Looks de Isolda, Lucas Nascimento, Vitorino Campos, Egrey e Barbara Casasola ©Carla Valois/FFW
O FFW possui um caderno impresso na “ffwMAG!”. Em sua 33ª edição, lançada no dia 19 de março, a revista faz uma homenagem a Regina Guerreiro e traz entrevistas com Nicola Formichetti, atual diretor artístico da Diesel, e Carla Sozzani, fundadora da 10 Corso Como, além de reportagens exclusivas com os estilistas Vitorino Campos, Lucas Nascimento, Barbara Casasola, Eduardo Mahfuz Toldi, da Egrey, e Alessandra e Juliana Affonso Ferreira, da Isolda.
O Brasil passou de promessa para o futuro para ser, enfim, país do presente. Hoje, a linguagem adotada por designers brasileiros, em especial pelos mais jovens, é tão universal que praticamente independe de suas origens ou de onde eles desenvolvem seus produtos. A identidade estética de cada um deles é orgânica, avessa aos clichês e ligada às necessidades cotidianas.
Isso não significa, no entanto, que a memória afetiva seja por eles relegada: a brasilidade é revisitada de modo sutil a partir do uso de cores e estampas, mas, principalmente, por meio da modelagem.
A “ffwMAG!” apresenta nas próximas páginas Barbara Casasola; Lucas Nascimento; Eduardo Mahfuz Toldi, da Egrey; Alessandra Affonso Ferreira, da Isolda; e Vitorino Campos, que, mesmo com experiências de vida muito diferentes, traduzem em suas criações o espírito – e a estética – universal do nosso tempo.
BARBARA CASASOLA
Barbara Casasola em seu estúdio, em Londres ©Retts Wood
Natural de Porto Alegre, formada em Milão, com coleções apresentadas em Paris e residente em Londres. Talvez o convívio com diferentes culturas tenha sido crucial para a construção da identidade de Barbara Casasola, 28, como estilista, mas sua paixão por “fazer roupas” vem desde a infância, quando criava vestidos para suas bonecas com os retalhos doados pela avó costureira. Já adulta, mudou-se para a Europa, onde, após a graduação no Instituto Marangoni, trabalhou na Lanvin e na See by Chloé.
Em 2011, Barbara lançou em São Paulo a marca que leva seu nome e, motivada pelas críticas positivas da imprensa nacional, decidiu arriscar-se em Paris. Apesar das duas coleções já apresentadas na França, ela optou por viver em Londres, que exala uma atmosfera cosmopolita, exatamente como busca atribuir às suas roupas: o uso arquitetônico das cores, a silhueta reta e o comprimento midi são elementos constantes nos vestidos de festa que desenvolve e que considera sua expertise.
Looks da coleção de Outono/Inverno 2013 de Barbara Casasola ©Divulgação
A trajetória quase nômade e a estética de apelo internacional de Barbara, no entanto, não excluem as influências do país em que nasceu, mesmo quando utilizadas de forma sutil. “A mulher brasileira, querendo ou não, é muito sensual e tem conhecimento do próprio corpo. Eu tenho uma afinidade com o corpo feminino que talvez não tivesse se fosse de outra nacionalidade. Se eu criasse no Brasil, talvez não tivesse como comparar, mas convivendo com pessoas de outros locais eu percebo claramente”.
Looks de Primavera/Verão 2013 de Barbara Casasola ©Divulgação
Já o foco comercial de Barbara foi direcionado, nos dois últimos anos, ao mercado internacional. O crescimento no Brasil faz parte dos planos para 2013, mas “sem pressa”, ao que ela adiciona: “Estou vivendo o meu sonho, estou tão feliz. Sou muito grata pelo que consegui até agora”.
EDUARDO MAHFUZ TOLDI, DA EGREY
Eduardo Mahfuz Toldi em seu estúdio, em São Paulo ©Ricardo Toscani
Apesar de ter crescido muito próximo à confecção de tricô de sua mãe, Eduardo Mahfuz Toldi, 26, formou-se em Economia. Após quatro anos no mercado financeiro, decidiu que precisava dar um passo atrás para, mesmo aos poucos, seguir em frente: largou o emprego de “terno e gravata” e retornou à empresa da família, que sob seu comando saiu da beira da falência para um percentual de lucro de mais de 1000%. Em 2011, Eduardo fundou a EGREY, que hoje é vendida em 40 multimarcas em várias partes do Brasil.
