A indústria da moda sustentável vem crescendo nos últimos anos. Um dos fatores que está favorecendo o seu crescimento são os escândalos recorrentes revelando o envolvimento de grandes corporações do mundo da moda nacionais e internacionais, com trabalho em condições análogas ao trabalho escravo. O Global Slavery Index (Índice Global de Escravatura) é um relatório publicado em 2014 pela Walk Free Fondation, uma organização pelos direitos humanos. Estima-se que 35,8 milhões de pessoas são escravizadas em todo o mundo, e 10 países possuem 70% deste total. O relatório é uma ferramenta dirigida aos cidadãos, às organizações não governamentais, empresas e autoridades públicas, para ajudar a compreender a dimensão do problema e fomentar políticas sólidas para acabar com a escravidão moderna. Os dez países que mais escravizam são Índia, China, Paquistão, Uzbequistão, Rússia, Nigéria, Congo, Indonésia, Bangladesh e Tailândia.
No Brasil, fiscais do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) flagraram trabalhadores em condições degradantes, em oficinas de costura fornecedoras de magazines populares e marcas caras. O Supremo Tribunal Federal (STF) criou a “lista suja” do trabalho escravo, com as empresas que foram flagradas com trabalhadores em regime de semi-escravidão. A lista é considerada pela ONU um modelo de combate à escravidão contemporânea em todo o mundo.
Os escândalos na moda e os boicotes às marcas envolvidas intensificaram o debate em torno da questão. O consumidor está sendo incitado a questionar quem faz as suas roupas e em que condições de trabalho. Mesmo sem se dar conta, você pode estar comprando inúmeros produtos que são produzidos graças à exploração e abuso de seres humanos. Embora seja ilegal empregar crianças, muitas investigações secretas têm mostrado que o trabalho infantil é assustadoramente comum na indústria do vestuário, especialmente na Ásia. Claro que é mais fácil ficar na nossa zona de conforto e fechar os olhos para o que acontece na indústria. O consumo consciente requer educação e informação e cada vez mais consumidores estão refletindo melhor na hora de comprar suas roupas e buscando alternativas de produtos com boa procedência.
Ao comprar um produto da indústria fast-fashion, assumimos a nossa cumplicidade aos possíveis impactos negativos que ela pode trazer ao meio ambiente e aos trabalhadores da cadeia produtiva. A grande variedade de produtos, o grande número de lançamentos e o preço baixo das peças geram custos. Alguém tem que pagar por isso e quem paga o preço mais alto é quem produz, ou seja, os profissionais da indústria de confecção.
Já imaginou comprar roupinhas para o seu filho feitas por mães, crianças e adolescentes que trabalham em regime semi-escravo em condições desumanas? Não, isso não é exagero. Os dados relacionados ao trabalho infantil ainda são alarmantes. De acordo com dados do PNAD, em 2014 havia 554 mil crianças de 5 a 13 anos trabalhando. Esse número é 9,3% maior do que em 2013, quando registrou 506 mil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo OIT, existem no mundo aproximadamente 250 milhões de crianças (idades entre 5 e 14 anos) realizando tarefas de trabalho. Desse total, pelo menos 120 milhões trabalham o dia todo, não frequentam a escola e nem brincam. Quando li estas estatísticas, eu literalmente chorei, ao pensar que a minha filha de dois anos tem tanto amor e atenção, enquanto outras crianças perdem suas infâncias trabalhando e suas mães nem sequer têm a oportunidade de acompanhar o crescimento de seus filhos porque também precisam trabalhar nas mesmas condições.
