Em entrevista concedida ao Meio & Mensagem quando foi homenageado pela Bienal do Rio, em 2013, cartunista e escritor, que morreu nesse último dia 6, comentou que a TV aberta e a imprensa não davam a devida importância aos livros.
Um dos grandes nomes da literatura brasileira, o desenhista, cartunista, chargista, escritor e jornalista Ziraldo Alves Pinto, deixou seu legado para diferentes gerações que acompanharam suas ilustrações e envolveram-se com seus personagens e histórias. Ziraldo, que morreu na tarde de sábado, 6, no Rio de Janeiro, aos 91 anos, foi enterrado nesse domingo, 7, também na capital fluminense. O velório aconteceu no Museu de Arte Moderna (MAM).
A repercussão da morte de Ziraldo entre artistas, políticos, celebridades e personalidades de diferentes áreas dá a dimensão de sua importância para a cultura brasileira.
O “pai” do Menino Maluquinho, o mais conhecido de seus personagens, conseguiu fazer suas mensagens transporem os livros e alcançarem o cinema, teatro, a TV e outros meios.
Mas era na literatura, especificamente, que Ziraldo via boa parte da importância de sua obra. Foi isso que ele deixou claro, em 2013, em entrevista dada ao Meio & Mensagem, um pouco antes de ser homenageado na Bienal do Rio de Janeiro.
“A TV brasileira, como a imprensa, não acredita que o livro seja assunto. Viajo esse Brasil inteiro, porque é preciso transformá-lo em um País de leitores, ou vamos ficar cada vez mais parados no tempo”, disse o escritor, na época.
A respeito da idade, Ziraldo rejeitou a nostalgia e disse que celebrava a importância de “fazer tudo na hora certa”. “Se chegou aos 80 anos e não tem nenhum amigo ou só tem um amigo para chorar, andou bebendo nos botequins errados.”, analisou, com o humor que lhe era característico.
Veja, abaixo, a entrevista dada por Ziraldo em 2013:
Meio & Mensagem — O que o fez dedicar seu talento a obras voltadas às crianças?
Ziraldo Alves Pinto — A resposta. Comecei a escrever livro para criança na época da ditadura. Trabalhava no Pasquim e, quando fechou, fiz um livro para criança, O Menino Maluquinho, que fez muito sucesso. Nem tive tempo de pensar “o que eu vou fazer agora que não tem mais o Pasquim?” Fiz mais um livro e outro e outro. Tenho um prazer grande em fazer, bolar coisas. Sou inventor de moda mesmo.
M&M — Sente saudades de projetos como O Pasquim e a revista Bundas?
Ziraldo — Quando fiz a Bundas, o Pasquim não existia mais. Fiz a revista porque achava que tinha espaço. Tem muito cartunista bom no Brasil, sem espaço para publicar, a não ser a internet, mas não repercute tanto. Revista não tem a penetração da internet, a permanência é maior. Ainda tenho vontade de fazer uma revista, no estilo da Piauí, com o humor como motivo, mas que não seja político, porque se for, fica contra o governo. E revista de humor contra não aguenta, não consegue anúncio. Temos de arranjar um jeito de viabilizar financeiramente, mas estou fora dessa parte (risos).
M&M — O Menino Maluquinho é seu personagem preferido ou há outros que te sejam tão caros quanto?
Ziraldo — O Maluquinho é o filho que mais alegria deu aos pais, mas fiz tantas coisas já, Turma do Pererê; Jeremias, o Bom; Super Mãe; Mineirinho. Já trabalhei demais.
M&M — Ser o homenageado da Bienal do Livro do Rio causa que tipo de impacto?
Ziraldo — É a recompensa pelo caminho que escolhi. Com essa presença desde a Bienal dos anos 1980, que era só em São Paulo, tenho sido um dos campeões de vendas nas feiras. Fiquei muito feliz, mas não surpreendido. Gosto muito da festa, da quantidade de gente na fila. Até faço um programa de televisão, na TVE, que tem baixa audiência. Mas é o único programa da TV aberta que cuida de livro. A TV brasileira, como a imprensa, não acredita que livro seja assunto. Viajo esse Brasil inteiro, porque é preciso transformá-lo em um país de leitores ou vamos ficar cada vez mais parados no tempo.
M&M: Para quem completou 80, você está ótimo [o escritor estava a cinco meses de completar 81 anos na ocasião da entrevista]. Que avaliação faz da vida no espaço de uma resposta de entrevista?
Ziraldo — Tenho muitos amigos do meu tempo. Agora está cheio de oitentões — Zuenir Ventura, Roberto Faria, Paulo Cazé, Sergio Ricardo. Não tem ninguém encostado, é uma plêiade de brasileiros cheia de amor para dar, de tesão à vida. Outro dia, li um artigo do Roberto DaMatta, sobre dois velhos num restaurante, recordando o tempo e, de repente, uma lágrima rola no rosto de um dos velhos. Manda o Roberto DaMatta amolar outro! Imagina se rola lágrima na cara da gente! Deixa de ser besta! Não tem nostalgia, não. Essa turma que mencionei fez tudo que tinha de fazer na hora certa. Se você não fez na hora certa, aí pode rolar uma lágrima. Azar o seu! Quem mandou andar no botequim errado? Se chegou aos 80 anos e não tem nenhum amigo ou só tem um amigo para chorar, andou bebendo nos botequins errados. E agora não tem mais jeito de achar o seu bar.
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