Já não é de hoje a discussão sobre a falta de incentivo à indústria da moda brasileira. A falta de mão de obra capacitada, a falta de investimento na produção local, os custos de importação que encarecem o produto final e os altíssimos impostos são alguns dos temas que estão na lista de reclamações dos profissionais do setor.
Com a chegada em peso das marcas de luxo estrangeiras ao país, o Brasil se viu em uma enrascada: o produto final brasileiro anda caríssimo e tem recebido comparações aos das grifes internacionais, muitas com mais de um século de expertise e história e com um marketing feroz. A cadeia da moda aqui no país está cansada de lutar por melhorias sem o apoio do governo — lembrando que essa indústria é uma das maiores geradoras de empregos no Brasil.
Por conta disso, no último dia de SPFW Verão 2012/2013, ao final do desfile da Cavalera, muitos estilistas resolveram se juntar para enviar uma mensagem: “Presidenta Dilma, precisamos falar com você! A moda agradece”. A proposta é simples: a indústria, que é a segunda no país que mais gera emprego, quer conversar com a presidenta. A iniciativa surgiu de “muitas discussões e conversas uns com os outros e achamos que tínhamos que conversar todo mundo junto e levar um só recado”, explica Paulo Borges, CEO da Luminosidade, empresa organizadora do SPFW. É a primeira vez que o SPFW realiza um manifesto político, com o objetivo de buscar uma aproximação com o Governo Federal para, em conjunto, formular uma política econômica que torne a moda brasileira ainda mais competitiva. No próximo dia 26, Paulo Borges e estilistas vão se reunir em São Paulo para definir os pontos que irão integrar o manifesto com reivindicações do setor e que deverá ser apresentado à presidente Dilma Rousseff.
Alexandre Herchcovitch: “Precisamos de uma política de incentivo, assim como aconteceu com a redução do IPI do automóvel. Dessa forma a roupa não ficaria tão cara quando chega ao consumidor. Falta atenção à indústria têxtil porque temos que comprar tudo de fora em vez de comprar no Brasil”.
Reinaldo Lourenço: “A gente vai ter que ter um investimento na parte industrial e vamos ter que rever a importação e exportação de tecidos”.
Lino Villaventura: “Na verdade a moda brasileira está precisando de muito mais atenção por parte do governo, tanto do federal quanto dos estaduais. Nós geramos emprego, geramos uma economia forte, temos um grande potencial de exportação e precisamos do apoio do governo para isso. Precisamos de profissionais bem treinados para trabalhar nas nossas fábricas. Precisamos de cursos para isso, para as costureiras, porque sem costureira não existe roupa, não existe nada. O governo vai ter que tomar providências imediatas. Temos que falar com a presidente Dilma para que ela possa tomar alguma atitude em relação à moda brasileira”.
Alberto Hiar: “Eu acho que a gente tem que conversar com toda a indústria da moda. Essas não são medidas que eu posso falar sozinho. A moda tem que se unir e levar uma proposta única. Quanto às medidas concretas, é isso que a gente quer perguntar para ela (Dilma)”.
Marcelo Sommer: “O governo pode ajudar com incentivos e apoios. Assim como é feito com a arte e com a cultura, deve ser feito com a moda também”.
João Pimenta: “Para mim é muito importante olhar para a moda autoral. Os estilistas que querem fazer esse tipo de moda não conseguem comercializar porque fica completamente inviável você pensar em conceito se não tem apoio de nenhum lado. Acho também que a indústria do tecido tinha que se juntar muito mais com a da moda porque fica um espaço muito grande entre a criação e a matéria-prima. A gente quer que evolua a criação, mas a matéria-prima não evolui. No segmento masculino, por exemplo, é quase impossível; ou você compra tecido italiano ou não tem tecido para fazer roupa”.
Paulo Borges: “Primeiro ouvir de todos as necessidades de inovação e transformação no mercado. Qualificação de mão de obra, investimento para que a gente possa ter matérias-primas mais competitivas, analisar as políticas de entrada de matérias-primas criativas para a moda, são várias coisas. Tem também todas as questões de tributos, de logística da moda no Brasil e de como você pode criar um plano de investimento para as empresas que produzem moda criativa. Como é que elas podem ser vistas no governo para que possam ter uma facilitação de investimentos, até para poder competir com o mercado global, que cada vez mais está dentro do Brasil”.
Roberto Davidowicz, fundador da Uma e vice-presidente da ABEST: “Precisamos de uma mudança radical de impostos para o setor. Tem que tirar essa carga tributária. Isso revolucionaria a indústria da moda no Brasil”.
Eduardo Dugois, diretor de marketing da marca Gloria Coelho: “A indústria automotiva emprega menos do que a moda e recebe muito mais benefícios. Importar tecidos complica também a produção das roupas, porque sofremos atrasos na entrega. E claro, uma redução de impostos. A cada R$ 100 que você paga em uma roupa, R$ 54 é só de imposto”.
Fause Haten: “Eu acho que só mostrar essa união já é realmente muito significativo. A moda tem uma força que veio conquistando nesses últimos anos, no sentido de negócio mesmo. Acho que é isso que as pessoas estão querendo mostrar e eu acho super válido. Qualquer passo que vier será sempre bem vindo”.
Samuel Cirnansk: “Eu acho que ela pode achar uma forma de o nosso produto ficar mais competitivo no preço, na qualidade, na tecnologia. Acho que podemos conseguir os tecidos no Brasil para a roupa ser feita aqui também e não fora do país. O governo pode nos ajudar com as importações, dificultando um pouco o mercado externo, para que a gente resolva primeiro o nosso mercado interno e depois abrir as portas. Acho difícil abrir as portas de uma casa bagunçada, as pessoas se aproveitam da bagunça. A gente não se resolveu ainda e se isso não acontecer, vamos ficar para trás. Temos que baixar todos os encargos trabalhistas. É difícil pagar aos nossos empregados, é difícil ter uma empresa. No final não sobra nada para a gente. Nós não precisamos que ela nos dê nada, mas sim que ela nos ajude a continuar o nosso trabalho. Concorrer com países arrumados é muito forte”.
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