Mesmo tendo sido bem recebido pela mídia nacional, Eduardo é bastante direcionado e mostra que tem os pés firmes no chão: “Desfile não é prioridade. Estamos focados no aperfeiçoamento da marca”. A Egrey, aliás, começou produzindo somente peças em tricô e, após as duas primeiras coleções, traz agora itens em outros tecidos, como malha e seda. Já sobre seu processo criativo, Eduardo garante que é “muito orgânico” e que, para ele, as inspirações surgem de seu cotidiano, “desde andar na Rua Augusta” até assistir a um filme de Michelangelo Antonioni.
Looks de Primavera/Verão 2013 da Egrey, marca comandada por Eduardo Mahfuz Toldi ©Divulgação
Sob a influência de Yves Saint Laurent, presente em seu escritório através do livro “Saint Laurent Rive Gauche: Fashion Revolution“, e do amigo Pedro Lourenço, Eduardo confere à Egrey uma estética minimalista e, sobretudo, universal. “Acho que a moda é uma busca de equilíbrio”, comentou quando questionado sobre como transformar a silhueta da mulher brasileira, tão particular, em produtos de potencial internacional. Já a produção no país é algo mais complicado e, nas palavras do próprio Eduardo: “É um grande desafio. [...] Falta mão de obra e a que se encontra é cara; falta matéria-prima de origem natural… Nós temos recursos, porém não são bem explorados, e há também questões tributárias ou de logística”.
Para o futuro próximo, Eduardo quer “expressar o universo criativo inerente à marca” e se “comunicar com o público, seja através do varejo ou da ampliação no atacado”, além de “aumentar o mix de produtos e introduzir o masculino” na Egrey.
ALESSANDRA E JULIANA AFFONSO FERREIRA, DA ISOLDA
Juliana e Alessandra Affonso Ferreira, em São Paulo ©Ricardo Toscani
A Isolda surgiu em Londres em meados de 2011 com a coleção “Macumba Chic”, apresentada por Alessandra Affonso Ferreira, 32, como trabalho de graduação da Chelsea College of Art and Design. Com a ajuda da irmã, Juliana, e da amiga Maya Pope, que depois se tornaram sócias, a marca logo fez seu primeiro desfile em São Paulo. Com o lançamento de “Caju Extravaganza”, em maio de 2012, conquistou ainda mais repercussão no Brasil, virou hit em blogs de moda – nacionais e internacionais – e ganhou as araras do Bon Marché e do Moda Operandi.
Alessandra e Juliana, filhas de mãe inglesa e pai brasileiro, cresceram em Salvador, mas também chegaram a morar rapidamente no Maranhão e no Rio de Janeiro. Durante as férias, passavam meses em Londres e lá foram viver após o fim das respectivas faculdades – a primeira cursou Arquitetura, já a segunda, Jornalismo. Durante o período na Chelsea College of Art and Design, onde estudou Design Têxtil, Alessandra confeccionava bijuterias, em que misturava joias garimpadas em mercados de antiguidades com pedras tipicamente brasileiras; tal atividade foi o embrião para a criação da Isolda, principalmente do ponto de vista estético.
Looks de Primavera/Verão 2013 da Isolda ©Divulgação
Cajus, goiabas, araras, onças e tucanos, todos desenhados a mão e estampados digitalmente, mas sobre peças de modelagem bastante simples: a identidade da Isolda é multicultural, reflexo da mistura de Bahia e Londres. “Sempre gostei destas frutas mais esquisitas, como seriguela e cupuaçu”, comentou Alessandra, que hoje reside em Nova York, enquanto Juliana se mudou para São Paulo e Maya para Madri. A marca traz uma brasilidade fresca, estilizada para afastar os clichês e agradar mulheres de diferentes nacionalidades, e por isso foi convidada a integrar Vendôme Luxury, evento que acontece duas vezes por ano em Paris.
A produção de um e-commerce está nos planos para o futuro próximo da Isolda, que tem seu nome inspirado na bisavó de Alessandra e Juliana, chamada carinhosamente assim pelo marido, o poeta Tristão de Ataíde. Para 2013, no entanto, a pretensão é conquistar espaço em mais multimarcas e manter a memória afetiva ao lado do processo criativo, afinal, “as musas da marca”, segundo as fundadoras, são a avó, a mãe e a tia.
VITORINO CAMPOS
Vitorino Campos em seu estúdio, em Salvador ©Lucas Assis e Paula Reis
Entre a fábrica de uniformes escolares da mãe e o ateliê de costura da tia, Vitorino Campos, 24, se familiarizou desde cedo com aviamentos, linhas e tecidos. Já aos 12 anos, começou a estampar t-shirts básicas e aos 16 abriu a própria loja, que chamou de Tap Rumbeira. Mas, quando entrou na faculdade, onde estudou Design de Moda, não conseguiu conciliar as duas atividades e fechou o negócio. Logo depois, em 2008, fundou a marca que leva seu nome, e que hoje integra o line-up oficial do SPFW.