Como alternativa ao consumo compulsivo do fast-fashion, surgiu o movimento Slow Fashion. Ainda pouco conhecido no Brasil, o conceito vem ganhando os consumidores mais conscientes e promete ganhar espaço na indústria da moda durante os próximos anos. O conceito Slow Fashion está inserido no movimento Slow Living, que é uma abordagem contemporânea de estilo de vida minimalista e mais simples, propondo novos hábitos de vida e de consumo. Viver de uma maneira leve, agradável buscando uma conexão com valores há muito abandonados pelas pessoas, mas que são os que realmente importam. O movimento incentiva a fazer uma coisa de cada vez, da melhor maneira possível, e não o mais rápido possível. Desacelerar é a melhor opção para a nossa saúde e qualidade de vida. No site Review Slow Lifestyle encontramos a definição de movimento Slow Fashion:
“O Slow Fashion não é um conceito que vai e vem, é um movimento de moda sustentável, uma alternativa à produção em massa, que vem ganhando força e veio pra ficar. Foi criado pela inglesa Kate Fletcher, consultora e professora de design sustentável do britânico Centre for Sustainable Fashion, inspirado no movimento Slow Food. Assim como em relação à nossa alimentação, ele incentiva que a gente tenha mais consciência dos produtos que consumimos, retomando a conexão com a maneira em que eles são produzidos e valorizando a diversidade e a riqueza de nossas tradições”.
Várias empresas e designers independentes estão aderindo a esse modelo de negócio, que tem como característica forte uma produção em menor escala de roupas com personalidade e história. A empresa que pratica o Slow Fashion utiliza os métodos tradicionais de fabricação, criando uma história por trás de cada peça de roupa, dando vitalidade o significado para o que vestimos. Essas marcas trabalham de forma transparente, mostrando para o consumidor como são feitos os seus produtos e quem os produz, aproximando consumidor e empresa. Saiba mais sobre o slow fashion no site exemplarid.com.
Os líderes da indústria da moda sustentável têm o objetivo de conscientizar o consumidor sobre o verdadeiro custo da moda produzida em grande escala e seu impacto em todas as fases do processo de produção e consumo. Você pode estar imaginando que isso é muito complicado e que é difícil deixar de comprar roupas nas lojas em que você gosta. Ao contrário do que se pensa, há possibilidade de mudanças neste sentido, se houver comprometimento na criação de um futuro mais sustentável em longo prazo. Atualmente é impossível ser 100% sustentável, mas são pequenas atitudes que vão construindo uma cultura que pode fazer uma grande diferença no futuro.
Você pode achar que as suas ações são insignificantes, mas na verdade, podem fazer uma grande diferença e é melhor do que cruzar os braços e não fazer nada. Para isso nós consumidores temos que pensar, agir e consumir de forma racional e ética, refletindo sobre o impacto de nossas escolhas. Devemos desconfiar de roupas muito baratas, questionar como algumas marcas e lojas de varejo (outlets) conseguem oferecer promoções e preços muito abaixo do mercado. Adquirir o hábito de olhar a etiqueta da roupa antes de comprar, para saber a composição do tecido e o local de fabricação. A banalização do consumo e a publicidade agressiva tiram o poder de raciocínio do consumidor, confundindo e seduzindo a comprar coisas sem critérios. Por isso, antes de comprar, devemos planejar, pesquisar e ir às compras sabendo exatamente o que desejamos comprar, nos mantendo firme em levar apenas o que realmente precisamos, adquirindo produtos de qualidade, mesmo que estes custem um pouco mais caros.
