Os acontecimentos recentes que assolam o mundo agora estão revelando a falta de conhecimento de grande parte da população em relação à história e à cultura negra que alimentou e ainda alimenta um sistema arraigado de racismo. É um dever de todos nós (especialmente brancos) nos educar sobre o assunto. Pensando nisso, preparamos uma lista de livros e filmes de autores e ativistas referência para quem está no início deste processo de entender o racismo sistêmico presente em todos os níveis da sociedade, inclusive no setor da moda.
Dr. Martin Luther King Jr. fala em Nova York, em 1967, em mais um de seus discursos históricos sobre violência e militarismo, particularmente sobre a guerra do Vietnam. Ele descreve a devastação do Vietnã nas mãos da “arrogância mortal do Ocidente”, dizendo “estamos do lado dos ricos e seguros, enquanto criamos um inferno para os pobres”. Ele pediu uma uma revolução radical de valores, enfatizando o amor e a justiça, e não o nacionalismo econômico, já que o país recusava-se a “renunciar dos privilégios e prazeres que advêm dos imensos lucros de investimentos no exterior”. Discurso potente e inspirador, como todas as falar de King. (em audio e sem legendas).
O diretor Raoul Peck usa o livro inacabado de James Baldwin sobre o racismo nos EUA para examinar as questões raciais contemporâneas, com relatos sobre as vidas e assassinatos dos líderes ativistas Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr. Narrado por Samuel L. Jackson, traz muitos momentos e fatos históricos da luta contra o racismo. Disponível para aluguel em plataformas on demand como Now e Youtube.
Debate histórico entre os escritores James Baldwin e William F. Buckley Jr., na Universidade de Cambridge, em torno da pergunta: “O sonho americano é à custa do negro americano?”. Uma parte dele também está no doc Eu Não Sou Seu Negro e pode ser lido na íntegra aqui para quem preferir. Este também foi um debate histórico, com uma fala tão potente quanto humana e elegante que mostra o brilhantismo de Baldwin. Tristemente, vemos que sua análise ainda serve para os dias de hoje.
A cineasta estreante Yance Ford perdeu seu irmão mais velho assassinado aos 24 anos, em 1992. Neste doc, ela conta o que aconteceu com seu irmão e vai desvendando sua história aos poucos, com depoimentos de sua mãe, irmã e amigos do rapaz. Ford consegue manter nossa atenção até os últimos momentos do filme. Disponível no Netflix.
Longa dirigido por Ava DuVernay sobre a luta dos direitos civis foi baseado nas marchas de Selma a Montgomery, em 1965, lideradas por Martin Luther King, Hosea Williams, James Bevel e John Lewis. O filme foi indicado a diversos prêmios no Globo de Ouro e no Oscar em 2015, mas venceu apenas o de melhor canção original. Recentemente, o ator David Oyelowo, que interpretou King, disse que o filme sofreu um boicote pela Academia porque os atores participaram de um protesto contra a morte de um negro americano meses antes da estreia. Ele disse em uma entrevista por video: “Os membros da Academia ligaram para o estúdio dizendo: ‘Como eles ousam fazer isso? Por que eles estão mexendo nessa merda?’ E ‘Não vamos votar nesse filme porque não achamos que é da alçada deles fazer que isso'”. A diretora confirma a história em seu perfil no Twitter.
Mais um trabalho de Ava, este documentário busca mostrar a relação entre o sistema penitenciário e a cultura racista que permeia a sociedade dos Estados Unidos. A 13ª emenda da Constituição americana aboliu oficialmente a escravidão no país e garante a proibição da prática, assim como trabalhos forçados. Todos estão livres desse tipo de prática, menos os condenados, possibilitando que essa população perca seus direitos básicos. Essa brecha na lei permitiu que diversas atrocidades fossem cometidas. O doc traz uma série de informações relevantes e muitos dados que nos ajudam a entender como o sistema funciona, a mentalidade por trás dele e a associação dos negros à criminalidade, em uma pesquisa que levou dois anos.
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O autor, professor e advogado Silvio Almeida parte do conceito do racismo institucional apresentado pela primeira vez nos anos 70 por Kwame Turu e Charles Hamilton, no livro Black Power. O conceito relata que o racismo está infiltrado nas instituições e na cultura e é a partir dessa informação que Silvio apresenta dados estatísticos e discute como o racismo está na estrutura social, política e econômica da nossa sociedade. Também faz parte da série Feminismos Plurais, coordenada por Djamila.
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Uma das vozes mais ativas na luta feminista e anti-racista, a filósofa, escritora e ativista Djamila explica de forma simples e com muitas referências de autores e pensadores o conceito de lugar de fala, termo que tem sido muito ouvido e que de fato precisamos entender o que ele significa e como funciona na prática. A escritora contextualiza o indivíduo tido como universal numa sociedade cisheteropatriarcal e eurocentrada para que seja possível identificarmos as diversas vivências e poder diferenciar os discursos de acordo com a posição social de onde se fala.
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A escritora e arquiteta olha profundamente para a origem e os significados da palavra empoderamento, criada pelo educador Paulo Freire a partir do termo em inglês empowerment. Joice diz, entre outras reflexões, que “o poder só existe de maneira justa quando é coletivo”. Ela coloca de forma clara que ninguém se empodera sozinho e que ele existe como instrumento de luta para criar uma mudança social profunda
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Este foi o primeiro livro de Davis lançado no Brasil e funciona com um pilar do trabalho desta ativista ícone, que defende uma visão interseccional de todas essas bandeiras. Ele traça um panorama crítico entre a luta anticapitalista, a luta feminista, a luta antirracista e a luta antiescravagista. Mais uma leitura indispensável para o entendimento de todos esses temas e como eles convergem. Vale ler também sua autobiografia, que foi traduzida para o português no ano passado, motivo que a trouxe ao Brasil.
(indicação de Angela Brito)
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Obra obrigatória para entender a história do racismo, o livro é resultado de um trabalho de seis anos de pesquisas e observações, que incluíram viagens por 12 países e três continentes, que geraram uma série de três volumes. Este primeiro cobre um período de 250 anos, do primeiro leilão de cativos africanos registrado em Portugal, em 1444, até a morte de Zumbi dos Palmares. Laurentino explica as raízes da escravidão humana na Antiguidade e na própria África antes da chegada dos portugueses, o início do tráfico de cativos para as Américas e suas razões, os números, os bastidores e os lucros do negócio negreiro. Segundo a estilista Angela Brito, é um livro que todos deveriam ler e ela gentilmente nos recomendou em uma conversa.
Os outros dois volumes serão publicados até as vésperas do bicentenário da Independência Brasileira, em 2022.
https://ffw.uol.com.br/noticias/moda/racismo-uma-lista-de-livros-e-...
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