerdista é porque está com problema. Se acontecer de conhecer alguém muito novo de direita é porque também está com problema. Quando a gente tem 60 anos está no equilíbrio porque a gente não é nem um e nem outro”.

Evidentemente, pelo estilo, a fala não é de Reinaldo Azevedo. O raciocínio é de Luiz Inácio Apedeuta da Silva. Quando fez 99 anos – ocasião em que escrevi aquele texto –, Niemeyer reagiu mal à opinião do companheiro. Estava decepcionado. A cachorrada que reagiu agora ao meu texto se calou diante da fala de Lula.

Finalmente
Os que me conhecem sabem que sou do tipo que se comove fácil. Uma notícia me fez refletir profundamente sobre o comunismo de Niemeyer em terras nativas. Ele deu de presente, por exemplo, uma casa a Luiz Carlos Prestes. Entendo. Mas não tinha preconceitos. Também projetou e construiu uma casa para seu motorista de décadas. Na Favela do Vidigal. Desculpem: favela é coisa de São Paulo. No Rio, o certo é dizer “Comunidade do Vidigal”.

Vamos lá, Irmandade Petralha! Reproduza este texto também. Ajude a divulgar o pensamento vivo de Niemeyer sobre humanistas como Stálin, Fidel, Hugo Chávez e os narcoterroristas das Farc. Já começo a flertar com a possibilidade de reduzir a tal genialidade a um sexto…

Fpnte:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo

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