A palavra slow em inglês, significa lento, porém, o sentido da expressão Slow Fashion não é necessariamente esse. O conceito se refere à produção de uma roupa atemporal baseada em um conceito, carregada de significados e referências, com mais qualidade e durabilidade. O Slow privilegia a qualidade e não a quantidade, resgata o valor emocional da roupa,
Como designer de moda, eu sempre me preocupei com as questões éticas e ambientais. Trabalhei alguns anos na indústria de confecção e conheço muito bem o que está por trás dos bastidores. Depois de algum tempo de amadurecimento, fiz minhas escolhas. Comecei a desenvolver um trabalho autoral em 2012, com um atelier de moda feminina. Depois do nascimento da minha filha passei a produzir roupa infantil, fazendo sempre o possível para encaixar o meu trabalho na tendência Slow Fashion. Nem sempre se consegue rastrear toda a matéria-prima utilizada, mas é possível adotar algumas medidas, como utilizar sempre tecidos e aviamentos de fornecedores conhecidos e de preferência nacionais; valorizar a mão-de-obra local, priorizando produção de lotes pequenos com prazos realistas, a fim de garantir a qualidade do produto e não sobrecarregar os profissionais que produzem. Apesar dessas dificuldades, surgem cada vez mais propostas de marcas alternativas de roupas infantis. Além da questão ética, a procedência da roupa que usamos em nossos filhos é de grande importância, para não pôr em risco a saúde das crianças, que são mais sensíveis às substâncias tóxicas presentes em alguns tecidos.
Mas para tomar essas medidas, é preciso estar ciente de que a margem de lucro cai consideravelmente. Não é possível oferecer produtos com atributo de sustentabilidade ambiental, social e trabalhista a preços competitivos e manter altas taxas de lucro. A matemática é bem simples: quem produz com transparência, precisa repassar os custos para o produto, mas não pode elevar muito o preço, para conseguir vender. Por isso que as grandes corporações que priorizam o lucro recorrem à exploração de mão-de-obra barata para conseguir manter preços competitivos no mercado. Por outro lado, os produtos das pequenas empresas acabam sendo um pouco mais elevados do que os produtos de uma empresa que produz em massa. No entanto, a moda sustentável só é mais cara em curto prazo, já que as peças podem durar anos, enquanto as roupas compradas em grandes lojas de varejo mostram-se de qualidade inferior, tendo uma vida útil de poucos meses. As nossas roupas e de nossos filhos, são carregadas de memórias e simbolismos e se forem de boa qualidade podem ter uma vida útil mais longa, passando para os irmãos, primos, ou mesmo sendo doadas.
Com a popularização das lojas de departamento e de roupas importadas, é difícil para quem produz localmente competir. Mas os produtos das pequenas empresas são especiais, originais, feitos de uma maneira mais artesanal e ainda têm uma baixa pegada de carbono, o que significa que não precisaram viajar por quilômetros e quilômetros até chegar à sua mão. Além de tudo isso, quem consome esses produtos pode ficar com a consciência limpa, sabendo que não está sendo cúmplice das más práticas e falta de ética da indústria de moda e ainda está ajudando a preservar o meio-ambiente. É necessário haver uma mudança cultural para que pessoas comecem a aderir à essa tendência. Somos bombardeadas todos os dias por mensagens incessantes de consumismo, mas é interessante considerar uma mudança de hábitos e começar a viver seguindo novos princípios.
Mas não basta ser sustentável e não transmitir isso para os nossos filhos. É necessário que eles saibam e participem da formação do futuro deles desde cedo. Os pais são muito influentes e decisivos na educação das crianças. Sendo assim, é muito importante que nós tenhamos atitudes sustentáveis. Ensinar esses valores importantes sobre consumo consciente e ético e responsabilidade sócio-ambiental fará toda diferença no futuro, tendo em vista a crescente conscientização sobre a necessidade de cuidar do planeta e das pessoas. As crianças são os adultos do futuro então, nada melhor do que educá-las, desde cedo, para que saibam o que é ser um cidadão sustentável.
E você, o que acha que podemos fazer para minimizar o impacto negativo do consumo em nossas vidas? Conta aqui pra gente as suas inquietações, para trocarmos ideias e encontrar soluções. Como educar as nossas crianças para que elas sejam pessoas sustentáveis agora e no futuro?
http://itsagirl.com.br/2015/11/27/slow-fashion-moda-sustentavel-par...
Bem-vindo a
Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI
© 2024 Criado por Textile Industry. Ativado por
Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!
Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI