Produção não acompanha consumo
Autor(es): ALEXANDRE RODRIGUES
O Estado de S. Paulo - 07/03/2012
Indústria de transformação tem o pior desempenho entre os segmentos que compõem o PIB; investimentos crescem pouco
Em mais um ano com a economia liderada pelo consumo, a indústria de transformação foi a nota dissonante entre os principais subsetores do Produto Interno Bruto (PIB) visto pela ótica da produção em 2011. Enquanto segmentos como agropecuária (3,9%), comércio (3,4%) e construção civil (3,6%) cresceram acima da média geral do PIB, de 2,7%, o setor industrial de transformação teve praticamente crescimento nulo em 2011, com variação de apenas 0,1%.
As dificuldades do setor para acompanhar a demanda ficaram mais evidentes no quarto trimestre com a queda de 2,5% em relação ao trimestre imediatamente anterior, a única taxa negativa entre 13 setores listados pelo IBGE, limitando a variação do PIB a 0,3% nessa comparação. Em relação ao quarto trimestre de 2010, o setor também teve o único resultado negativo: -3,1%
A indústria de transformação já vinha registrando um desempenho fraco, com retração desde o terceiro trimestre de 2011. O impacto sobre toda a economia é grande devido ao peso de quase 15% do setor no cálculo do PIB, mais do que o dobro do da agropecuária. Embora outros segmentos industriais, como o extrativo mineral (3,2%), também tenham registrado alta superior à média geral do PIB, o fraco desempenho da transformação limitou a expansão da indústria como um todo a 1,6%.
Importações. Enquanto o governo ainda tenta tirar do papel o Plano Brasil Maior, o descompasso entre a indústria e a demanda segue compensado pelas importações, favorecidas por uma taxa média de câmbio de R$ 1,67 em 2011 contra R$ 1,76 em 2010. Enquanto as exportações cresceram 4,5%, as compras de produtos do exterior subiram mais do que o dobro: 9,7%.
Para analistas, a crise europeia desestimulou no segundo semestre investimentos na indústria e impediu um desempenho melhor da Formação Bruta de Capital Fixo. O indicador, que espelha investimentos na economia, subiu 4,7%, mais que o consumo e o PIB, mas não tirou a taxa de investimento da casa de 19% do PIB.
Para David Kupfer, professor do Instituto de Economia da UFRJ estudioso da indústria, as importações crescentes revelam problemas de competitividade. Para ele, é preciso um esforço maior da política industrial e do empresariado, numa postura competitiva mais agressiva.
"A indústria brasileira tende a uma postura mais defensiva. Há espaço para uma estratégia ligada ao mercado interno", avalia. "No quadro atual de acirramento competitivo, a indústria tem que correr para ficar no mesmo lugar. Não atingiu a velocidade necessária em 2011, mas tem que conseguir nos próximos."
O economista Antônio Corrêa de Lacerda, da PUC-SP, alerta para o risco da dependência da importação de manufaturados. "Temos a sexta economia do mundo, com um enorme potencial de consumo que tem sido vazado em parte para as importações. O desafio é garantir a geração local de valor agregado."
O quadro favorável às importações contribuiu para o aumento da necessidade de financiamento do País de R$ 100 bilhões em 2010 para R$ 101,1 bilhões em 2011. "A poupança, numa trajetória de quatro anos, está desacelerando, e o investimento está andando de lado", observa Sérgio Vale, economista da MB&Associados. "O perigo é depender cada vez mais do capital externo para investir."
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