Gerry C. Shih
A ideia era simples: um conjunto de 59 barras verticais brancas ou pretas. E os objetivos dos inventores eram igualmente simples: acelerar o processo de pagamento nos caixas de supermercados e oferecer ao varejo uma nova ferramenta para acompanhar seus estoques.
Mas o código de barras se tornou muito mais do que isso desde que foi usado pela primeira vez, especificamente para a leitura do preço de um pacote com 10 gomas de mascar Juicy Fruit, vendido por US$ 0,67 em 26 de junho de 1974. Agora, códigos de barras são usados por passageiros que estão embarcando em aviões e também por pesquisadores que estudam os hábitos de polinização das abelhas. E chegaram até mesmo a servir de inspiração a um videogame, em 1991, chamado Barcode Battler.
O sistema também teve um papel a desempenhar na política, durante a campanha presidencial de 1992, quando George Bush pai, disputando a reeleição contra Bill Clinton, em um evento de campanha teve um momento de completa confusão diante de um recurso que havia se tornado presença tecnológica constante na vida cotidiana dos consumidores.
Hoje em dia, códigos de barras são lidos mais de 10 bilhões de vezes ao dia, para funções de varejo e controle, em todo o mundo. E, depois de 35 anos, se tornaram a um só tempo uma forma de lidar com as minúcias corriqueiras da vida moderna e ícones culturais de eficiência, identificação e controles frios.
"Era um produto barato, e claramente existia a necessidade de que algo semelhante fosse desenvolvido", disse George Laurer, que já era um veterano no departamento de engenharia da IBM, em 1970, quando a empresa lhe conferiu o comando de uma equipe de pesquisa cuja missão seria encontrar uma maneira de acelerar o processo de pagamentos no varejo. "E, além disso, o código de barras é um sistema confiável. Esses três fatores provavelmente contribuíram mais do que qualquer outra coisa para o sucesso dos códigos de barras".
Lauter agora tem 84 anos e está aposentado, mas continua a ser um entusiástico proponente de sua invenção, ainda que ela esteja enfrentando desafios oferecidos por concorrentes muito mais novos e sofisticados, como o sistema de identificação por frequência de rádio, conhecidos como RFID.
O sistema RFID utiliza a mesma tecnologia empregada nos aparelhos que leem passes de pedágio instalados em veículos ou cartões de acesso a edifícios, e permite que empresas identifiquem e acompanhem itens específicos sem que estes precisem passar por leitores em observação aproximada. Mas embora gigantes do comércio e da indústria como as lojas Wal-Mart e a Procter & Gamble estejam investindo pesadamente em tecnologia RFID, o cauteloso setor de varejo, em especial, vem expressando resistência aos novos sistemas, principalmente devido a preocupações quanto a preço.
Os sistemas de códigos de barras, afinal, custam apenas um centavo de dólar por unidade, enquanto as etiquetas eletrônicas utilizadas para identificação RFID custam mais de cinco vezes mais caro. Como resultado, proporção significativa dos fornecedores do Wal-Mart decidiu rejeitar as instruções da empresa para que adotem a nova tecnologia nos produtos que lhe vendem.
"A tecnologia terminou saindo um tanto maculada", disse Bob Sanders, executivo da Motorola que no passado comandou a empresa que desenvolveu o primeiro aparelho portátil de leitura de códigos de barras. Um porta-voz da Wal-Mart, John Simley, reconheceu que "tivemos de encarar a situação com realismo", depois de uma primeira onda de "entusiasmo gerado pela mídia" com relação às virtudes do sistema RIFD, em 2003. Mas ele afirmou que sua empresa havia mantido seus esforços para promover a adoção da tecnologia.
Os códigos de barras não deixaram de evoluir, em um esforço por acompanhar os progressos dos concorrentes. Nos últimos anos, matrizes bidimensionais, que se assemelham a tabuleiros de damas embaralhados e são capazes de portar muito mais informações que os códigos de barras padronizados, começaram a ser utilizadas no Japão, e também conquistaram algum espaço inicial no mercado dos Estados Unidos. Celulares dotados da capacidade de ler esses padrões podem reconhecê-los e exibir em suas telas códigos de barra, os quais por sua vez poderiam ser empregados como substitutos, por exemplo, do passe de embarque em um avião ou do ingresso para um show ou filme.
Laurer recordou que diversas alternativas de projeto foram consideradas pela sua equipe, entre as quais um símbolo circular, antes que a ideia do Código Universal de Produtos, o nome pelo qual o sistema é conhecido hoje em dia, viesse a ser adotada. O código é formado por 30 linhas verticais negras e 29 linhas verticais brancas, usadas para transmitir 12 itens de informação em código binário. Os 12 dígitos assim formados na verdade apontam para nada mais que "um endereço que permite verificar informações" em um banco de dados, de acordo com Laurer.
Quando o formato inicial do sistema foi proposto para avaliação por um comitê oficial de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), em 1972, ele conta, a única recomendação que o painel de especialistas apresentou foi a de que a fonte utilizada para os "legíveis humanos", os números que vêm impressos ao pé do código de barras, fosse alterada para uma nova fonte, que teoricamente em breve passaria ser legível por máquinas e poderia substituir as barras.
"Eles estavam absolutamente certos de que, no máximo em alguns anos, ninguém mais estaria lendo códigos de barras", disse Laurer. "Bem, os fatos demonstraram que estavam errados".
Laurer diz que nem a IBM nem os profissionais envolvidos no desenvolvimento do sistema patentearam os códigos de barras ou seus elementos constituintes, ainda que os grupos industriais que optam por utilizá-lo precisem pagar uma taxa anual mínima a uma organização sem fins lucrativos, a GS 1, para cobrir os custos de gestão e fiscalização dos padrões internacionais.
Sharon Buchanan tinha 31 anos e era caixa no supermercado Marsh, em Troy, Ohio, no dia em que o código de barras fez sua estreia no varejo. Havia um ou dois outros caixas trabalhando naquele dia, mas ela foi escolhida para operar o caixa equipado com o leitor de código de barras, contou Buchanan em entrevista na quinta-feira.
"Fiquei um pouco nervosa, na hora", disse. "Minha preocupação era o que fazer caso o sistema não funcionasse. Havia toda aquela gente lá tirando fotos, câmeras, os repórteres dos jornais locais, muitas pessoas da cidade curiosas quanto ao sistema. Mas tudo funcionou perfeitamente bem. Suponho que tenham sido os meus 15 minutos de fama".
Apesar de toda a animação daquele dia, a adoção dos códigos de barras foi gradual. Durante muitos anos, as empresas se viram prejudicadas pela desconfiança de consumidores que temiam ser trapaceados nos caixas, já que os produtos não portavam etiquetas legíveis de preços.
Naquela época, "os códigos de barras eram vistos como uma forma de sistema de vigilância, com implicações sociais ameaçadoras; era uma atitude que tinha bastante peso", diz T. J. Jackson Lears, historiador da cultura e professor da Universidade Rutgers. Mas, com o surgimento do Google Earth e de sistemas de posicionamento global, "os códigos de barra hoje certamente parecem comparativamente inócuos".
Os códigos de barras "hoje quase chegam a oferecer um certo apelo antiquado, como uma expressão primitiva do impulso de classificar e categorizar que domina o processo de marketing e de vendas em uma sociedade computadorizada", ele acrescenta.
Os códigos de barras, diz, "de certa maneira representam um ícone charmoso e arcaico".
Tradução: Paulo Migliacci ME
The New York Times
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