Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Seminário na Fiesp mostra tamanho do problema e discute soluções

Cristina Carvalho, Patrícia Ribeiro e Graciliano Toni, Agência Indusnet Fiesp

O roubo de carga se tornou tão intenso que afeta a competitividade da indústria. Para discutir os impactos desse tipo de crime, a Fiesp organizou nesta segunda-feira (25 de junho) seminário com a participação de especialistas em prevenção, repressão, proteção e estudo do problema.

Na abertura do evento, Carlos Erane de Aguiar, diretor titular do Departamento de Defesa e Segurança da Fiesp, destacou a importância do tema, “um dos maiores ofensores da infraestrutura nacional e um dos maiores obstáculos” à atividade das empresas. É essencial, afirmou, estudar os gargalos produtivos, ao que a Fiesp se dedica. “Agora há um ralo produtivo”, disse, consequência do elevado valor já alcançado pelo roubo de cargas.

Ele atinge mortalmente a capacidade produtiva do país, envolvendo diversos temas. Não prioridade à segurança nas rodovias, explicou, permitiu o crescimento do roubo de cargas no Brasil, especialmente no eixo Rio-São Paulo. Segundo Aguiar, a Polícia Rodoviária Federal tem papel chave na formulação de políticas de segurança nas estradas.

Há uma série de custos ampliados devido ao roubo de carga, como o aumento do preço do seguro. Isso leva à deterioração do ambiente de negócios. Para não enfrentar esse custo algumas empresas restringem sua área de atuação. Outras mudam suas matrizes ou fecham suas portas, por medo.

Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da Associação Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística (NTC&Logística), disse que em 2017 houve mais de 25.000 roubos no país. Somente sobre as empresas de transporte o prejuízo foi superior a R$ 1,5 bilhão. De cada 5 roubos no país, 2 ocorrem no Rio e 2 em São Paulo, explicou. E 80% deles se dão em área urbana. Nas rodovias os valores envolvidos são maiores. Para as empresas, de 12% a 14% de seu faturamento vai para a segurança.

Legislação deve ter foco no receptador de carga, afirmou. É preciso inibir essa atividade, na qual desaguam os crimes. A lei precisa ser readequada e cumprida. A segunda questão estrutural é a insuficiência da estrutura de resposta ao crime. “Todo nosso esforço tem que ser no sentido de melhoria da legislação e da estrutura de resposta.”

Edson Vismona, presidente do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (Etco), disse que a cada eleição a discussão volta aos mesmos pontos. “É preciso avançar em propostas concretas”, defendeu. Em relação à receptação, que tem estruturas criminais poderosas, é preciso fazer o combate rapidamente. Há leis contra a receptação, mas é preciso saber seus resultados – por exemplo, quantos estabelecimentos foram cassados por vender produtos roubados.

Pediu apoio para medidas em discussão no Congresso para proibir o contingenciamento de recursos para a segurança. Também, disse, é preciso envolver os consumidores, por meio da rastreabilidade. O custo para sua implantação, está provado, não é alto. É preciso transformar as propostas em ações, defendeu.

“O combate precisa ser feita dos dois lados, o de quem rouba e o de quem compra.”

Ouça o boletim de áudio dessa notícia:

Mesa de abertura do seminário “Impacto do roubo de cargas sobre a competitividade da indústria”. Foto: Ayrton Vignola/Fiesp

Eduardo Rebuzzi, presidente da Federação do Transporte de Cargas do Estado do Rio de Janeiro (Fetranscarga), elogiou o projeto de rastreabilidade criado pela Fiesp. O capital de giro obtido pelas quadrilhas de roubo de carga é elevado, destacou. E furos na legislação permitem a rápida volta à atividade tanto de ladrões quanto de receptadores. “Não adianta ter só armas nas ruas. É preciso tecnologia”, disse, citando app desenvolvido no Acelera Fiesp.

José Gonçalves de Lima Neto, diretor geral substituto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), defendeu o investimento na segurança pública, segundo ele muito baixo, de 0,2% do PIB. A Colômbia, disse, aplica 6% do PIB na área, e conseguiu resultados expressivos. “Nós escolhemos o modal rodoviário e devemos defendê-lo”, afirmou, lembrando que há 20 anos não há aumento do efetivo da PRF. Também é preciso que a polícia rodoviária se modernize, defendeu. Há medidas práticas a tomar, como isentar de impostos sobre combustíveis as polícias; ampliar o seguro obrigatório; obrigar todos os veículos a ter rastreadores.

Fundamental, afirmou, é mostrar o trabalho policial e o risco corrido pelos ladrões.

