A VELHA RENOVAÇÃO
Para reduzir o efeito do mensalão, o PT aposta em nomes novos. Mas a cartilha continua a mesma
O PT foi protagonista dos dois principais eventos políticos deste ano, o julgamento do mensalão e as eleições municipais.
O fato de ter se saído mal no primeiro e bem no segundo levou alguns de seus próceres a uma conclusão equivocada.
No Supremo Tribunal Federal, o partido criado por Luiz Inácio Lula da Silva foi flagrantemente derrotado. Líderes históricos, como José Dirceu e José Genoino, e nomes estratégicos, como o ex-tesoureiro Delúbio Soares – todos condenados por corrupção e formação de quadrilha -, agora preparam o enxoval com que seguirão para a cadeia.
Já nas urnas, o resultado foi outro. O PT elegeu 626 prefeitos no primeiro turno — 14% a mais do que em 2008. E, neste domingo, coroou seu desempenho com a vitória de Fernando Haddad em São Paulo. Com os dois dados nas mãos, Lula apressou-se em concluir que o julgamento do mensalão não atrapalhou o PT. “O povo sabe discernir, sabe o que é um julgamento e o que é uma votação”, declarou. Trata-se de uma meia verdade.
Frescor de pão amanhecido
Para conseguir manter seu crescimento e reduzir os danos do mensalão, o PT investiu em candidatos novos, sem relação com o escândalo – como em São Paulo. Já nos lugares em que insistiu em apostar em velhos nomes ligados aos mensaleiros, o desastre foi inevitável – caso do Recife e de Belo Horizonte.
Dos dezessete candidatos próprios que lançou nas capitais, nove nunca haviam disputado uma eleição para o Executivo. Essa “renovação”, no entanto, tem o frescor de um pãozinho amanhecido. Se os nomes que o PT apresenta ao público são novos, os métodos que ele segue permanecem os mesmos.
Nestas eleições, a face pública do modus operandi da sigla incluiu a contratação de marqueteiros estrelados – como João Santana, responsável pelas últimas campanhas presidenciais -, o uso intensivo da imagem de Lula e Dilma Rousseff (ela bem mais comedida do que ele) e a utilização explícita da máquina do governo para a conquista de apoio.
Em São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy só se dispôs a apoiar seu colega de partido depois de receber o Ministério da Cultura. O mesmo se deu com Gabriel Chalita (PMDB). Quarto colocado no primeiro turno, exigiu (e levou) o compromisso de indicar o futuro secretário da Educação na cidade como condição para apoiar Haddad.
Mas só isso não explica o fato de o PT ser o único partido que cresce sem parar desde a sua criação. “O PT é o partido político mais bem organizado do Brasil. Está em todas as cidades, investe na formação de novos quadros e tem uma proposta clara de poder”, diz o historiador Marco Antonio Villa.
Além disso, ele avança porque:
- Tem estratégia: embora abrigue disputas internas, seu centralismo leninista impõe uma ação externa unitária.
- Recorre sem pudor ao aparelhamento: o uso de cargos e programas do governo federal para beneficiar petistas e aliados garante poder aos seus mandatários e votos aos seus candidatos.
- Conta com apoios setoriais: o governo Lula tentou agradar a todos os públicos. Bancos e empreiteiras foram agraciados com benefícios e se tornaram os maiores doadores de recursos ao partido. Movimentos sociais e ONGs passaram a dominar setores do governo. E os mais pobres ganharam com os programas sociais. Resultado: Dilma herdou um governo em que as principais classes organizadas estão com o PT.
- Seus adversários ajudam: a oposição, em termos de estratégia, segue na direção contrária do PT – é mal estruturada, desunida e desorganizada. Desde o início do julgamento do mensalão, parlamentares oposicionistas praticamente ignoraram a tribuna do Congresso como trincheira de ataque ao PT.
O sucesso de Haddad inspirou o PT a seguir o modelo da renovação de nomes nas próximas eleições. Políticos jovens como Alexandre Padiha e Lindbergh Farias estão sendo preparados para a disputa a governador.
Já na oposição, o setentão José Serra, por exemplo, mesmo que tivesse vencido as eleições em São Paulo, dificilmente disputará mais uma eleição – foram cinco neste século . E não há nomes no horizonte para carregar a bandeira dos tucanos, com exceções como o senador mineiro Aécio Neves, o provável candidato do PSDB à Presidência.
Às umas não mostraram, como gostaria Lula, que o eleitor perdoou o mensalão. Mostraram que uma boa estratégia pode mitigar o desgaste de um escândalo – e garantir a sobrevivência de um partido que hoje se sustenta mais por seus vícios do que pelas virtudes.
O sobe e desce eleitoral do PT
Político em ascensão no partido, próximos a Dilma Rousseff, são preparados para substituir nomes ligados a José Dirceu que foram enterrados nas urnas
SOBE
Ministro da Saúde e neófito em eleições, Alexandre Padilha deve disputar o governo paulista, inspirado no exemplo de Fernando Haddad.
A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, fez uma boa aposta na eleição de Curitiba e se credenciou para disputar o governo do Paraná.
O senador Lindbergh Farias apadrinhou candidaturas vitoriosas no interior do Rio de Janeiro e agora quer disputar o governo do Estado.
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DESCE
Lançado por Lula e Dirceu, o ex-ministro da Saúde Humberto Costa iniciou a disputa no Recife na frente, mas acabou em terceiro.
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Insuflado por José Dirceu, o PT mineiro rompeu a aliança com o PSB para lançar o ex-ministro Patrus Ananias, que nem conseguiu ir ao segundo turno.
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Governador do Piauí por dois mandatos e amigo de Lula e Dirceu, Wellington Dias foi o terceiro lugar na eleição para prefeito de Teresina.
QUE MUDANÇA? -- O cenário e o candidato são novos, mas os métodos do PT são os mesmos eternizados por Lula
REPETIÇÃO -- Serra, o candidato tucano pela quinta vez neste século: a oposição insiste nos mesmos.
Fonte:http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/
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