A continuidade do ciclo de cortes amenizará prejuízos como desemprego, baixa renda e dificuldade de acesso ao crédito, que afetam toda população.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) analisa que a taxa básica de juros, Selic, atualmente em 10,5% ao ano, ainda está em patamar muito alto e atua no sentido de contrair a atividade econômica, pois dificulta o acesso ao crédito e, consequentemente, reduz o crescimento econômico. Os prejuízos são sentidos por toda a sociedade, sobretudo em termos de emprego e renda.
Para a indústria, a continuidade do ciclo de cortes de juros amenizará esses prejuízos sem comprometer o controle da inflação, uma vez que a política monetária continuará bastante contracionista.
“O mais apropriado, neste momento, é manter o ritmo de corte de 0,25 na Selic. A medida contribuirá para mitigar o custo financeiro suportado pelas empresas e pelos consumidores, sem comprometer o combate à inflação”, defende o presidente da CNI, Ricardo Alban.
Mesmo se o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidir por uma redução de 0,25 ponto percentual na Selic, a taxa de juros real (que desconsidera os efeitos da inflação esperada para os próximos 12 meses, que é de 3,62%) ficará em 6,4% ao ano. Isso significa que a taxa de juros real ainda estará 1,9 ponto percentual acima da taxa de juros real neutra – aquela que não estimula nem desestimula a atividade econômica, estimada pelo Banco Central em 4,5%.
Fica evidente, dessa forma, que a política monetária segue em terreno fortemente contracionista.
Os reflexos dessa política monetária ficam claros quando se observa o comportamento da atividade econômica. As previsões apontam que o crescimento do PIB deve ser menos intenso este ano do que foi no ano passado: 2,9% em 2023, contra previsão de 2,08% em 2024, segundo o Relatório Focus.
Além de crescer menos do que em 2023, as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam que o Brasil deve crescer menos do que os demais países em desenvolvimento. Para o FMI, enquanto o PIB brasileiro deve crescer 2,2% em 2024, nos países em desenvolvimento o crescimento do PIB deve ser de 4,2%, em média.
Considerados todos esses malefícios resultantes da taxa de juros elevada, a CNI entende que o atual comportamento da inflação não justifica uma interrupção do ciclo de cortes na Selic, que seria precipitada e inadequada.
Embora a inflação corrente tenha acelerado em maio, assim como as expectativas para 2024 também tenham sido elevadas nas últimas semanas, deve-se frisar que esse movimento ainda é muito recente e, por isso, não configura mudança estrutural no comportamento dos preços
Desde outubro de 2023, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) vinha desacelerando mês após mês, numa clara trajetória descendente. O IPCA acumulado em 12 meses até abril de 2024 foi de 3,7%, bem abaixo do índice acumulado em 12 meses até dezembro de 2023, de 4,6%. Somente em maio último é que o índice acumulado em 12 meses acelerou para 3,9%.
De maneira semelhante, destaca-se que as expectativas de inflação para o fim de 2024 estavam em queda e chegaram a 3,7% em abril. Agora, voltaram a crescer e atingiram 3,96% na publicação do último Relatório Focus, do BCB.
Ainda assim, reforça-se que a expectativa é de que o IPCA de 2024 termine em nível menor que o observado em 2023 e dentro do teto da meta para este ano, de 4,5%.
E esses movimentos recentes podem ser revertidos pela manutenção da taxa de juros real no campo contracionista, mesmo com o corte de 0,25 ponto percentual, o início do processo de redução da taxa de juros nos Estados Unidos, esperado para o segundo semestre, e a evolução das discussões sobre controle de despesas públicas.
Foto: Gilberto Sousa/CNI
Da Agência de Notícias da Indústria
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