José Roberto de Oliveira, secretário de Segurança Urbana do município de São Paulo, ressaltou que os municípios tradicionalmente ficaram fora da discussão da segurança pública, mas isso tem mudado. Seu papel de polícia administrativa é importante, disse. Deu como exemplo o fechamento temporário em 2017 de um shopping que vendia produtos ilegais. Só que não há meios para fiscalizar tudo. Defendeu a participação das pessoas para mudar o quadro da segurança, por meio da denúncia. No município de São Paulo, disse, é possível usar um aplicativo de celular para isso.

Procarga

Valter Sergio de Abreu, coordenador estadual do Programa de Prevenção, Controle e Repressão a Furto, Roubo, Apropriação Indébita e Receptação de Carga e Valores  (Procarga), destacou a participação do setor privado na iniciativa. Explicou que há 69 núcleos dedicados ao combate ao roubo de carga no Estado de São Paulo.

Diariamente há o transporte de 70.000 cargas no município de São Paulo, 25 milhões por ano. Em 2017, 0,042% sofreu ataque, proporcionalmente baixo, mas que poderia ser visto como problemático do ponto de vista econômico. Esse índice, defendeu, deveria ser usado para a discussão com a indústria de seguro. E as gerenciadoras de risco não são regulamentadas, disse. Muita gente ganha dinheiro com o roubo de carga, afirmou. A dificuldade para definir o roubo de carga prejudica as estatísticas e a análise das ocorrências, explicou.

Os núcleos ganharam novas ferramentas, e o patrulhamento mudou a partir de março de 2015. Também mudou a metodologia de investigação. Passou a ficar online toda a informação sobre prisões de ladrões de carga. Também se adotou o georreferenciamento de roubos e prisões. Por exemplo, é possível mostrar a uma vítima as fotos dos ladrões que agem na região em que houve o crime.

Desde agosto de 2017 “estamos ganhando de forma consecutiva”, disse, explicando que ladrões agem conforme a oportunidade, e que se muda alguma coisa que dificulta o roubo, as ocorrências diminuem. Houve mudança de patrulhamento, que passou a focar ruas, regiões e horários de maior índice de roubos. Nos quatro primeiros meses de 2018 houve queda de 14% nos roubos de carga, afirmou.

Ocorrem no município de São Paulo 56% dos roubos de carga. Em 79% dos roubos no Estado há uso de arma. E alimentos são os produtos mais roubados. Em mais de 70% do crime o valor da carga é de até R$ 30.000. Em 12% das ocorrências o valor é superior a R$ 100.000, que é o alvo do crime organizado. Em 3 anos e meio foram presas no Estado de São Paulo 4.300 pessoas envolvidas em roubos de carga.

Mercados ilícitos

João Henrique Martins, coordenador do Observatório de Mercados Ilícitos do Departamento de Defesa e Segurança da Fiesp, explicou que a atividade ilegal é uma cadeia produtiva que espelha a legal. Em determinado ponto ela degrada a atividade lícita. Trabalha com preços irreais e agrega problemas como violência e incentivo à corrupção.

Roubo e furto se juntam à fraude, falsificação e contrabando. Formam a produção ilícita. No transporte e distribuição há uma grande concentração de recursos.

Romper o círculo de produção de recursos é o desafio. O setor químico sozinho gera R$ 1,7 bilhão por ano para a cadeia ilícita do setor, exemplificou. Em 2016 o mercado ilícito faturou R$ 15,17 bilhões, acompanhando a média anual de 14% de crescimento.

Pesquisa de vitimização feita pela Fiesp mostra que nos 12 meses anteriores 49,8% das empresas entrevistadas sofreram alguma forma de violência. E 36% afirmaram que desistiram de ações empreendedoras (como investimentos) devido à violência. Pagamos, disse, muito por segurança no Brasil, 3,78% do PIB, cabendo ao setor privado 47,9% desse custo.

Houve nos últimos anos avanço no nível operacional e tático, mas não no estratégico. É preciso tornar mais gravosa a atividade criminal. Para isso é necessário alterar a legislação penal, tornar especializada a polícia, mudar o sistema penal, para manter na prisão os operadores de cadeias logísticas e financeira.

Dinâmicas de proteção

Durante o painel “As Dinâmicas do Proteção e dos Eventos de Roubo de Cargas”, o coronel Maurílio Nunes da Conceição, da Polícia Militar do Rio de Janeiro, explicou que existem vários tipos de criminosos. “Os autônomos, os de facção. A finalidade do roubo é a venda dos materiais dentro da própria comunidade, para o comércio informal e comerciantes da região”, revelou.

Para combater essa ação criminosa, o coronel disse que a PM atua em operação conjunta com a Força Nacional e está sempre trabalhando com novas estratégias de operação para inibir esses roubos. “Atuamos na recuperação da carga. Temos que valorizar o trabalho dos policiais militares em todos os Estados do país. A PM é um policiamento preventivo. Fazemos reuniões periódicas para ajustar o processo, trabalho de fiscalização, cerco preventivo e operação em comunidade”, disse.

