Um mineiro de descendência francesa e origem pobre, um tecelão, um empresário, um mestre, um aprendiz, um visionário, um líder, um capitalista... Felix Guisard, o principal fundador da Companhia Taubaté Industrial (CTI), pode ser descrito de muitas e diferentes maneiras.
Ele foi um dos mais importantes empresários do setor têxtil brasileiro no início do século XX e, em Taubaté, foi responsável por uma verdadeira transformação da economia, da política e da sociedade local.
A história de sucesso do empresário está reunida agora no livro Felix Guisard: a trajetória de um pioneiro, escrito pela jornalista Cláudia Martins e publicado pela Editora Cabral. Com uma história de vida incrível, marcada por inúmeros desafios e pela realização de sonhos impossíveis, Felix Guisard não tinha, até hoje, sua trajetória publicada na íntegra. “Foi como montar um grande quebra-cabeça”, comenta a autora.
Nascido em 1861, primeiro filho de um casal de imigrantes franceses, Guisard passou por momentos difíceis durante a infância e a adolescência. Aos 17 anos, com a morte do pai dias antes do retorno da família à Europa, Guisard se viu obrigado a assumir o comando de 13 pessoas, entre irmãos, tios, avós e a mãe, Amélie. A única alternativa foi aceitar a proposta de trabalho em uma fábrica de tecidos na Baixada Fluminense.
O jovem Guisard aproveitou essa única oportunidade para crescer. Dedicou-se nas horas vagas ao aprendizado em cada máquina da produção. O esforço rendeu a ele uma promoção e um ano depois já ocupava o cargo de gerente da fábrica. “Eu vejo o Guisard como um exemplo, alguém que não esperou as oportunidades caírem do céu, mas correu atrás dos objetivos. Ele nunca havia trabalhado, nem imaginava trabalhar em fábrica têxtil, mas aproveitou aquela única chance e se dedicou ao máximo, o resultado desse esforço, combinado com outras oportunidades, foi o sucesso dele”, destaca.
Depois de alguns anos de trabalho na fábrica fluminense, Guisard já havia acumulado dinheiro suficiente para montar sua própria fábrica. O encontro com um amigo de infância trouxe o jovem empresário para Taubaté, cidade que ainda colhia os lucros da produção cafeeira. Felix ficou surpreendido com o município e não hesitou em participar da fundação da fábrica, que recebeu o nome de Companhia Taubaté Industrial e que mais tarde ficaria conhecida apenas pelas iniciais - CTI.
O industrial também era conhecido por ser extremamente perseverante. “Ele tinha um lema composto por três palavras: paciência, prudência e perseverança. E realmente fazia jus a ele, não desistia de seus objetivos, ia até o fim. Um exemplo disso foi a construção da usina hidrelétrica em Redenção da Serra, um projeto audacioso e que todos duvidavam que daria certo. Guisard acreditou e conseguiu provar o quanto a geração de energia foi importante para a fábrica e para a região”, explica a autora.
Além de empresário, Guisard também foi vereador e prefeito de Taubaté. Era considerado a pessoa mais influente da cidade e recebia, com frequência, visitas ilustres em seu palacete, na Avenida Tiradentes. Mas não deixava de ser receptivo também com os operários da fábrica: dos mestres aos auxiliares conhecia cada um pelo nome. Por isso, até hoje é lembrado pelos benefícios trabalhistas que concedeu aos funcionários da CTI, como estádio de esportes, colônia de férias em Ubatuba, grupo escolar, atendimento médico, entre outros.
Além das muitas histórias vividas por Felix Guisard e sua família, o livro ajuda o leitor a compreender a própria história de Taubaté e da CTI. “Muitos aspectos históricos passam despercebidos do cotidiano das pessoas e referências simbólicas são necessárias para expressá-los.
Em Taubaté, esse símbolo é Felix Guisard. Ele é a referência mais forte para os taubateanos do significado da modernização da cidade”, salienta Fabio Ricci, historiador econômico e orientador
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