Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

 

   Fonte : Portal da FIEC

Bons ventos, enfim, parecem estar soprando a favor da fatia do mercado brasileiro que acredita e investe na produção de energia eólica. Em comparação aos países que lideram o ranking, no entanto, os ventos por aqui não passam ainda de brisa suave. Mas já existe o que comemorar. Projeção da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgada em janeiro deste ano aponta que a capacidade instalada das usinas eólicas no Brasil crescerá 320% até 2020. Atualmente, elas somam 930 megawatts (MW), divididas em 50 parques. Para se ter uma ideia da distância a ser percorrida na matriz brasileira, as hidrelétricas, principais fontes de geração, possuem 110 000 MW instalados.

Para 2011, estão previstos mais 510 MW distribuídos por 14 novos parques eólicos, totalizando 1 440 MW, oriundos do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia (Proinfa), que fomentou a demanda no segmento com a queda no preço. A previsão do governo é que em 2019 as unidades geradoras tenham potência total superior a 6 041 MW, quase equivalente aos 6 400 MW das usinas de Santo Antônio e Jirau, em construção no rio Madeira, em Rondônia.

Segundo o diretor da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Pedro Terrelli, o crescimento da energia eólica é um processo irreversível, mas para se consolidar de vez no país “é preciso que se adicionem 2 500 MW por ano na década seguinte”. Pelo menos nos próximos três anos, caso as forças externas e internas soprem a favor, a expansão (ainda que lenta) das eólicas está  garantida pela venda de projetos nos leilões voltados para o segmento. A ideia do governo, ao menos nas palavras do ministro das Minas e Energias, Edson Lobão, é que as termelétricas movidas a gás, óleo ou carvão cedam gradativamente cada vez mais espaço às eólicas e a outras fontes renováveis.

Conforme a EPP, os últimos três leilões realizados pelo Ministério de Minas e Energia (MME) para a contratação de energia eólica foram responsáveis pela queda na tarifa elétrica no Brasil, que passou de R$ 291 para R$ 126 por MW/h. Esse dado técnico confirma a energia dos ventos como a bola da vez. “Houve um período no qual todos queriam investir em biomassa; agora, só dá eólica”, disse Maurício Tiomno Tolmasquim, presidente da EPE, em entrevista ao Portal IG. De 2009 para cá, a economia gerada pela redução das tarifas é estimada em R$ 11 bilhões.

A energia dos eventos hoje representa menos de 1% da geração total no Brasil, mas há um grande potencial de expansão, reconhecido internacionalmente. Tolmasquim lembra que, segundo o último levantamento do mapa eólico brasileiro, o potencial era de 143 gigawatts (GW), o que significa hoje 53% do mercado de energia elétrica no Brasil. Porém, ele ressalva que o potencial é pelo menos o dobro. Isso porque o cálculo anterior se baseou em torres de geração com 50 metros de altura. Hoje, as torres das turbinas superam cem metros de altura, duplicando o potencial de geração.

Se as torres cresceram e o potencial subiu, os leilões (do governo) surgiram e o preço despencou. No primeiro leilão, em 2009, foi contratada energia eólica de 71 empreendimentos, com capacidade total de geração de 1 086 MW, a preço médio de R$ 157,20 por MW/h. Nos dois leilões seguintes, realizados em 2010, os deságios foram de 26,5% e 19,7%, respectivamente.

Queixas e desconfianças

Entre as regiões no Brasil com maior potencial o Nordeste é, com sobra, o mais propício. O apagão que deixou sete estados da região sem luz, no início de fevereiro, acendeu a chama de queixas e desconfianças quanto aos reais interesses e potencial do governo federal no assunto. Os estudiosos afirmam que o Nordeste não tem mais como gerar energia via hidrelétrica, ao mesmo tempo que desperdiça milhares de megawatts porque não aproveita sua vocação natural: sol e vento.

“O governo escolhe o pior caminho: faz termelétricas a combustível fóssil, poluindo a região e sujando a matriz elétrica brasileira, e quer fazer usinas nucleares. Não precisa: o Nordeste é a maior fonte de energia eólica e solar do Brasil. Limpa e segura. Há áreas do semiárido hoje quase sem população, muito secas e ficarão mais secas ainda no futuro. Poderiam ser instaladas nelas centrais de energia solar fotovoltaica”, escreve Sérgio Abranches em seu blog.

