Liege Albuquerque
Pois é, nós, as meninas, temos mais liberdade na hora de vestir. Mas na hora de sentar, mesmo de short, tem de ser de pernas fechadas, né? E ainda temos de encarar as imposições do mundo fashion nos personagens singelos que nos destinam. Semanas atrás passei por uma loja de departamentos e vi uma camisetinha do Snoopy e logo atrás uma dos Minions. Fofuras, fui procurar o tamanho P para minha filha.
Comentei com a vendedora: “Poxa, essa P é tão grandona para ela”. “Mas a senhora está na seção dos meninos, não tem Snoopy nem Minions para meninas”. Oi? Olhei ao redor e vi que estava no setor “errado” e no feminino era só camiseta do enjoado lerigô e as indefectíveis princesas. Nada contra quem gosta (até os 3 anos, minha filha também gostava das princesas), mas quem foi que determinou que as meninas não gostam do Snoopy ou dos Minions?
No ano passado, a polêmica loja de departamentos Zara (aquela acusada de escravizar funcionários) lançou na Espanha bodies de bebês assim: no modelo para menino, a mensagem era “Cool and Clever, It's what mummy said” (legal e inteligente, é o que a mamãe disse). Já no modelo para menina, a frase escolhida foi “Pretty and Perfect, It's what daddy said” (bonita e perfeita, é o que o papai disse). Sim, é sério. Teve um bafafá básico e recolheram as roupinhas.
Tem gente que torce logo o nariz quando ouve falar em feminismo, empoderamento e tals. Mas normalmente é quem não tem a menor ideia do que é isso. É simples: nós mulheres queremos os mesmos direitos e os mesmos salários dos meninos, quando atuamos no mesmo segmento e função. Nada mais que isso. Queremos poder escolher entre sermos donas de casa e não trabalhar fora para ficar com os filhos ou trabalhar fora e não ter filhos, sem nenhuma pressão da sociedade. Queremos isso para nossas filhas e filhos, liberdade de escolher o que os faz felizes.
E na hora de escolher nossas roupas também essa discussão vele. Se eu gosto do Foo Fighters e não gosto de camiseta largona e prefiro baby look, porque não encontro nenhuma? O jeito é comprar e mandar diminuir na costureira. Foi o que fiz: minha filhota ganhou suas camisetinhas do Snoopy e dos Minions, mesmo não sendo da seção das garotas. E mais: como adoro comprar cuecas “masculinas” para mim (são de algodão com lycra, grandinhas e bem mais confortáveis do que micro-calcinhas), também fui às cuequinhas dos meninos e achei umas lindas para ela, de A Hora da Aventura e do Gumball. Calcinhas “de meninas”? Só tinha Peppa e Dora (nada contra Dora, amamos a aventureira). Ah, comprei calcinhas da Dora também.
Pois é. Acho que não devemos impor limites aos nossos gostos. Curto vestidos, assim como minha filha, mas também amamos shorts. E quero ter a liberdade de estampar na camiseta o que eu quiser, o personagem querido do momento. Isso parece fútil para você, falar em moda para falar em sexismo? Mas não é. É a cereja do bolo.
P.S. 1 Sugiro a leitura de um livro que adoro o “Criando Meninas”, do psicólogo Steve Biddulph (que também escreveu o Criando Meninos). Ele é claro sobre como somos espelhos para nossos filhos. E destaca a importância de criarmos crianças focadas no interior e não no exterior, em criar crianças como se diz “do bem” e menos interessadas na guerra de “coresecoisademeninoversuscoresecoisademenina”. Um trecho: “O principal objetivo dos meus livros é acabar com o sexismo. Isso limita as crianças. E se um menino é mais amável e gentil e quiser ter uma boneca? É algo bom, ele se tornará um pai melhor. E toda menina deveria ser estimulada a se sujar, a brincar no barro, a subir em árvores, para que seja menos medrosa e ame a natureza. Ela pode se tornar uma grande cientista, artista, atleta. Temos de libertar as crianças desses limites ultrapassados.”
http://acritica.uol.com.br/blogs/maescricri/menino-usa-saia-chato-b...
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