Lavoura de algodão em Goiás (Foto: Sistema CNA)
O presidente do Conselho Administrativo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel, disse, na quinta-feira (29/4) à Globo Rural que, se as exportações de algodão mantiverem o mesmo ritmo do ano-safra que se encerra em junho, vai haver escassez no mercado interno e o Brasil terá que importar a pluma.
O país é atualmente o segundo maior exportador mundial e deve fechar a safra 2020/2021 com um recorde de 2,33 milhões de toneladas, ante 1,91 milhão na temporada anterior. Só no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Associação Nacional dos Exportadores de Algodão (Anea), foram embarcadas 731,4 mil toneladas, o melhor resultado da história. Nas três primeiras semanas de abril, foram mais 140 mil toneladas.
“Não houve falta de matéria-prima até o momento porque tivemos uma safra muito grande de 3 milhões de toneladas. Mas a nova safra vem bem menor. Se produzirmos 2,6 milhões de toneladas e exportarmos de novo 2,3 milhões, vão faltar cerca de 400 mil toneladas aqui”, afirma Pimentel, admitindo que o mercado interno está estacionado há alguns anos em torno de 700 mil toneladas, mas a meta da Abit é voltar a consumir 1 milhão de toneladas.
Júlio Cézar Busato, presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa), admite que a produção será menor na safra 2021/22, em torno de 2,5 milhões de toneladas, mas diz que só as indústrias sem contratos futuros correm o risco de ter que importar algodão. Segundo ele, a maioria da produção já está comprometida em contratos com tradings que atendem tanto as indústrias brasileiras quanto o mercado asiático. Em suas contas, 75% do algodão que vai ser colhido na próxima safra já foi vendido, assim como 25% a 30% do que ainda será plantado para 2022.
“O produtor fecha contratos lastreando seu custo de produção, que está em torno de 62 centavos de dólar por libra-peso, para garantir o plantio da próxima safra. Por isso, precisa ter o compromisso do comprador”, explica Busato.
Miguel Faus, diretor da Anea, afirma que não existe risco de faltar algodão para a indústria brasileira, mesmo com uma produção menor porque o mercado é regulado pelos contratos futuros. Ele estima que a exportação da próxima safra será reduzida para cerca de 1,8 milhão de toneladas, mas ressalta que esse ainda será o terceiro maior volume de exportações da história.
“Com qualidade e preço, o Brasil conseguiu elevar sua participação no mercado mundial, competindo com o algodão dos Estados Unidos e Austrália, e pode crescer ainda mais.”
Um fator que está impactando o setor têxtil, segundo o presidente do Conselho Administrativo da Abit, é o preço da matéria-prima, que subiu com o aumento da pluma no exterior e a depreciação do real. “A matéria-prima para a indústria teve aumentos próximos de 100% em relação a 12, 14 meses atrás. Essa pressão de custos é violenta e dramática sobre toda a rede de produção e distribuição.”
Ele ressalta que o aumento de preços do algodão é um fenômeno das commodities que não é possível controlar, mas diz que a pressão poderia ser bem atenuada com uma performance melhor da moeda brasileira, que está impactada por crises políticas, discussão de orçamentos e Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI).
No ano passado, em consequência da pandemia, a produção têxtil no país caiu 8%, mas essa queda poderia ter sido ainda maior, diz Pimentel, se não tivesse ocorrido uma recuperação forte no segundo semestre com o crescimento na produção de algodão para atender outros mercados além do vestuário, como cama, mesa e banho, moletons e roupas de malha mais confortáveis para o home office.
Sobre a venda da Hering para o grupo Soma, Pimentel diz que esses movimentos de consolidação são normais, especialmente em momentos de crise como estamos vivendo com a pandemia da Covid-19, mas admite que o negócio representa um cliente a menos para a indústria. “Aumenta, sem dúvida, a tensão sobre os fornecedores. A Hering é uma empresa centenária e tradicional e sua venda gera surpresa, é claro, mas faz parte do business.”
O presidente da Abrapa diz que, além de torcer pela volta do consumo de algodão no Brasil ao patamar de 1 milhão de toneladas, os produtores veem boas oportunidades de ganhar mais espaço no mercado externo, especialmente na China. Nesta semana, a associação assinou um acordo de intenções e cooperação com a China Cotton Association (CCA, na sigla em inglês) para promover a pluma brasileira no país asiático.
“Nossas exportações para a China avançaram de 70 mil toneladas há 5 anos para 634 mil, mas dá para crescer mais porque os chineses importam 2 milhões de toneladas”, afirma Busato. Atualmente, o Brasil exporta cerca de 90% para os países asiáticos e 10% para a Turquia.
O primeiro teste da parceria entre Abrapa e CCA acontece nos dias 17 e 18 de junho, quando os produtores brasileiros participam como apoiadores da 2021 China International Cotton Conference, em Suzhou. A expectativa da Abrapa, que tem parceria com a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) e a Anea, é usar o evento como uma vitrine da qualidade da fibra nacional.
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“Nossas exportações para a China avançaram de 70 mil toneladas há 5 anos para 634 mil, mas dá para crescer mais porque os chineses importam 2 milhões de toneladas”, afirma Busato. Atualmente, o Brasil exporta cerca de 90% para os países asiáticos e 10% para a Turquia.
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