Critíco, o jornalista credita o descaso, quando o assunto é geração de energia, “a uma política energética ultrapassada e que virou monopólio de uma clique de tecnocratas e donatária de grupos políticos”. E emenda: “O Ministério das Minas e Energia é como uma grande sesmaria, loteada politicamente. É comandado por uma facção política como se fosse direito hereditário. As empresas elétricas são capitanias hereditárias, os partidos viraram donos delas. Com o loteamento de um setor estratégico para o país aos grupos mais clientelistas da política brasileira, fica difícil imaginar políticas públicas com visão de futuro, voltadas para a inovação, sintonizadas com as tendências mundiais”.

O que fazer?

De acordo com Sérgio Abranches, seriam três as providências a serem adotadas para facilitar o desenvolvimento da energia eólica no Brasil. A primeira é deixar de tratá-la como uma energia secundária, introduzindo-a no centro da matriz elétrica. “Contrassenso gritante é que a termeletricidade, que foi admitida como um recurso emergencial, hoje está no centro da matriz elétrica e tem expansão mais forte, mais subsídios e mais apoio político do que as fontes eólica e solar”, avalia.

A segunda medida é dar melhor tratamento regulatório à energia eólica, com base em uma política efetiva de desenvolvimento do setor. Para Sérgio Abranches, a expansão de usinas onshore (em terra) e offshore (no mar) implicará uma série de questões sobre uso do vento e localização de instalações, que demandam regulamentação que dê segurança aos investidores. A terceira atitude é fazer um inventário mais preciso da capacidade onshore e quantificar o potencial eólico offshore. Ele lembra que o país não tem sequer boias para monitoramento de ventos no mar em número suficiente. “Há algumas estimativas acadêmicas com base em dados de satélite que mostram que temos grande potencial offshore em pelo menos metade da costa brasileira. Mas ainda são resultados estimativos”, ratifica o jornalista.

Em termos técnicos, o inventário é uma necessidade elementar e parte de um conjunto mais amplo de pesquisas sobre energia do vento no país. Nesse sentido, há uma série de especialistas alertando que o Brasil precisa ter um centro dedicado à pesquisa e desenvolvimento sobre energia eólica. A ideia é que o centro seja utilizado para testar protótipos de turbinas e novas tecnologias que possam ser lançados comercialmente, além de estudar melhor o regime de ventos, em cada região, onshore e offshore.

De fato, o Brasil está atrasadíssimo nesse campo. Os Estados Unidos (EUA) têm seu centro, a Europa possui vários centros nacionais e a União Europeia trabalha com uma política clara de apoio à pesquisa e desenvolvimento no setor. A Alemanha, um país bem menor do que o Brasil, mas caminhando a passos largos em energia eólica, tem iniciativas importantes de pesquisa e desenvolvimento e instalou em 2009 um moderno complexo de pesquisa que desenvolve projetos com o Canadá e a China, hoje o maior produtor do mundo.

Outro parâmetro usado para afirmar que os investimentos do governo são ainda muito acanhados é a falta de indústrias capazes de produzir equipamentos voltados à geração de energia eólica. O exemplo a ser seguido nessa área é a China. O país se tornou um grande exportador de turbinas eólicas com poucos anos de investimentos público e privado. Já nos EUA e Europa, os especialistas desenvolvem regularmente modelos com design diferente dos típicos cataventos. A intenção é aproveitar ao máximo o vento em situações específicas, tanto em terra como no mar.  

Resumindo: as propostas apresentadas nos últimos leilões só foram possíveis em função do dólar baixo, que, por sua vez, tem permitido a importação de equipamentos mais baratos. Como incentivo ao setor, o dirigente defende a continuidade dos leilões que priorizem a energia eólica pelo período de mais oito ou dez anos. “Os leilões exclusivos são fundamentais para consolidarmos a produção de equipamentos”, finaliza Ricardo Simões.

Ainda na frente

Apesar de o Rio Grande do Norte, Bahia e Rio Grande do Sul (nessa ordem) caminharem fortes para tomar a ponta na produção de energia eólica, o estado do Ceará ainda está na frente na geração desse tipo de energia. No entanto, vale ressaltar que no último leilão o estado teve fraquíssimo desempenho. Segundo o vice-presidente da Abeeólica, empresário cearense Lauro Fiúza Filho, na prática o Ceará já seria o quarto colocado, isso porque a quantidade de megawatts contratada por esses três estados supera o potencial que o Ceará contratou e está em execução, ou mesmo ainda será construído.

