Sérgio Machado, presidente da Transpetro e que está de licença, vai deixar em definitivo a subsidiária da Petrobras nesta semana que entra. Paulo Roberto Costa, o ex-engenheiro da estatal que fez delação premiada, diz que Machado lhe pagou propina de R$ 500 mil, o que o dirigente nega. O mais espantoso é que a Presidência da Transpetro continuará na cota do PMDB — mais especificamente, de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado. Já chego ao ponto.
Machado bem que tentou se segurar no cargo. Anunciou a disposição de resistir. Mas a coisa fugiu ao controle do próprio governo brasileiro. A PriceWaterhouse Coopers, que audita o balanço da Petrobras, anunciou que se negava até mesmo a analisar os dados da estatal brasileira se o homem continuasse por lá. A empresa é alvo também de uma investigação conduzida pela SEC (Securities and Exchange Commission), órgão que regula o mercado de capitais nos EUA. A razão? Os escândalos de corrupção que vieram à tona com a Operação Lava Jato.
Por quê?
Pois é… Será que o governo brasileiro está mesmo disposto a mudar a governança da Petrobras, de modo que ela deixe de servir aos interesses menores do jogo político? A resposta é “não”! Vejam ali: o cargo de presidente da Transpetro continuará a “ser de Renan”, como é hoje. Machado é um aliado seu.
Como informou o Estadão no dia 11, “empresas contratadas pela Transpetro financiaram a campanha de Renan ao Senado em 2010. A SS Administração e Serviços e a Rio Maguari Serviços e Transporte Rodoviário, que vão construir 20 barcaças destinadas ao transporte de etanol em São Paulo, doaram R$ 400 mil ao PMDB de Alagoas três meses antes de vencerem a concorrência.”
O leitor talvez tenha uma resposta diferente daquela que imagino aqui. Se tiver, é claro que a exporá na área de comentários: por que diabos um senador da República é “dono” do cargo de presidente da Transpetro? Por que essa ala do PMDB faz tanta questão de pôr alguém naquela cadeira? Será por ideologia: “Ah, vamos fazer uma gestão tipicamente peemedebista, de acordo com a nossa convicção”? Será por patriotismo: “Só o grupo político de Renan pode conduzir a Petrobras à glória”? Será pela intimidade de Renan com a área?
O que faz a Transpetro? Eu lhes dou uma ideia, recorrendo à página da empresa na Internet. Prestem atenção: “A Transpetro é hoje a maior processadora brasileira de gás natural e, reconhecidamente, a melhor empresa de transporte e logística de combustível do Brasil. Atua ainda nas operações de importação e exportação de petróleo e derivados, gás e etanol. Com mais de 14 mil quilômetros de oleodutos e gasodutos, 49 terminais e 52 navios-petroleiros, a Transpetro tem o desafio de levar aos mais diferentes pontos do Brasil o combustível que move a economia do País. Suas operações também abastecem indústrias, termelétricas e refinarias, viabilizando a geração de milhões de empregos para os brasileiros. Como subsidiária integral da Petrobras, une as áreas de produção, refino e distribuição do Sistema Petrobras e presta serviço a diversas distribuidoras e à indústria petroquímica. Por isso, a Transpetro, tem atuação nacional, com instalações em 20 das 27 unidades federativas brasileiras.”
Deu para perceber a importância da gigante? Por que Renan Calheiros está especialmente talhado para indicar o substituto de Machado? Com que propósito um partido ou um grupo exige cargos nas estatais brasileiras?
Os tontos ou os de má-fé inferem que a sem-vergonhice que tomou conta a maior estatal brasileira é mero jogo envolvendo financiamento de campanha. É mesmo? Será que Renan tem o “direito” de indicar o presidente da Transpetro só para fazer caixa eleitoral? Assim fosse, diga-se, já seria um crime. Mas isso, obviamente, é conversa para boi dormir.
Encerro com a pergunta que não cala: por que o chefão de um partido político indica o presidente de uma subsidiária da Petrobras? Para fortalecer a doutrina partidária?
Por Reinaldo Azevedo
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