Fonte:|.dw-world.de|
A cidade italiana de Como fica a cerca de uma hora de automóvel de Milão. Ao se chegar ali, não é difícil adivinhar qual seja seu principal setor econômico: em tons brilhantes de vermelho, azul, verde, laranja, as vitrines das lojas estão repletas da melhor seda que se pode oferecer. As fábricas do tecido na cidade são fornecedoras das principais grifes do mundo.
Há dois motivos para essa especialização, explica Claudia Bartesaghi, jovem guia turística do Museu Educacional da Seda de Como:
"A presença das amoreiras-brancas, fundamentais para a criação do bicho-da-seda, e a presença de água, que é muito importante em diversas fases da produção. E aí entra o gênio dos habitantes, que combinaram os dois – água e folhas – e viram que isso podia ser sua fortuna."
Bildunterschrift: Vista do Lago de Como
Prada x Zara
Hoje em dia, a seda bruta é importada da China, porém os estágios finais da produção – tecelagem, tingimento, design e impressão – continuam sendo realizados em Como. Entretanto, nas duas últimas décadas este ramo está em franco declínio da Itália, devido à concorrência dos chineses.
Em seu apartamento em Milão, Massimo Brunelli, presidente da Mantero, uma das maiores fabricantes italianas de seda, confirmou à Deutsche Welle que a época das vacas magras começou muito antes da recente crise financeira global.
"A década de 90 foi a era de ouro na história da companhia. Hoje em dia, não conseguimos nem imaginar o lucro que tínhamos." Mantero teve sucesso por poder servir à indústria da moda numa época que esta "estava se tornando um fenômeno de massa", ou seja, nos anos 80 e 90.
Atualmente, o nível é outro. "A questão central não é quanto sucesso faz Louis Vuitton, ou Christian Dior ou Prada. Mas sim: quanto sucesso faz Zara? E a H&M?", reclama Brunelli. "E mesmo as Pradas deste mundo estão baixando seus padrões de negócios, o que significa que o preço realmente se tornou um fator competitivo."
Luxo ameaçado
Segundo o empresário, a Itália continua tendo vantagem sobre a China no tocante à criatividade, design e qualidade. E embora seus conterrâneos tenham se concentrado no mercado da alta moda, a fábrica de Brunelli tem procurado investir em tecidos mais baratos e em marcas de varejo.
Apesar de tudo, Angelo Manaresi, diretor da ALMA Graduate School, programa de MBA (master of business administration) da Universidade de Bolonha, estima que não seja significante o impacto da crise global sobre os produtos de luxo, como a seda italiana.
"A razão por que as pessoas compram bens de luxo já havia 100 anos atrás, e continuará a existir daqui a 500 anos", afirma. "Sabemos de gente que chega a deixar de comer para poder comprar uma determinada marca de relógio. Assim, acho que o mercado de luxo é muito transnacional, e vai ficar ainda maior e ter mais sucesso, pois somos seres humanos e gostamos de bons produtos, gostamos de estilo e de ser diferentes dos outros."
Brunelli não está tão certo: "Mesmo que haja um renascimento do mercado de luxo, ele não será o mesmo de antigamente. As pessoas vão gastar menos, o que significa que o luxo com L maiúsculo vai sair sofrendo".
Autor: Vanessa Johnston (AV)
Revisão: Carlos Albuquerque
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