Os desmaios de muitos trabalhadores em diversas unidades de confecção no Cambodja estão a colocar em risco a continuidade das grandes marcas que produzem no país, como a H&M. Um dos problemas a resolver, somado às greves e manifestações de descontentamento dos trabalhadores.
Um a um, os colegas de trabalho de Yan Chornai caíram no chão da fábrica de vestuário na capital do Cambodja, vencidos pelo calor abrasador, turnos longos e o cheiro intenso a químicos. A causa exacta da doença súbita que afectou 300 trabalhadores na fábrica têxtil Hung Wah na semana passada é desconhecida. Os donos da empresa não disseram nada, apesar de dezenas de empregados, como Yan Chornai, estarem a ser tratados no hospital.
«Olhei em volta e toda a gente estava a cair, toda a gente assustada e a chorar», revelou Yan Chornai, de 23 anos, na sua cama de hospital, ligada a uma via intravenosa. Os desmaios na Hung Wah, que produz vestuário para marcas ocidentais como a H&M, não foram incidentes isolados, mas parte de uma crescente tendência nas “sweat shops” que constituem um volume de negócios vital para um dos países mais pobres da Ásia.
Noutra fábrica em Phnom Penh, a King Fashion Garment, cerca de 300 pessoas adoeceram em dois dias no mês passado por razões também elas desconhecidas.
Algumas das grandes marcas lançaram investigações sobre aquilo que as organizações não-governamentais afirmam ser mais de 1.000 desmaios de trabalhadores da indústria de vestuário este ano, devido ao trabalho durante longos turnos, para ganhar salários baixos que ajudam a alimentar centenas de famílias rurais pobres.
Entre as grandes empresas ocidentais com vestuário produzido no Cambodja estão a Marks&Spencer, Tesco, Next e Inditex, o maior retalhista mundial e detentor da Zara. A marca de moda sueca H&M indicou estar neste momento a consultar agências estatais, trabalhadores e inspectores de fábricas independentes para saber o que aconteceu na Hung Wah na semana passada. «A segurança e saúde dos trabalhadores nos nossos fornecedores têm prioridade na H&M. Dessa forma, iniciámos imediatamente as investigações logo que recebemos a informação», afirmou a empresa num e-mail à Reuters.
Sector vital
O aumento dos desmaios este ano é a mais recente num conjunto de dificuldades para uma indústria que cresceu 28% e gerou mais de 3 mil milhões de dólares (2,07 mil milhões de euros) no ano passado, com os seus 300 mil trabalhadores em fábricas detidas, na generalidade, por empresas chinesas e tailandesas.
O sector do vestuário, o terceiro maior do Cambodja, a seguir à agricultura e ao turismo, tem sido afectado por greves e protestos em relação às condições de trabalho e pagamentos, muitos deles resultando em lutas entre os funcionários, a maior parte mulheres, e a polícia, com armas e bastões eléctricos.
Mais de 210 mil trabalhadores de 95 fábricas entraram em greve em Setembro do ano passado devido a pagamentos, seguindo protestos semelhantes na China que levantaram questões sobre se outros centros de produção low cost na Ásia teriam de aumentar salários.
O actual salário mensal para os trabalhadores da indústria de vestuário do Cambodja é de cerca de 65 dólares, um valor que os trabalhadores afirmam ser insuficiente face ao aumento dos preços dos bens alimentares e combustíveis no país. Muitos fazem demasiadas horas extraordinárias ao ponto da exaustão em fábricas sobrepovoadas e mal ventiladas com padrões de segurança baixos e elevada exposição a químicos.
Uma notícia de Abril da Reuters sobre uma série de doenças numa fábrica de produção de calçado, que trabalhava exclusivamente para a Puma levou a marca de desporto alemã a financiar um inquérito independente da Fair Labor Association, sedeada em Washington. Este inquérito concluiu que há «uma forte possibilidade» que os cerca de 104 desmaios num período de dois dias tenham sido causados por exposição a químicos, fraca ventilação e exaustão devido a horas de trabalho excessivas.
Após o relatório, tornado público na semana passada, a Puma tomou medidas, produzindo um plano que limita o tempo de trabalho na Huey Cheun, que emprega 3.400 pessoas, a 60 horas por semana e a duas horas extraordinárias por dia. Também prometeu formação em saúde e segurança no uso e armazenamento de químicos e pessoal médico no local a todas as horas.
Chea Mony, presidente do Free Trade Union, indicou que os responsáveis do governo são os culpados por negligenciar os direitos dos trabalhadores. «Estes ambientes de trabalho não são aceitáveis. Estamos muito preocupados com as condições em todas as fábricas», afirmou Chea Mony. «Todas estas questões estão ligadas à corrupção. Os responsáveis têm de ter recebido favores para permitirem que isto aconteça. Esta é uma preocupação para sindicatos e é prejudicial para os trabalhadores», concluiu.
Fonte:http://www.portugaltextil.com/tabid/63/xmmid/407/xmid/39845/xmview/...
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Mais um exemplo do tipo de concorrência que temos mundo afora.
Só reagem quando são pegos com a "boca na botija".
Lamentável!
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