A inovação com origem na China acaba de ser apresentada na revista Nature: já há um tecido com propriedades luminescentes condutoras e flexíveis que pode funcionar como um ecrã têxtil.
O desenvolvimento que promete revolucionar os têxteis e acabar na roupa usada no dia a dia resulta de uma investigação da Universidade de Fudan, em Xangai, e promete ser respirável, capaz de suportar múltiplas lavagens, para além do seu lado eletrónico e inteligente.
Neste desenvolvimento, a equipa “usa um fio eletroluminiscente, que emite luz quando é atravessado por corrente elétrica, e um segundo fio condutor de eletricidade que permite controlar a intensidade da corrente e emitir luz, imagem. E faz isto com base numa tecnologia têxtil convencional que é a tecelagem”, explica ao Expresso Raul Fanqueiro, professor e investigador da Universidade do Minho especialista em têxteis técnicos.
Desta forma, diz, “há milhões de pontos de contacto entre os dois fios o que permite criar pixels e quantos mais houver, maior a qualidade de imagem”.
Recordando que este tipo de investigação já tem mais de uma década e os primeiros avanços na matéria foram apresentados há 15 anos, nos EUA, Raul Fangueiro considera que “a grande vantagem desta nova solução está na flexibilidade, o que permite pensar na adaptabilidade ao vestuário e ao corpo”.
Assim, “é possível pensar em transmitir imagens na roupa que vestimos no dia a dia e isso pode ser usado na vertente moda, mas também, na vertente publicitária”, mas também “é possível avançar na incorporação de sensores ligados à monitorização da saúde na roupa, na monitorização dos atletas a partir do próprio equipamento desportivo ou, simplesmente, pensarmos que está cada vez mais próximo o momento em que teremos algo como o telemóvel incorporado na manga do casaco que vestimos”.
“É um avanço significativo relativamente ao que havia até agora”, admite.
A Europa está a perder a vantagem do I&D
De acordo com a revista Nature, a equipa de investigadores apresentou um bocado de tecido com 6 metros de comprimento e 25 cm de largura que incorpora 500 mil unidades eletroluminescentes, respondendo aos requisitos de resolução de algumas aplicações práticas, num sistema integrado com funções como ecrã, sensores e capacidade de armazenamento de energia.
Assim, o tecido pode transmitir imagens com informação, mas também receber energia e ser recarregado.
Para o presidente da ATP - Associação Têxtil e Vestuário de Portugal, Mário Jorge Machado, o avanço chinês neste novo mundo dos têxteis técnicos é recebido sem surpresas. “O número de patentes da China e dos EUA foi-se aproximando e na verdade isto só vem mais uma vez confirmar, como sempre dissemos, que a inovação está onde está a indústria”. É possível inovar sem indústria, sim, mas não é a mesma coisa porque as oportunidades surgem onde surgem os problemas”, diz o dirigente associativo e empresário que sempre refutou a ideia de que a Europa podia deslocalizar a produção para a China e impor-se apenas pelo lado do conhecimento, da inovação, da investigação e desenvolvimento.
À frente de outra associação têxtil, dedicada à confeção, César Araújo, presidente da ANIVEC, assume que a China “mais do que uma simples fábrica do mundo é já uma fábrica de inovação e vai continuar a avançar neste caminho nos próximos anos, enquanto a Europa parece ficar cada vez mais como um território de incentivo a países terceiros, um bloco cheio de barreiras burocráticas”.
“A Europa não soube equilibrar forças a nível industrial e a velha ideia de que continuaria a liderar pela inovação não faz sentido, como se vê uma vez mais”, conclui.