Ainda segundo informações de Nunes, de janeiro a abril deste ano, em comparação com o mesmo período de 2017, houve redução de 40% de roubo de cargas no Estado do Rio. Além disso, entre agosto e setembro do ano passado, foram recuperados R$ 5 milhões em cargas.

Fábio Barbosa, diretor do grupo de trabalho de prevenção de perdas da Abinee, também participou do painel e contou que a entidade trouxe de fora tecnologia de rastreabilidade de produtos. “Estamos trabalhando nessa tecnologia. Com a anotação do número de série, é possível saber se o produto é roubado no momento em que for escaneado. Isso vai ajudar os fabricantes a ter um rastreamento online desde sua origem”, contou.

“O modus operandi dos criminosos mudou. O nosso modelo precisa mudar. O país precisa do security 4.0. Sair do modo analógico para o digital. Há muitas empresas startups investindo em tecnologia. Nós temos que captá-las”, avaliou.

Já o diretor do Instituto ARC (Auditoria, Risco e Compliance), Nelson Ricardo Fernandes, levantou uma crítica ao apontar que “parece que o roubo de cargas não é um problema, mas um assunto. Se o mercado de seguros não começar a compartilhar a base de dados, vai ter problema, porque a forma do roubo vai mudando”, disse.

Além desse ponto, Fernandes observou também há falta de capital intelectual, tecnologia, normas e procedimentos. “Precisa ser criada solução de longo prazo e de forma integral. As empresas precisam pensar num ciclo mais longo”, finalizou.

O presidente do grupo Macor, Autair Iuga, apresentou a eficácia do uso da escolta armada, que segundo ele atinge até 97%. “Temos limitação de armamento, por isso não atingimos os restantes 3%. A escolta armada é um braço da segurança pública. O Brasil tem a maior frota de escolta armada do mundo”, revelou.

Por fim, o comandante do 3º Batalhão de Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo, Dinael Carlos Martins, disse que a atuação desse grupo é promover ação preventiva. “Nas rodovias, os delitos são cometidos no período noturno. 60% acontecem com os caminhões em movimento, 20% com os caminhões estacionados em postos de combustíveis”, contou.

Não há mais eficiência, segundo Dinael, por falta de informação constante do registro do delito. “Precisa ser criado um sistema de resposta melhor em que a polícia seja acionada mais rapidamente. Sem informação, a polícia não atua”, disse.

Tecnologia

“Não adianta, o consumidor é quem paga a conta final. Temos que fazer algo para acabar com isso”, disse o presidente da Fetranscarga, Eduardo Rebuzzi, durante o painel “Tecnologia disponível para prevenção e resposta a ações criminosas e apoio à logística”. Segundo ele, o impacto do custo dos roubos de cargas recai sobre a população.

Reginaldo Catarino, diretor operacional da Opentech Soluções em Logística e Segurança e diretor de gerenciamento de risco da Associação Brasileira das Empresas de Gerenciamento de Riscos e de Tecnologia de Rastreamento, Monitoramento e Telemetria, questionou a forma como os dados estão alimentando as áreas inteligentes.

“É imprescindível que tenhamos sistemas capazes de identificar as falhas para impedir os roubos. Até porque os bandidos também evoluem nas estratégias das informações”, alertou. Ele explicou que rastreadores estão espalhados pelo caminhão, e mesmo assim são detectadas violações nos sistemas. “Já temos sistema neural e muitos outros para identificar estes sinais”, garantiu.

Para Catarino, é importante, na busca por dados para estudar este cenário, haver eficiência em trabalhar informações e comportamentos para propor um serviço inteligente. “Estamos falando da informação preditiva”.

Já o diretor de Segurança da Souza Cruz e diretor da ASIS Chapter São Paulo, Gustavo Dietz, revelou que a empresa resolveu dar força total à inteligência depois que houve seis óbitos. “Antes gastávamos mais de 60% em força para combater o furto de cargas. Agora, com um novo serviço e várias ferramentas, antecipamos as ações de forma integrada”, enfatiza.

O diretor do Departamento de Defesa e Segurança da Fiesp e diretor presidente da Swint, Carlos Souza, abordou a importância do fator tempo para impedir um roubo. “Lançamos um desafio às empresas de tecnologia para que desenvolvessem uma solução para detectar os roubos de cargas. Quando colocamos dispositivos eficazes que levam tempo para o bandido desativar, conseguimos impedir muitos prejuízos.”

O próximo passo, para o diretor do Departamento de Defesa e Segurança da Fiesp e diretor da Performancelab, Fernando Só e Silva, é a integração dos sistemas. “Temos que usar as estatísticas de forma correta, identificar as falhas e utilizar as informações de forma organizada para ter avanços positivos.”

http://www.fiesp.com.br/noticias/roubo-de-cargas-cria-ralo-produtivo/

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