Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Restrições indianas aumentam preço do algodão

Fonte:|portugaltextil.com|

A decisão do governo indiano de interromper as exportações de algodão originou reclamações em países produtores de têxteis, como Bangladesh e Paquistão, alegando que os prazos de produção não serão cumpridos.

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Restrições indianas aumentam preço do algodão

No dia 19 de Abril, o governo indiano anunciou a proibição de exportar algodão em cru, cuja exportação ainda não tivesse sido registada. Os responsáveis indianos impuseram ainda limites mensais na quantidade de algodão que poderia ser exportado, mesmo no âmbito de contratos registados, e mantiveram o imposto anteriormente anunciado, sobre as exportações de algodão em cru. Mas Mike Flanagan, director-executivo da Clothesource Sourcing Intelligence, um gabinete de consultoria britânico, acredita que as reivindicações encobrem um aumento nos custos associados à recuperação económica.

O impacto imediato das restrições parece ter sido sentido principalmente fora da Índia, com os preços no país a caírem apenas 3%. A Câmara de Comércio e Indústria Têxtil indiana estimou que apenas cerca de 5 a 6% das exportações vão provavelmente ser efectivamente impedidas de deixar o país, pois a maior parte da colheita actual já foi exportada ou vendida a fiações indianas. Os observadores locais salientam ainda que tudo o que resta é o algodão de baixa qualidade, pouco apto para a produção de vestuário.

Fora da Índia, as restrições já geraram provavelmente mais reivindicações do que problemas efectivos. Apesar dos preços internacionais subirem inicialmente, os preços do algodão em 29 de Abril, em Nova Iorque, tinham efectivamente caído para o valor em que estavam antes da Índia começar a proibição.

Os porta-vozes dos principais países que compram o algodão indiano – Paquistão, China, Bangladesh e Vietname – reagiram com preocupação aos controlos, com o Bangladesh e o Paquistão, em especial, a alegarem que muitas fábricas iam ser incapaz de obter fio suficiente para produzir as peças de vestuário que planeavam expedir nos próximos meses. Mas, de acordo com os indianos, que alegam já não existir algodão útil disponível para exportação, não é a proibição que vai deixar os clientes estrangeiros em falta ao longo dos próximos meses. Será mais propriamente o facto de muitos produtores não se terem salvaguardado para produzir o vestuário com o qual se comprometeram.

Há uma razão para isso. Os preços mundiais do algodão estão actualmente cerca de 80% mais altos do que em Março de 2009 e muitos fabricantes de vestuário adiaram a compra de matérias-primas, na esperança de que os preços diminuíssem. Mas os preços do algodão em Março de 2009 estiveram perto dos mínimos de 40 anos. E a procura mundial de algodão este ano é muito superior à quantidade disponível.

Os produtores de vestuário do Paquistão, Bangladesh e Vietname estão, obviamente, a procurar algodão. Mas vai demorar mais tempo a subcontratar e entregar e os custos adicionais podem ser o menor dos problemas para muitas fábricas.

As histórias assustadoras sobre o “aumento nos preços” do algodão têm que ser contextualizadas. As fábricas indianas, em média, venderam uma t-shirt normal, contendo 140 gramas de algodão, aos clientes europeus em 2009 por 2,83 dólares. Para um fabricante de vestuário, o conteúdo de algodão é agora 0,13 dólares (ou 4,3% do custo médio de venda) superior aos níveis ultra-baixos do ano passado. Em comparação, uma fábrica indiana citando o preço em dólares e sendo paga hoje irá receber cerca de 10% menos (cerca de 0,29 euros por uma t-shirt) do que há um ano atrás, quando convertesse o seu preço em rupias. A valorização da moeda indiana está a atingir os lucros dos produtores de vestuário, pelo menos, duas vezes mais do que os seculares altos e baixos no preço do algodão.

No entanto, o maior problema para os fabricantes de vestuário do Bangladesh e do Paquistão, tem sido as imprevisíveis falhas de energia. Isto tem inflacionado os custos de energia, mas para muitos, os estragos causados pelos cortes de energia nos programas de produção são ainda mais devastadores. Em média, em 2009, as fábricas do Bangladesh expediram, por carga aérea, 3.100 toneladas de peças por mês para a UE – cerca de 7,5% do total das exportações destinadas à Europa. Em Fevereiro deste ano, o caos na produção empurrou o volume de carga aérea fretada para a Europa até às 8.600 toneladas – quase um quinto do total mensal do país. E isto pode ser catastrófico. Relativamente ao transporte via marítima, o custo adicional é cinco vezes maior que o custo inflacionado do algodão.

Mas, o algodão não é a única matéria-prima em falta. Praticamente todos os custos estão a aumentar: a fibra de viscose no Vietname é quase 25% mais cara agora do que no início de 2010 e os preços do petróleo estão em alta. Além disso, as reivindicações dos trabalhadores por salários dignos estão a ficar mais difíceis de sustentar.

Todos os custos incluídos numa peça de vestuário tendem a flutuar e essas flutuações são piores num período de procura crescente do que num período de queda. Para muitas fábricas em todo o mundo, o aumento da procura pode desencadear uma pressão mais prejudicial do que a recessão. E, mesmo as fábricas que não são afectadas pela escassez de matérias-primas, correm o risco de expedir com atraso algumas peças de vestuário de algodão.

Para os compradores, as nuvens da recessão tinham o rebordo prateado da queda dos preços. Mas, na realidade, parece que este rebordo prateado é mais fino do que seria previsível.

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