Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Reforma financeira pode 'revolucionar' microcrédito privado na China

Projeto regulariza empréstimos a pequenas empresas, prática muitas vezes ilegal no país.

Centenas de milhares de pequenas empresas chinesas são financiadas por crédito privado, muitas vezes obtido de forma ilícita. Como parte desses empréstimos não se sustentam, o governo da China anunciou um projeto-piloto de novas empresas de financiamento, de microcrédito e capital privado. Será que este pode ser o próximo passo na revolução econômica chinesa?

O financiamento privado – empréstimos que operam fora do sistema bancário estatal – é algo comum na China. Só a cidade de Wenzhou, na província de Zheijang, tem mais de 400 mil pequenas empresas de manufatura, e muitas delas dependeram de capital particular porque os bancos estatais chineses não costumam emprestar dinheiro para empreendimentos iniciantes.

Muitos dos receptores de empréstimos também recorrem a investidores privados em busca de taxas melhores do que as cobradas pelo sistema estatal.

Debaixo dos panos
Zhou de Wen é o líder de uma associação local de pequenas e médias empresas. Ele contou ao programa In Business, da BBC Radio 4, que o total de empréstimos privados em Wenzhou já chegou a cerca de 120 bilhões de yuans (ou R$ 35,8 bilhões). Na província de Zheijang, alcança 1,5 trilhões de yuans, quase a metade do total dos empréstimos privados do país.

O problema com esses empréstimos é que muitos deles são feitos debaixo dos panos, de forma não oficial. De qualquer forma, a linha entre certo e errado é imprecisa.

O governo faz vista grossa para a maior parte do mercado privado de crédito, desde que a taxa de juros cobrada pelos credores não passe do quádruplo da taxa cobrada pelos bancos estatais. Muitos empréstimos, porém, são feito a taxas muito mais altas.

Em Wenzhou, a taxa estatal oficial é de 0,6% ao mês. Já credores privados cobram entre 3% e 6%, para empréstimos que são em geral de até seis meses.

A prática ganhou as manchetes da imprensa chinesa depois que uma empresária de 31 anos, Wu Ying, foi condenada pela Justiça local por 'trapaça financeira' e sentenciada à morte. Há alguns dias, a Suprema Corte anulou a sentença e ordenou um novo julgamento.

Até então, muitos viam Wu Ying como uma das heroínas do novo capitalismo – uma ex-cabeleireira que se tornou uma das mulheres mais ricas do país. Por isso, a sentença inicial – considerada dura para muitos – foi motivo de grande debate.

Prática comum
Longe de ser um crime incomum, a prática de empréstimos privados é a regra em Zheijang, afirma He Gang, da revista econômica Caijing. "A indústria estatal não é muito desenvolvida", diz ele. "Então, muitas pessoas emprestam dinheiro dentro de acordos privados".

Para muitos, esse tipo de empréstimo só trazia benefícios: dava aos empreendedores acesso a capital, que por sua vez financiava novos negócios e garantia uma parcela do boom econômico do país. De seu lado, os investidores recebiam uma taxa de retorno melhor por seu dinheiro.

Mas, com a deterioração do cenário econômico global e seus efeitos na China, o sistema, antes bem engrenado, começou a apresentar falhas. Muitas fábricas começaram a não conseguir pagar seus credores. Alguns fugiram, outros cometeram suicídio, deixando os credores com poucas perspectivas de rever seu dinheiro.

E muitos desses credores são pessoas comuns, que usavam suas economias para emprestar. Muitos dos acordos eram baseados apenas em um aperto de mãos.

A BBC conversou com um investidor privado que disse ter perdido o equivalente a R$ 200 milhões, emprestados a diversos empreendedores imobiliários. Sua ruína veio quando o governo chinês, para conter bolhas, impôs limites ao crescente mercado imobiliário do país, limitando o número de casas que podem estar sob o nome de um mesmo dono. Com isso, muitos empreendimentos novos ficaram sem compradores.

Reformulação
Em meio às perdas, o governo anunciou planos de reformular esse setor da economia, desenvolvendo um projeto-piloto para criar instituições financeiras novas e menores.

O plano começará em Wenzhou e incluirá a criação de bancos de crédito rurais, empresas de microcrédito e, principalmente, um fundo de private equity liderado pelo governo local, para investir em companhias privadas.

Trata-se de algo sem precedentes na China e pode servir de estopim para uma nova fase em seu desenvolvimento econômico. O projeto ocorre pouco depois de o primeiro-ministro Wen Jiabao afirmar, na rádio estatal, que o monopólio dos bancos estatais precisa ser extinto no país.

E o governo não é o único programando mudanças em Wenzhou. Desde maio de 2010, o jovem advogado Yen Yi Pan mantém um website que serve de ponte entre quem quer emprestar e quem quer tomar empréstimos.

"Oferecemos ajuda legal, fazemos contratos, acertamos taxas de juros e provemos algum tipo de garantia", diz Yen. "Dessa forma, ajudamos a regular o mercado".

Zhou de Wen, por sua vez, defende a criação de leis para reforçar essa regulamentação. Ele sustenta que o sistema financeiro deve ser alterado, argumentando que o monopólio de grandes bancos estatais força o crescimento do setor financeiro privado.

"Temos um sistema financeiro irracional, incapaz de corresponder às necessidades do desenvolvimento do país", afirma. "Por isso, você vê muitas crises entre as pequenas e médias empresas. Se o sistema não mudar, a China não poderá ir adiante".

Fonte:http://g1.globo.com

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