“A minha roupa é muito simples e é por essa simplicidade que consigo uma linguagem mais abrangente. E acredito que o acabamento é o que a torna universal”, comentou Vitorino quando questionado sobre sua identidade estética, marcada pela escolha de cores e formas sóbrias e pela utilização constante de listras. As listras, aliás, tornaram-se imprescindíveis às suas coleções e ele revelou que até em seu serviço sob medida recorre a elas: “Já fiz inclusive vestido de madrinha de casamento listrado”.
Looks de Outono/Inverno 2013 de Vitorino Campos ©Ag. Fotosite
Quanto às influências de suas origens, Vitorino procura evitar regionalismos clichês: “Eu me inspiro em Salvador, mas não preciso fazer roupas [estampadas] com as casinhas do Pelourinho”. Já sobre técnicas artesanais, quase tudo que produz é costurado a mão, mas não há restrição quanto a matérias-primas, ainda que prefira bases de seda, algodão, linho e outros tecidos naturais.
Com uma equipe de quase 25 pessoas, Vitorino supervisiona toda a produção realizada na fábrica que possui em Salvador: “Chego às 6h30, antes das costureiras, e olho até como a roupa está dobrada na embalagem”. Mas, no momento de criar, somente Meredith Monk e Caetano Veloso o acompanham: “Só consigo desenhar ouvindo música e, no final, ela se torna a base do desenvolvimento da coleção”.
+ Veja a coleção completa de Primavera/Verão 2014 de Vitorino Campos
LUCAS NASCIMENTO
Lucas Nascimento ©Christian von Ameln/Ag. Fotosite
Ninguém na família de Lucas Nascimento, 31, tem ligação com a moda, ao menos não profissionalmente. Ele nasceu em Assis, no interior de São Paulo, mas mudou-se com três anos para Bonito, no Mato Grosso do Sul, onde permaneceu por toda sua adolescência. Após um período como assistente dos stylists Daniel Ueda e Thiago Ferraz, partiu para Londres para aperfeiçoar o inglês e três anos depois entrou para a London College of Fashion, onde se especializou em malharia.
Durante a faculdade, Lucas estagiou com Sid Bryan, expert em tricô e colaborador de Alexander McQueen e Giles Deacon, e atuou como consultor freelancer de malharia para Basso & Brooke, Ellus, Ellus 2nd Flor, Amapô e Neon. Com o incentivo de Paulo Borges, ele fundou a própria marca em 2009, que logo foi inserida no line-up do Fashion Rio, onde se apresentou por três temporadas. “Foi uma situação meio delicada. O Brasil sempre foi acolhedor e me ajudou, mas, por outro lado, morava em Londres e isso fazia com que o processo pós-desfile fosse muito complicado”, justificou sua saída do evento.
Looks de Outono/Inverno 2013 de Lucas Nascimento ©Imaxtree
Após deixar o Fashion Rio, foi convidado a integrar a semana de moda de Londres, onde já se apresenta há quatro temporadas. Com uma logística simplificada, Lucas foi abraçado pela mídia internacional, em especial pela “Vogue” britânica, que o elegeu um dos quatro designers mais promissores da atualidade. A técnica aprendida ainda na infância com sua mãe, o tricô, foi primordial para desenvolver peças de malharia com texturas e formas surpreendentes, que, por sua vez, são a base de sua estética minimalista, mas muito jovial.
Looks de Primavera/Verão 2013 de Lucas Nascimento ©Imaxtree
“A recepção à minha marca no Brasil é maravilhosa, mas fico muito triste de não estar vendendo no país”, comentou Lucas ao ser questionado sobre sua inserção no mercado nacional, um dos planos que tem para o futuro. Apesar disso, ele se diz fortemente ligado ao colorido de suas origens: “Se eu olhasse só para a Inglaterra, as minhas coleções seriam sempre cinzas, ou em preto e branco".
por Carla Valois
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“A recepção à minha marca no Brasil é maravilhosa, mas fico muito triste de não estar vendendo no país”, comentou Lucas ao ser questionado sobre sua inserção no mercado nacional, um dos planos que tem para o futuro. Apesar disso, ele se diz fortemente ligado ao colorido de suas origens: “Se eu olhasse só para a Inglaterra, as minhas coleções seriam sempre cinzas, ou em preto e branco".
Meus parabéns aos jovens estilistas brasileiros.
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