Os profissionais de "visual merchandising" costumam ser erroneamente confundidos com "aquelas pessoas que arrumam vitrines". Embora elaborar uma boa vitrine para vender artigos de moda também esteja entre as suas atribuições, a sua expertise vai mais além: inclui tornar o ponto de venda uma extensão da marca e fazer isso ser revertido em vendas.
Com a entrada frequente de varejistas globais no mercado brasileiro de moda, o trabalho de "VM" nunca foi tão valorizado. "Isso vem ocorrendo de cinco anos pra cá", afirma a publicitária Camila Salek, que há oito anos abriu a Vimer Experience Merchandising, em São Paulo. "Com a concorrência maior e menos dinheiro para investir em mídia, é preciso fazer escolhas e o ponto de venda é a bola da vez", afirma.
Com especialização em "VM" pela Saint Martin School of London, Camila tem no portfólio trabalhos para Havaianas, C&A, The Beauty Box e Quem Disse Berenice? - as duas últimas, empresas do grupo da rede O Boticário. Acostumada a viajar para metrópoles como Nova York, Londres e Tóquio, Camila acredita que o mercado nacional está se profissionalizando, embora ainda esteja bem atrás desses centros, onde o varejo de moda é mais forte.
Nos grandes centros da moda mundial, há mais ousadia nos projetos. Em alguns casos, as lojas sequer têm vitrines: ela toda é um espaço de exibição dos produtos, que são distribuídos de forma a chamar a atenção, sem poluir ou confundir os consumidores.
No Brasil, a prática mais comum é dispor de uma vitrine com os principais artigos à venda e, do lado de dentro, apostar nas boas e velhas araras e prateleiras. Mudanças no cenário, quando ocorrem, nem sempre seguem o "mood" da coleção - um erro na opinião dos especialistas. Uma loja de moda não é apenas um local de vendas, mas uma espécie de invólucro para um conceito de marca.
Mais importante, portanto, do que vestir os manequins da vitrine, são ações como o planejamento de merchandising da coleção. "Dessa forma, a butique pode dar suporte à coleção", explica Camila. O trabalho envolve até a ajuda na edição de produtos, de forma que o consumidor visualize o que de fato interessa e fique estimulado a comprar. "Sem uma boa curadoria das peças, fica mais difícil passar a mensagem correta", diz Camila.
Entre os conceitos mais eficientes de decoração de loja está o aproveitamento dos espaços internos para criar "pontos focais", ou pontos de interesse, que funcionem como uma outra vitrine. Neles, manequins exibem roupas, acessórios e até objetos para a casa que sigam a mesma ideia. Aliás, ter objetos de decoração à venda, no mesmo espaço dos artigos de moda, é outra tendência forte do varejo de moda. A estratégia já é adotada por varejistas como a Dover Street Market e a Urban Outfitters, cujas lojas vendem de roupas a artigos de papelaria, utensílios domésticos e bijuterias. Algumas das butiques de ambas dispõem até de restaurante. Tudo isso junto, diz Camila, ajuda a "contar a história da marca" - e, em última instância, fidelizar o cliente.
Outra atribuição do profissional de "VM" é garantir que o ponto de venda não seja um "ET" dentro da linguagem visual e dos conceitos da marca. Ao contrário, ele precisa confirmar o discurso que a marca emprega em outras mídias, pois é no espaço de vendas que o consumidor vai poder experimentar esses conceitos verdadeiramente. E como ferramentas para "empacotar" todas essas mensagens, vale estimular outros sentidos, como a audição e o olfato - sem exageros, é claro.
O uso de algumas tecnologias também pode deixar o ponto de vista mais interessante. Algumas marcas de luxo, por exemplo, dispõem de provadores "inteligentes", cujo som e a luz mudam conforme o tipo de roupa que o cliente experimenta - seja ela para o dia ou para a noite. "Há grifes cujas roupas possuem uma etiqueta capaz de reconhecer se o consumidor está usando uma peça da grife ao entrar na loja", diz Camila. Com essa informação em mãos, o vendedor acessa o histórico de compras e as particularidades daquele consumidor, tudo isso para realizar uma venda mais pessoal e direcionada.
Essas e outras tecnologias têm vigorado nas grifes de luxo. No varejo "fast-fashion", onde o preço baixo é um dos principais atributos, o que reina é o autoatendimento. A modalidade, diz Camila, é outra tendência do momento. "O ideal é deixar os produtos acessíveis ao consumidor e manter uma equipe de vendas apenas para dar suporte em caso de dúvidas ou problemas", explica a publicitária. Mais livre, os consumidores se sentem à vontade. E mais à vontade, talvez se animem a abrir a carteira
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