Fonte:|escadaedesenvolvimento.wordpress.com|
A exclusão de artigo no texto final da Medida Provisória 482 significou importante conquista para a indústria brasileira. O artigo excluído autorizava o governo a conceder preferências tarifárias aos chamados Países de Menor Desenvolvimento Econômico Relativo (PMDR’s).
Por Aguinaldo Diniz Filho - Presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit)
O ameaçador item havia sido incluído posteriormente no texto original da MP, editado em 10 de fevereiro último, cujo propósito era defender o Brasil quando lesado pelo descumprimento, por terceiros, de obrigações da Organização Mundial do Comércio.
Caso o novo artigo tivesse prevalecido, o Projeto de Lei de Conversão iria configurar-se como grave ameaça à competitividade de vários setores da indústria nacional, pois o executivo seria investido da prerrogativa de abrir o mercado interno, com isenção do imposto de importação a uma infinidade de produtos concorrentes com os nacionais.
Para se ter ideia dos danos intrínsecos à eventual concessão, basta recorrer ao exemplo da indústria têxtil e de confecção, que seria uma das mais atingidas.
Entre as 49 nações classificadas como PMDR’s, estão Bangladesh e Camboja. De 2005 a 2009, as importações setoriais brasileiras provenientes do primeiro cresceram 1.322%, passando de US$ 3,5 milhões para US$ 50,3 milhões.
Entre janeiro e abril, a alta foi de 230% ante mesmo período de 2009. Com isso, os bengaleses consolidaram-se como os segundos maiores fornecedores de roupas ao nosso país, atrás da China. Quanto ao Camboja, a expansão foi de 1.681% no quinquênio (de US$ 498 mil para US$ 8,9 milhões).
As estatísticas evidenciam ser desnecessária, nesse caso, a benevolência de Brasília e dimensionam a gravidade do risco para os fabricantes nacionais.
A isenção tarifária sem limites quantitativos prejudicaria toda a cadeia e não apenas o elo das confecções, considerando que as fiações, tecelagens e malharias teriam seu mercado fortemente atingido.
Mantida a performance registrada nos três primeiros meses de 2010, as importações brasileiras de vestuário provenientes de Bangladesh e Camboja deverão fechar o exercício em US$ 76 milhões.
Segundo critérios técnicos definidos pelo BNDES, esse montante equivale à não criação de pelo menos 40 mil postos de trabalho diretos e indiretos no Brasil.
Os números são claros e mostram que Bangladesh e Camboja representam gravíssima ameaça à indústria têxtil e de confecção nacional. Mesmo enfrentando as tarifas de importação, ambos têm aumentado geometricamente suas vendas ao Brasil, de modo muito preocupante.
A concessão de preferências tarifárias agravaria a situação, em especial no presente cenário, em que a crise levou à queda de importações dos países desenvolvidos, fazendo com que nações exportadoras ataquem mercados aquecidos como o brasileiro.
Felizmente, prevaleceu o bom senso. O artigo da MP 482 colocaria em risco a indústria têxtil e outros segmentos produtivos.
O episódio mostra a importância da sinergia entre o poder político e os interesses maiores da sociedade e do país.
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