A tragédia causada pelas chuvas intensas sem precedentes no Litoral Norte de São Paulo, e que até a publicação dessa matéria deixou 47 mortos e pelo menos 38 desaparecidos, jogou luz sobre a importância dos serviços de telecomunicações em regiões afetadas por grandes catástrofes. Se por um lado a queda de encostas e deslizamentos de terra derrubou antenas de celular e redes de fibra óptica, deixando os afetados pela tragédia no mais completo escuro comunicacional, por outro equipamentos cedidos pela Agência Nacional de Telecomunicações (a Anatel) estão permitindo localizar vítimas e sobreviventes, inclusive três crianças.
Os equipamentos são chamados de analisadores de espectro, e foram cedidos pela Agência para que as equipes de busca e resgate encontrassem vítimas da tragédia. Os equipamentos, que funcionam em conjunto com uma antena diretiva, captam ondas eletromagnéticas geradas por celulares ligados e a direção de onde vem o sinal. Com essa informação, as equipes podem encontrar os donos dos aparelhos.
Até terça-feira (21), o trabalho conjugado entre as equipes da Anatel e de salvamento permitiu a recuperação de cinco corpos, além do resgate e salvamento de três crianças ainda com vida. Em comunicado enviado ao IT Forum, a Agência diz não ter informações atualizadas dessa quarta (22) pois “a comunicação com os fiscais da Anatel está muito difícil, visto que não há sinal celular disponível nos locais de busca”.
Segundo o órgão regulador, esse tipo de equipamentos é “de uso cotidiano” por parte dos fiscais. O IT Forum apurou que eles são usados pelo menos desde 2013, quando foram comprados em pregão para monitorar frequências e detectar a localização de interferências prejudiciais aos serviços de telecomunicações e radiodifusão. Isso inclui telefonia móvel pessoal (os celulares), comunicações aeronáuticas, transmissões de televisão e de rádios.
O uso em São Sebastião (SP) e outros locais do Litoral Norte do estado afetados pela tragédia das chuvas foi percebido pela Agência assim que as primeiras notícias foram veiculadas, ainda na segunda (20). “Os resultados se traduzem em maior agilidade na localização de vítimas e na preservação de vidas possivelmente ainda existentes”, diz o comunicado.
Esse uso só é possível porque aparelhos celulares ligados tentam se comunicar constantemente com estações de transmissão das operadoras, principalmente quando não há sinal disponível no local – o que é exatamente o caso das áreas afetadas. A sinalização dos locais encontrada é passada para forças de resgate que então usam cães farejadores para certificar que há pessoas nos pontos identificados. As equipes de escavação entram em seguida.
Outro sério problema enfrentado pelas equipes de resgate – além de cidadãos e empresas nas áreas afetadas – é a falta de conectividade, seja fixa ou móvel. O rompimento de fibras e a queda de torres, muitas vezes instaladas nos morros que sofreram deslizamentos, são a principal causa do apagão.
Para resolver o problema temporariamente, o Ministério das Comunicações e a Telebras anunciaram a disponibilização de 10 antenas portáteis para auxílio de comunicação via satélite, além de dois engenheiros que darão suporte e treinamento para uso dos equipamentos. Segundo a assessoria do MiniCom, quatro profissionais chegariam ao município na terça-feira (21).
Cada equipamento tem a capacidade de garantir 20 Mbps de conexão.
O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, ressaltou em comunicado a importância da comunicação para aqueles que atuam trabalhando nas áreas e do esforço conjunto entre Governo Federal, Estadual e dos municípios afetados para atender a população. “As antenas possibilitarão a comunicação das equipes que atuam nas áreas mais isoladas e na desobstrução de estradas, por exemplo”, explicou Juscelino.
Segundo a pasta, os equipamentos funcionam como Terminais Transportáveis Telebras por Satélite (T3SAT), que se conectam à internet por meio do Satélite Geoestacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas (SGDC). Os equipamentos disponibilizados são os mesmos que foram repassados para a apoiar o atendimento no Território Yanomami.
Cada um ocupa uma maleta de 97 cm de altura e 82 cm de largura, com espessura de 32 cm, possibilita uma conexão com taxa de transmissão de 20 Mbps de download de 2 Mbps de upload. Já a antena que acompanha tem 76 cm de diâmetro. O dispositivo tem bateria para uso em períodos de falta de energia, com duração de até oito horas.
O modem que equipa a T3SAT possui Wi-Fi embarcado e podem ser conectados aparelhos celulares e computadores.
https://itforum.com.br/noticias/telecom-chuva-litoral-norte-sao-paulo/
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