Marlene S., de 34 anos, não se conforma com o facto de o salário mínimo não aumentar para 500 euros, como estava prometido. Confessa mesmo uma grande revolta porque, como argumenta, "os políticos que tomam estas decisões nunca tiveram que viver com 400 e poucos euros, não sabem que é preciso fazer contas todos os dias e prescindir de muitas, mas mesmo muitas coisas".
Marlene era empregada têxtil, mas foi requisitada por um sindicato do mesmo sector, mantendo o mesmo vencimento, o salário mínimo. Francisco, marido de Marlene, ganha um pouquinho mais. O rendimento do casal, com um filho de 11 anos, atinge os mil euros.
Marlene aceitou explicar a forma como gere o seu orçamento familiar, enumerando as principais despesas fixas, que estão em linha com as despesas médias das famílias portuguesas, reveladas pelos inquéritos do Instituto Nacional de Estatística. Mas, ao enumerar as despesas, Marlene vai deixando cair as coisas que não pode fazer e que, segundo as suas palavras, "não se conforma por não poder fazer".
Gostava, de vez em quando, de poder almoçar ou jantar fora. E gostava de ir ao cinema com o filho e o marido, "mas só nisso iam mais de 15 euros", adianta, acrescentando que o filho "só vai ao cinema com a avó e com a tia".
Como a generalidade dos portugueses, a maior fatia do rendimento da família de Marlene vai para as despesas da casa, um T2, em Ermesinde. 335 euros (33,5 por cento do rendimento) são repartidos pela prestação do empréstimo da casa (260 euros), despesas de electricidade (50 euros), água (15 euros) e condomínio (10 euros).
A alimentação representa o segundo maior gasto. Contas feitas por alto, Marlene atira pelo menos uns 300 euros mensais. Neste domínio, a gestão tem de ser muito controlada. "A preferência recai sobre os produtos de marca branca, e fica muita coisa de fora", garante, dando um exemplo: "Lá em casa, todos gostamos de diospiros, mas só compro alguns para o meu filho".
Tal como têm revelado as estatísticas do INE, o terceiro maior gasto da família vai para transportes: 130 euros mensais. A residir em Ermesinde e a trabalhar em Guifões, Francisco, de 42 anos, canalizador, gasta 20 euros em gasolina por semana. Desloca-se diariamente em carro próprio, e leva o filho para uma escola pública junto ao seu emprego e da avó paterna, que funciona como um elemento fundamental para o equilíbrio financeiro da família. Marlene gasta cerca de 50 euros num passe de transportes públicos.
As telecomunicações custam 20 euros de dois em dois meses, num esquema de transferências de tarifários entre três telemóveis. "Comunicamos muito por SMS", resume. No total, as despesas fixas absorvem, pelo menos, 775 euros, deixando apenas 225 para o resto. Como é que é que se consegue gerir um orçamento tão apertado? A esta pergunta, Marlene responde que, sem o apoio familiar, seria impossível. E explica: ela come uma sopa e uma sande, o marido vai almoçar a casa da mãe, o filho, sempre que pode, vai almoçar a casa da avó, para não pagar 1,25 euros pelo almoço na escola.
Aqui sobressai alguma revolta e o perfil sindicalista: "Há empresários têxteis a levar os filhos à escola em Mercedes e a ter direito a refeições e livros grátis". Mesmo assim, não se arrepende de declarar os rendimentos, "é assim que tem que ser". E depois é preciso muita disciplina: não há férias e o subsídio é guardado para o material e livros escolares. Com o subsídio de Natal, aproveita-se para comprar coisas necessárias, como roupas e calçado para o filho. Na árvore de Natal, só há um brinquedo, um jogo, dado pela avó.
Para minimizar os gastos, as consultas de dentista da família são feitas na clínica de Medicina Dentária da Universidade Fernando Pessoa, e vai um de cada vez.
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