Para ele, apesar de o Ceará ser reconhecido mundialmente como o estado de maior poder de geração, há uma forte barreira, por parte do Ministério Público Federal (MPF), na liberação das licenças ambientais (o órgão contesta as licenças das entidades de meio ambiente cearenses). Isso fez com que os empresários fugissem para outros locais. “Enquanto os demais estados fazem de tudo para atrair investidores, no Ceará andamos para trás. O resultado é que os empreendedores fugiram porque não conseguem aprovação de seus projetos. É um absurdo que contraria os interesses econômicos, sociais e ambientais dos cearenses”, declara Lauro Fiúza.

O resultado é que os primeiros parques eólicos no Brasil foram os de Prainha (Fortaleza) e Taíba, com um total de 15 MW instalados. Hoje, as terras alencarinas possuem, segundo o engenheiro e especialista em energias renováveis Fernando Alves Ximenes, 518 MW de potência eólica instalada, mais 542 contratados no leilão de dezembro de 2009 e outros 150 MW nos leilões de 25 e 26 de agosto de 2010. Parte desse montante é gerada nos três maiores parques em operação no Brasil: Complexo Eólico Aracati, com 138,5 MW; Praia Formosa, Camocim, com 105 MW; e Eólica Icaraizinho, em Amontada, com 54,6 MW.

Os fortes e constantes ventos locais têm atraído a atenção de gigantes do setor mundial, que por aqui fincaram suas bases, a exemplo da indiana Suzlon Energy. A empresa mantém a filial brasileira em Fortaleza desde 2007. De lá para cá, já instalou 182 turbinas eólicas no estado, todas em operação, resultando em uma capacidade de geração de cerca de 380 MW, correspondente a 50% da capacidade nacional em operação.

Para 2011, a Suzlon deve instalar mais três parques eólicos no Ceará, gerando cerca de 142 MW – correspondentes a cerca de 65% dos 218 MW negociados no leilão de 2009 – e 3 000 postos de trabalho. O empreendimento, no valor de R$ 700 milhões, é fruto de uma parceria com a empresa portuguesa Martifer Renováveis Geração de Energia e Participações S.A para implantar, operar e manter cinco usinas ao todo (três aqui e duas no Rio Grande do Norte).

Negócio da China

O gigante asiático ultrapassou os Estados Unidos em janeiro deste ano e ocupa a primeira posição em capacidade instalada de energia dos ventos. No total, os parques eólicos chineses somam mais de 41 000 MW de potência. Em junho passado, tinham 33 800 MW, contra 36 300 dos EUA. O ritmo de instalação de novos parques eólicos na China é atualmente seis vezes superior ao dos norte-americanos. Apenas em 2010, à capacidade existente foram adicionados mais 15 800 MW – quatro vezes a potência eólica instalada de Portugal.

A informação é ainda mais relevante quando se observa que, em janeiro de 2010, a China ocupava a quarta colocação do ranking mundial da energia eólica, segundo a Global Wind Energy Council (GWEC), atrás dos EUA, Alemanha e Espanha. Segundo o estudo Potential for Wind-Generated Electricity in China, elaborado por cientistas de Harvard e publicado pela revista Science, a capacidade dos ventos chineses é capaz de suprir toda a demanda energética do país até 2030, caso os US$ 4,6 trilhões sejam investidos em um período de 20 anos. O valor corresponde a quase o triplo do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

Sabedores da fome de desenvolvimento desse tigre asiático, os especialistas não duvidam que isso seja possível. Indícios não faltam. Hoje, as duas maiores usinas de energia eólica do mundo estão em construção no território chinês. A maior, na Província de Gansu, terá capacidade de 20 gigawatts e investimentos de R$ 30 bilhões. Em 2020, ela poderá gerar 20 vezes mais energia do que o parque de Roscoe, no Texas (EUA), hoje o maior. A segunda usina, em Ordos, contará com 12 gigawatts de potência instalada. Essa, além da eólica, também produzirá energia solar e biomassa. 

 
 
 
 

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