Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Safra recorde de grãos paralisa rodovia que leva ao porto do Paraná e atrapalha vida de caminhoneiros

Enquanto os produtores comemoram a safra recorde, os caminhoneiros - responsáveis pelo escoamento do grande volume de grãos  vindo das fazendas, cooperativas ou empresas intermediárias - defrontam-se com sérios problemas na rodovia BR-277, que leva ao porto de Paranaguá, terminal localizado no município de mesmo nome no litoral paranaense.

Segundo a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), cerca de 154,2 milhões de toneladas de grãos -3,4% a mais que a safra anterior, de 149,2 milhões de toneladas- circularão pelas principais rodovias e portos brasileiros nos próximos dias.

Esta enorme produção de grãos, em sua maior parte, é destinada à exportação. E um dos principais pontos de saída para o mercado externo é o porto de Paranaguá. Terminal que já foi um dos maiores exportadores de café no mundo, atualmente o porto de Paranaguá enfrenta o estrangulamento causado por uma sucessão de safras recordistas sem ter o devido aumento de sua infraestrutura para enfrentar a crescente demanda. Essa realidade é vista como um gargalo para o agronegócio.

 

Em consequência, mais uma vez os motoristas de caminhões graneleiros estão enfrentando filas quilométricas na rodovia BR 277 -algumas deste ano já atingiram 40 quilômetros de extensão, quase a metade da distância entre Curitiba e Paranaguá.

Com a fila de caminhões, surge uma série de problemas. "Caminhão parado é dinheiro que não entra. Mas as contas chegam do mesmo jeito no final do mês", disse ao UOL Notícias o caminhoneiro Antonio Sembalista, 32, de Papanduva (SC),  enquanto aguardava na fila ao longo do acostamento da BR-277. Ele e outros dois caminhoneiros, Antonio Carlos Liebel, 44, de Mafra (SC), e Reginaldo Tabalipa, 38, de Papanduva (SC), compartilhavam a mesma cuia de chimarrão enquanto a fila não andava.

Os três traziam soja e farelo de soja nos seus caminhões, cargas embarcadas em Jataí (GO). Viajam em comboio, para maior segurança, e sempre se comunicam via rádio PX.  "Quando a fila entra num perímetro de 10 quilômetros de distância do porto, o perigo aumenta", afirma Sembalista. "Por estar próximo da cidade, aparecem muitos drogados pedindo um trocado. Se você  não der, eles cortam a sua lona e espalham parte de sua carga  no asfalto." E quando a polícia aparece, o que acontece? "Multam os caminhoneiros por terem sujado  a pista."

 

 

Banheiro no meio do mato

O trio de colegas chegou à fila na altura do quilômetro 26, no início da madrugada. Já se passaram 9 horas e os seus caminhões se encontram parados agora no quilômetro 13. Para driblar a demora, eles contam com a caixa de mantimentos. Cada caminhão tem a sua, além de tonéis de 20 litros de água potável. Assim, cada um cozinha sua própria refeição, geralmente, arroz, feijão e carne. Salada? Muito raramente.

Alguns complementam o cardápio com salame ou queijo. Somente produtos não perecíveis. A maioria dos caminhoneiros não pode arcar com o custo de uma geladeira a bordo. Quando precisam ir ao banheiro, vão para o meio do mato. Banho, só quando estão próximos a algum posto de gasolina.

"Uma vez fui tomar banho num posto próximo de Paranaguá e quando voltei fui assaltado por um indivíduo armado com uma faca", disse Ocimar Vanzo, 49, de São José do Ouro (RS). Ele acabara de entrar na fila de caminhões no quilômetro 23, com 31 toneladas de farelo de soja embarcados em Rio Verde (GO). Na semana anterior, Vanzo recorda que pegou a fila no quilômetro 28 às 8h de quarta-feira  (2) e somente descarregou às 17h30 de quinta-feira (3).

Vanzo atribui as filas de caminhões em Paranaguá à incompetência da administração portuária.  "Há seis anos , na época da safra, acontece esta fila por aqui. E até agora não resolveram este problema."

Caminhoneiro há 22 anos, Vanzo costumava viajar acompanhado de sua mulher. Mas ela não aguentou o ritmo de vida na boléia. Há quatro anos, Elizete Vanzo, na época com 50 anos, morreu de enfarte fulminante enquanto fazia o almoço ao lado do caminhão, parado na fila para descarregar uma carga de adubos (vinda de Paranaguá) em Rio Verde. "Ela simplesmente deu um grito e caiu."

 

 

Desce grãos, sobe adubo

Muitos caminhoneiros aproveitam a descida a Paranaguá com grãos ou farelo para retornar trazendo adubo. Assim ganham na viagem de ida e na de volta. Por isso, quando encontram uma fila, reclamam por estar perdendo tempo parado, enquanto poderiam estar levando o próximo frete.

David Salermo, 40 anos, caminhoneiro há 20 anos, é de Assis Chateaubriand (PR). Era a segunda vez, neste mês, que havia parado na fila da BR-277 rumo ao porto. Na semana passada, parou no quilômetro 36 às 14h da quarta-feira (2). Somente descarregou as 37 toneladas de soja na quinta-feira (3) às 19h.

 "Se não tivesse essa fila, dava para fazer até duas viagens  por semana para cá", reclamou. "No meu ponto de vista falta planejamento, é uma falha administrativa do porto. Todo mundo sabia que esta safra seria recorde. Mas não fizeram nada para dar conta disso e agora ainda temos que perder tempo com o caminhão parado."

Salermo viaja em comboio com outros caminhões, dirigidos por colegas da mesma empresa, Otair José Anholeto Silva, 34, e Lovir Hoffmann da Silva, 43. Todos mantêm o rádio PX na mesma frequência, prontos para dar o alerta em caso de perigo.  A rotina deles na fila não foge à regra. Fazem suas necessidades no mato e banho só de vez em quando. As refeições são feitas junto aos caminhões. Cada um junto à sua caixa de mantimentos, com provisões que duram dois ou três dias.

O caminhoneiro Juliano Correa Tsechuk, 33 anos, de Jardim Alegre (PR), reclama que o porto poderia ter um outro pátio para acolher os caminhões antes do momento para descarregar. " Eles poderiam construir outro, maior, em Paranaguá ou em Curitiba", sugere. É a terceira vez neste ano que enfrenta fila na BR-277.

Ele parou seu caminhão às 23h da noite anterior, ainda no quilômetro 25. No momento em que falou ao UOL Notícias, no final da manhã, estava no quilômetro 13. Se der tempo, pretende retornar levando uma carga de adubo no seu caminhão com capacidade para 37 toneladas.

 

 

FONTE: UOL NOTICIAS

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