RIO - O superintendente da Área de Planejamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Cláudio Leal, rebateu nesta sexta-feira, 4, a tese de que os empréstimos do Tesouro Nacional para que o banco opere linhas de financiamento com juros subsidiados para incentivar os investimentos pressionam a inflação. Ao contrário, ele apontou que, ao financiar a ampliação de capacidade produtiva, o BNDES ajuda a equilibrar a relação oferta e demanda.
"Para o BNDES, não existe choque com a política monetária. A contribuição do BNDES se soma aos esforços do Banco Central. No momento em que a gente financia enfaticamente o investimento e, portanto ele gera capacidade produtiva, a gente está ajudando a remover obstáculos ao crescimento. É simples. Estamos financiando capacidade produtiva de tal forma que a oferta seja capaz de atender a uma demanda que vem crescendo e portanto, que não seja necessário o aumento de juros", afirmou, em entrevista coletiva hoje na sede do banco.
O anúncio de um novo empréstimo de R$ 55 bilhões do Tesouro ao BNDES foi vista ontem com reservas por analistas que apontaram a medida como uma contradição em relação ao corte de R$ 50 bilhões do orçamento e à trajetória de alta dos juros básicos da economia pelo Banco Central. Os juros reduzidos do BNDES anulariam parte do efeito do aperto monetário.
Com o novo empréstimo, o BNDES somará R$ 260 bilhões em recursos do Tesouro emprestados em três anos. Cerca de R$ 25 bilhões foi empregada na ampliação da participação do banco na Petrobrás no processo de aumento de capital da estatal, em setembro do ano passado. Dos primeiros R$ 180 bilhões repassados ao banco, R$ 134 bilhões foram destinados ao Programa de Sustentação do Investimento (PSI), que ajudaram na recuperação da taxa de investimento na economia após a forte queda provocada pela crise mundial de 2008.
Leal justificou a manutenção da política em 2010 diante da necessidade de reforçar o investimento, que teve uma reação mais lenta em relação ao consumo durante a recuperação da economia nos últimos dois anos. Ele comemorou a alta recorde de 21,8% da formação bruta de capital fixo na economia em 2010, divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em meio ao crescimento de 7,5% do PIB, o maior desde 1986.
Com o empréstimo de R$ 55 bilhões, o BNDES acrescerá outros R$ 20 bilhões de capital próprio para manter o PSI até dezembro deste ano com orçamento de R$ 75 bilhões. As taxas das linhas foram reajustadas. Os juros do financiamento de ônibus e caminhões, por exemplo, subiram de 8% para 10% ao ano. Na Finame, que financia máquinas e equipamentos, os juros subiram dos atuais 5,5% para 6,5% para as pequenas empresas e 8,7% para as grandes.
"O BNDES está em sintonia com o esforço fiscal do governo, tanto que o empréstimo do Tesouro esse ano foi bem menor. A elevação das taxas também reduzirá o custo fiscal com equalização. Além disso, nenhuma linha do BNDES financiará mais de 90% de cada projeto", disse Leal. "É um exercício de racionalização do BNDES e um convite para que o mercado de crédito privado ocupe este espaço, que até agora tem sido ocupado apenas pelo BNDES."
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